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Diretor do Cebrap detalha estudo inédito sobre trabalho por aplicativo

Victor Callil destaca importância de amostra representativa para retratar motoristas e entregadores de plataformas digitais.

6/11/2025
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Um estudo inédito trouxe à tona dados sobre o universo do trabalho por aplicativo, ao combinar informações administrativas das plataformas com dados qualitativos. Em entrevista ao Congresso em Foco, o diretor administrativo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Victor Callil, destacou que o diferencial do levantamento é utilizar diretamente os cadastros das plataformas para sorteio de participantes, garantia de uma amostra representativa.

"Nós tentamos construir primeiro uma amostra representativa desse setor. Então, na medida em que a gente tem o universo de trabalhadores, conseguimos sortear uma amostra que é estatisticamente representativa e trazer dados fidedignos."

A pesquisa, apresentada em evento promovido pelo veículo, demonstra um aumento de 35% no número de motoristas e de 18% no de entregadores entre 2022 e 2024. O objetivo é traçar um panorama detalhado sobre quem são essas pessoas e o que buscam.

Impulso ao crescimento

Para Callil, o crescimento se origina de uma série de fatores, em especial, atrativos da profissão, como flexibilidade no trabalho e a remuneração. "Acho que é uma confluência de fatores. Sim, pode haver uma estabilização econômica que viabiliza o engajamento dessas pessoas, mas também há a busca por autonomia, o acesso rápido ao trabalho que os aplicativos proporcionam", afirmou.

Autonomia

Quanto ao contraste entre exigência de benefícios e manutenção da flexibilidade, contra a adoção do trabalho CLT, Callil disse ser inconclusivo analisar somente pela pesquisa. "É uma questão bastante delicada. Uma parte rejeita, outra parte demanda. Não é um caso fechado", afirmou. Essa contradição, segundo o diretor, é típica do Brasil onde cerca de metade do mercado de trabalho é informal.

"Muitas vezes as pessoas que acessam o trabalho por aplicativo já estão numa lógica de trabalho não CLT em outras atividades. A escolha não é entre um emprego com todos os direitos e um aplicativo, mas entre um salário mínimo e uma renda maior, ainda que sem garantias sociais."

O levantamento também traça o perfil desses trabalhadores: em grande parte, pessoas com baixa escolaridade ou ensino médio completo, vindas de ocupações de menor qualificação. "Elas circulam num mercado de trabalho onde a informalidade é muito grande, o que reforça a necessidade de discutir regulamentação", afirmou Callil.

Contribuições à discussão

Para o diretor, o estudo é um instrumento valioso para a formulação de políticas públicas mais realistas: "O poder público pode se apropriar desses dados para entender quem são esses trabalhadores. As demandas estão na pesquisa, seja por ganhos, seja por proteção".

Como afirmou Callil, a pesquisa não tem como objetivo apresentar respostas definitivas, mas fornecer subsídios confiáveis para fomentar o debate. Ao unir embasamento estatístico com escuta qualificada dos trabalhadores, o estudo reforça que é preciso buscar soluções que respeitem tanto a autonomia quanto a necessidade de proteção social.

"Não traz uma saída única, mas contribui com dados e insumos para que se pense o melhor caminho. Um caminho que seja razoável para as três partes envolvidas: governo, trabalhadores e empresas."

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