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Correios anunciam plano de reestruturação com corte de R$ 2 bi

Estratégia busca reverter prejuízos após 12 trimestres negativos e preparar empresa para voltar ao lucro em 2027.

29/12/2025
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Os Correios apresentaram nesta segunda-feira (29) os principais eixos de um plano de reestruturação que prevê cortes expressivos de despesas, alienação de ativos e a redução da rede de atendimento. Entre as medidas anunciadas estão a economia de cerca de R$ 2 bilhões com gastos de pessoal, a venda de imóveis e o encerramento de aproximadamente mil agências, de um total de cerca de 5 mil atualmente em funcionamento.

Uma das frentes centrais da estratégia envolve a implementação de um programa de demissão voluntária (PDV). A expectativa da estatal é reduzir, ao longo de dois anos, cerca de 15 mil postos de trabalho, o que corresponde a uma diminuição aproximada de 18% na folha salarial.

Presidente dos Correios detalhou plano de reestruturação durante coletiva em Brasília. Rafaela Araújo/Folhapress

O plano foi detalhado durante entrevista coletiva concedida em Brasília pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon. Na ocasião, ele afirmou que o atual modelo econômico-financeiro da empresa deixou de ser "viável" e que a reestruturação busca interromper uma sequência de 12 trimestres consecutivos de resultados negativos.

Para reforçar o caixa e reorganizar as finanças, a estatal também prevê a contratação de crédito no valor de R$ 12 bilhões junto a instituições financeiras. Segundo Rondon, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco participarão com R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander aportarão R$ 1,5 bilhão individualmente.

De acordo com a empresa, cerca de R$ 10 bilhões desse montante devem ingressar no caixa até quarta-feira (31), com a liberação do valor restante prevista para janeiro de 2026. A expectativa é que o conjunto de medidas permita a recuperação financeira em 2026 e a retomada do lucro a partir de 2027.

Entre as metas anunciadas estão a redução de R$ 2,1 bilhões nos custos com pessoal, a venda de R$ 1,5 bilhão em imóveis considerados não operacionais, o fechamento de mil pontos de venda deficitários e a reformulação do plano de saúde dos funcionários, com economia estimada em R$ 500 milhões por ano.

Em setembro, ao divulgar o balanço do primeiro semestre de 2025, os Correios registraram prejuízo de R$ 4,3 bilhões, valor significativamente superior ao resultado negativo de R$ 1,3 bilhão apurado no mesmo período de 2024. Rondon alertou que "a rota precisa ser ajustada rapidamente" para evitar um prejuízo estimado em R$ 23 bilhões em 2026.

"Não tem mudança substancial em 2025 que vá afetar este ano. A expectativa é que ainda exista uma leve piora para 2026", afirmou Rondon.

No campo das receitas, a estatal também pretende adotar novas estratégias para ampliar o faturamento. A projeção é alcançar R$ 21 bilhões em 2027. Em 2024, a receita total foi de R$ 18,9 bilhões, abaixo dos R$ 19,2 bilhões registrados em 2023 e dos R$ 19,8 bilhões de 2022.

Até setembro deste ano, a empresa acumulou queda de quase R$ 2 bilhões na receita em comparação com igual período de 2024. O desempenho foi impactado pela implantação do programa Remessa Conforme, criado pelo Ministério da Fazenda em 2023, que passou a tributar em 20% as compras internacionais de até US$ 50, antes isentas. A medida ficou conhecida como "taxa das blusinhas".

Com a mudança na legislação, empresas privadas de transporte passaram a poder realizar a entrega de mercadorias internacionais no território nacional, reduzindo a exclusividade dos Correios na distribuição dessas encomendas.

Além disso, a estatal planeja investir R$ 4,4 bilhões entre 2027 e 2030 com recursos provenientes de um empréstimo junto ao Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, presidido por Dilma Rousseff. Os recursos deverão ser aplicados obrigatoriamente na "automação de centros de tratamento, renovação e descarbonização da frota, modernização da infraestrutura de TI e redesenho da malha logística".

O empréstimo de R$ 12 bilhões, considerado um dos pilares do plano, tem como objetivo principal quitar dívidas e aliviar as restrições de caixa enfrentadas pela empresa. O contrato foi publicado no Diário Oficial da União no sábado (27) e envolve um consórcio formado por Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

O acordo tem vigência até 2040, conta com garantia da União e estabelece carência de três anos, com início dos pagamentos mensais previsto para dezembro de 2029. O financiamento foi autorizado pelo Tesouro Nacional após a apresentação das propostas pelas instituições financeiras. Com a garantia federal, o governo se compromete a assumir as parcelas em caso de inadimplência da estatal.

Durante a coletiva, Rondon não descartou a possibilidade de novas captações, mencionando a chance de buscar outros R$ 8 bilhões no mercado. A ideia inicial, segundo ele, era contratar R$ 20 bilhões, mas o Tesouro não autorizou o valor total devido às taxas de juros propostas.

"O plano de reestruturação foi concebido com uma necessidade declarada de captação de recursos da ordem de R$ 20 bilhões. Então, a gente fez uma primeira rodada com bancos, recebemos oferta dos R$ 20 bilhões, mas uma taxa que a gente entendeu que estava mais elevada do que a gente precisava", afirmou Rondon.

Outro ponto sensível abordado foi o plano de saúde dos funcionários, o Postal Saúde. O presidente dos Correios disse que o modelo atual precisa "ser completamente revisto" devido ao impacto financeiro para a empresa. Ao longo deste ano, a estatal deixou de pagar sua parte nas contribuições, o que resultou na suspensão de atendimentos em algumas redes hospitalares.

"Acho que o plano precisa ser completamente revisto, porque ele é bom pro empregado, mas onera a empresa", afirmou Rondon.

A Postal Saúde enfrenta dificuldades financeiras e, segundo as demonstrações financeiras de 2024 divulgadas pela própria operadora, há risco para a "continuidade operacional". Até o ano passado, o plano atendia cerca de 202 mil beneficiários.

A operadora funciona sob o regime de mantenedor, dependendo diretamente dos repasses dos Correios, o que faz com que a situação econômica da estatal afete sua sustentabilidade. "Observando o atual cenário econômico do mantenedor [Correios], é salutar analisar em contextos gerais a possibilidade de os riscos não serem integralmente garantidos", registrou a Postal Saúde em nota explicativa.

A fragilidade financeira se agravou após a devolução de R$ 221 milhões aos Correios, decorrente de uma transação que não se concretizou. "No caso em questão, a devolução dos valores aportados e dos rendimentos nos moldes estabelecidos traz para a operadora riscos normativos e de continuidade", aponta o relatório.

Atualmente, a Postal Saúde se mantém com recursos transferidos pelos Correios e com as coparticipações pagas pelos funcionários. Em 2024, a operadora destinou aproximadamente R$ 2 bilhões ao custeio de procedimentos médicos.

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