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Aqui "era" o país do futebol

Congresso em Foco

15/11/2007 0:00

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“No fundo deste país,
ao longo das avenidas,
nos campos de terra e grama,
Brasil só é futebol.
Nesses noventa minutos
de emoção e alegria,
esqueço a casa e o trabalho.
A vida fica lá fora,
(...) e tudo fica lá fora.”
(“País do futebol”, Milton
Nascimento e Fernando Brant)

Celso Lungaretti*

É deprimente vermos todas as discussões de temas candentes reduzidas a cifras, à moda do ganancioso e mesquinho homo economicus.
 
Então, os satisfeitos (ou favorecidos) com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil ressaltam que serão estimulados o turismo, os investimentos em infra-estrutura, as parcerias com empresas privadas, a criação de empreendimentos e empregos temporários etc.
 
Já os descontentes alegam que os cofres públicos serão novamente saqueados, repetindo o Pan-Americano de 2007, cujo orçamento de R$ 414 milhões foi excedido em mais de oito vezes, com o custo batendo nos R$ 3,7 bilhões; e que verbas serão desviadas de setores essenciais para a farra futebolística.
 
O mal da segunda posição é que ficará fragilizada se o coro dos contentes provar, na ponta do lápis, que os benefícios de ordem material excederão a conta a ser paga.
 
No entanto, como sempre, essa tediosa dança de números não capta o essencial: o megaevento não passa de poeira colorida jogada nos olhos dos brasileiros.
 
Já vão longe os tempos em que, como dizia o tema composto por Milton Nascimento e Fernando Brant para o filme Tostão, a fera de ouro (1969), as ruas do Brasil ficavam vazias e os estádios lotados nas tardes de domingo.
 
Os motivos vão desde a violência das torcidas até a disponibilização de muitas outras opções de entretenimento, passando pelo agravamento da luta pela sobrevivência.
 
Mas, para aqueles que realmente amam o futebol, o principal motivo é outro: já não existe espetáculo. A tônica passou a ser muita transpiração e quase nenhuma inspiração.
 
Na fase de ouro do futebol brasileiro, nossos grandes craques exibiam aqui mesmo seu talento, preferindo ser bem pagos em casa do que magnificamente pagos no exterior.
 
Um ou outro, como Didi, se deixava seduzir pelo canto das sereias. Mas tínhamos Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Gerson, Tostão, Rivelino e outros que tais enchendo nossos olhos nas tardes de domingo.
 
De 1970 para cá, entretanto, o futebol foi se tornando, cada vez mais, mercadoria. E os interesses econômicos impuseram sua lógica avassaladora, a mesma que outrora relegava o Brasil à condição de exportador de café e importador de produtos industrializados.
 
Com a famigerada Lei Pelé (rendição incondicional ao maior poder de fogo dos grandes clubes estrangeiros), o Brasil hoje não consegue segurar suas revelações nem por uma temporada completa.
 
Rafael Sobis (ex-Internacional), Alexandre Pato (ex-Internacional) e William (ex-Corinthians) foram negociados no instante em que começavam a se afirmar. Já se fala em vender o corintiano Lulinha, promessa que pode até não vingar. E por aí vai.
 
Então, os grandes clubes brasileiros hoje montam seus times com maioria de jogadores limitados e alguns craques veteranos que retornam do exterior após terem virado bagaços, mais os meninos saídos das categorias de base e que são colocados na vitrine para atraírem compradores.
 
Fornecemos a matéria-prima futebolística que será processada lá fora e depois pagamos às redes estrangeiras para receber as imagens do verdadeiro futebol brasileiro: aquele que Ronaldinho e Robinho jogam na Espanha, Kaká na Itália e Diego na Alemanha.
 
De quebra, fica esse péssimo exemplo dado aos brasileiros: o dinheiro compra tudo.
 
O último craque que se dispôs a abrir mão de uma oferta mirabolante em nome de valores mais nobres foi Sócrates, em 1984: durante um comício das Diretas Já no Anhangabaú (SP), o doutor comprometeu-se publicamente a, caso fosse aprovada a emenda Dante de Oliveira, recusar a proposta da Fiorentina e permanecer no Brasil para contribuir na redemocratização.
 
A infâmia dos parlamentares não só nos privou de uma saída da ditadura pela porta da frente, como encerrou a grande fase de um dos nossos supercraques e, sem dúvida, o melhor cidadão  que o futebol brasileiro já projetou.
 
Desde então, o homo eticus foi sendo extinto em nossa terra arrasada. Sobrou apenas o homo economicus.
 
Concluindo: teremos nossa noite de Cinderela durante a Copa, mas a carruagem vai virar abóbora logo em seguida, no Brasileirão – pois, persistindo as tendências atuais, o de 2014 será tão ruim quanto o de 2007.


* Celso Lungaretti, 56 anos, é jornalista em São Paulo, com longa atuação em redações e na área de comunicação corporativa, e escritor. Escreveu Náufrago da utopia (Geração Editorial, 2005). Mais dele em
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/.

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