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Antônio Augusto de Queiroz
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Antônio Augusto de Queiroz
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Antônio Augusto de Queiroz
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Política
2/12/2025 8:00
O filme "O Aprendiz", de 2024, - dirigido por Ali Abbassi, cineasta iraniano que vive na Dinamarca e que aprecia temas polêmicos - retrata a relação de mentoria entre o advogado Roy Cohn e o jovem empresário Donald Trump nas décadas de 1970-1980, no qual o advogado, conhecido por sua abordagem agressiva e implacável, aconselha o jovem empresário a seguir três regras na vida, nos negócios e na política:
1) atacar, atacar, atacar: usar estratégia ofensiva, e sempre manter a ofensiva, e nunca a defensiva;
2) nunca admita nada, negue tudo;
3) nunca admita a derrota; não importa se estiver derrotada, declare vitória.
Ter vontade de poder, e o poder é uma conquista forçada e não uma concessão. E, ainda: não ligue para o que pensam de você. Não existe certo ou errado. Não existe moralidade, tudo é uma construção. É essencial, então, fazer guerra de narrativa, por meio do controle da percepção, pois ela supera a realidade.
O filme sugere que as lições passaram a fazer parte do estilo e da personalidade de Trump, que as transformou numa espécie de manual ou guia que segue na relação com a imprensa, oponentes políticos e crises.
A lição 3 - a de que nunca admita a derrota e sempre contra-ataque - é a mais importante e consiste em nunca admitir a derrota, partindo para cima de quem o está derrotando, na tentativa de deixar seu adversário na defensiva. É o famoso ataque, ataque, ataque. Por exemplo, se está perdendo um processo judicial, processe seu oponente por outras razões, pois o fundamental é manter seu adversário sempre na defensiva. O exemplo das tarifas e sanções impostas a diversos governos e países ilustra bem essa estratégia.
A lógica por trás dessa estratégia e seus princípios é de que a percepção de poder é mais importante do que a realidade dos fatos. Mesmo em desvantagem - estando errado e perdendo - a orientação é nunca se desculpar ou recuar. Em lugar disso, deve lançar contra-ataques cada vez mais agressivos para confundir, intimidar e esgotar o oponente. A litigância e a acusação são vistas como armas para prolongar o conflito e forçar um acordo, não para buscar justiça.
A lição de que a percepção é mais importante que a realidade, e de que tudo é uma construção, parte do pressuposto de que a verdade é relativa e, portanto, não é preciso que você diga a verdade, pois ela (a verdade) é o que as pessoas acreditam que seja. Logo, a realidade não importa, o que importa é o que você pode fazer e as pessoas acreditarem. São criadas realidades paralelas e de tanto repetir elas são percebidas como normais, geralmente são aceitas e assumidas para reforçar convicções de pessoas seduzidas por discurso do senso comum, de acusação contra adversários ou da simplificação de problemas complexos. Essa tática, por exemplo, tem sido muito utilizada contra o governo do presidente Lula pelo deputado bolsonarista Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais.
Trata-se de um método de manipulação, segundo o qual o controle da narrativa pública é tudo, porque molda a opinião dos outros. Assim, em lugar de se preocupar com os fatos objetivos, o foco passa a ser criar e vender uma versão da realidade que seja mais vantajosa, usando a mídia, a repetição e a confiança absoluta para que essa versão se torne a verdade e seja aceita pelos incautos. É a mentira e a manipulação como método de convencimento, dentro da máxima de que uma mentira repetida mil vezes vira verdade.
A lição de que o poder não é dado, e sim tomado, recomenda que, uma vez tomado o poder, nunca o devolva. A lógica é de que o poder é uma questão de vontade e de agressão: é preciso ser implacável para conquistá-lo e, uma vez conquistado, defendê-lo com unhas e dentes, sem qualquer hesitação ou cavalheirismo, porque qualquer sinal de fraqueza será explorado pelos inimigos.
Esse método político e empresarial de agir inspira a direita e a extrema-direita no Brasil e no mundo, que ataca lideranças progressistas e instituições que defendem a democracia e o bem-estar coletivo, mesmo esses agentes públicos atuando republicanamente. A tática, neste caso, consiste em acusar pessoas, movimentos e instituições do Estado como as responsáveis pelas mazelas da população, criando um ambiente de desinformação tóxica que leve ao ódio e à intolerância. Trata-se de uma armadilha, acionada com duplo propósito: estressar o ambiente político interno, provocando reações desproporcionais, e, ao mesmo tempo, justificar pressões e sanções externas ao país sob o pretexto de supostos excessos das autoridades brasileiras, como ocorreu recentemente com o Brasil.
Esse movimento não se limita a simples oposição política, ele opera como uma máquina de guerra cultural e psicológica, que se vale de artifício retóricos, como falácias, os quais partem de premissas falsas para chegar a conclusões que em, embora logicamente estruturadas, são profundamente desonestas e mentirosas. As narrativas são construídas não para esclarecer, mas para confundir, e seus autores ainda têm a cara de pau de se apresentarem como defensores da ética e da moralidade.
Conhecer esses métodos é, portanto, o primeiro e mais fundamental passo para que possamos enfrentá-los e derrotá-los. A batalha política do nosso tempo deixou há muito o terreno estrito dos programas e projetos para se travar no campo resvaladio das percepções e das emoções. Neste cenário, os democratas, embora devam reafirmar incansavelmente que a democracia acolhe a diversidade ideológica, não podem compactuar com o obscurantismo nem subestimar o poder destrutivo dessas táticas.
Defender a democracia exige mais do que boa-fé; exige estratégia, unidade e uma comunicação clara e contundente capaz de desmontar, ponto a ponto, as narrativas fraudulentas. A lição final que o manual de Cohn nos deixa, à moda do Príncipe, de Maquiavel, é a de que o poder é uma disputa constante, e onde os princípios e a ética não são relevantes. Cabe aos defensores das instituições aprender essa lição, não para imitar os métodos, mas para desenvolver anticorpos e meios eficazes de proteger o Estado Democrático de Direito, assegurando que a vontade do povo, e não a artimanha de alguns, prevaleça.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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