O deputado estadual Paulo José (PR-AP) criticou a postura do Itamaraty diante da migração de brasileiros do Amapá em direção à Guiana Francesa. Segundo Paulo, a diplomacia do Brasil não tem sido proficiente para minimizar os problemas decorrentes da imigração ilegal.
“Posso afiançar que o Itamaraty tem virado as costas para o problema da migração Amapá-Guiana Francesa. Não há ação efetiva que possa coibir ou ao menos minimizar o problema dos brasileiros”, disse o deputado à Agência Brasil.
Paulo revelou, em entrevista ao enviado especial Alex Rodrigues, que os amapaenses que partem clandestinamente em busca de melhor situação financeira – leia-se euros, a valorizada moeda européia – passam por todo e qualquer tipo de humilhação e dificuldade, sem que o órgão governamental tome providências significativas.
“Além dos danos materiais e físicos, do constrangimento a que os brasileiros são submetidos quando tentam atravessar o Rio Oiapoque, vimos que o fluxo migratório tem estimulado a prostituição, o tráfico de drogas e a infecção por doenças graves”, resignou-se.
Garimpo e prostituição
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Amapá, Paulo foi ao Oiapoque acompanhado por três deputados do estado. O objetivo: apurar denúncias de abusos praticados pelas polícias francesa e guianense contra imigrantes brasileiros que tentaram, pelo Rio Oiapoque, entrar em território francês.
Capital do Amapá, Macapá fica a cerca de 600 quilômetros de carro ou ônibus em direção a Oiapoque. De lá, pegam transportes para cruzar a fronteira marítima e chegar a Saint-George de L’Oyapock (algo como São Jorge do Oiapoque), cidade da Guiana Francesa. De acordo com a reportagem da Agência Brasil, são cerca de 15 minutos de “voadeira”, uma pequena embarcação a motor.
Ainda segundo a matéria, o principal destino dos aventureiros que enfrentam os vários riscos da viagem – uma polícia truculenta, o aliciamento de agentes do crime organizado e as próprias condições inóspitas da região – é o entorno da capital guianense, Caiena. Estima-se que ao menos 40 mil brasileiros vivam no país-colônia, entre maranhenses, paraenses e, em sua maioria, amapaenses. Entretanto, o número pode ser muito maior, uma vez que, na clandestinidade, muitos brasileiros não são “detectados” pelos censos e estatísticas oficiais.
O trabalho informal é a alternativa que sobra para os brasileiros que moram e trabalham na Guiana. Sem documentação ou visto, resta-lhes o garimpo (para os homens), e o trabalho doméstico para as mulheres. Numa perspectiva otimista, registre-se: em muitos casos as mulheres recorrem à prostituição para sobreviver.
Diplomatas
No último dia 12, uma terça-feira, os presidente da França, Nicolas Sarkozy, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fizeram uma visita de Estado à Guiana Francesa. Na ocasião, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente francês, em tom diplomático, prometeu uma Guiana mais “aberta aos brasileiros”. No entanto, ressaltou que os órgãos de segurança seriam implacáveis na luta contra “todos os tipos de tráfico”.
Sarkozy anunciou uma grande operação na região fronteiriça entre Brasil e aquele país, com mil policiais e soldados atuando em conjunto contra a atividade ilegal do garimpo. Por sua vez, Lula informou ao colega que os brasileiros em situação legal no país chegava a 20 mil.
Ao fim do encontro, os dois países se comprometeram, em comunicado conjunto, a lutar contra o garimpo e a pesca ilegais e a intensificar a cooperação policial nas áreas de fronteira. (Fábio Góis)