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Verônica Prates *
Desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, chama a atenção o número de militares ocupando cargos nas mais diversas áreas da administração pública federal. A começar, claro, pela presidência: Jair Bolsonaro é o primeiro presidente de origem militar desde a redemocratização e seu vice, Hamilton Mourão, é general da reserva do Exército brasileiro.
Nos últimos meses, conforme as crises sanitária, econômica e política vêm se entrelaçando e aprofundando no Brasil, a presença militar aumentou, o que não vem passando despercebido. Levantamentos indicam mais de 3 mil militares da ativa e da reserva compõem o Poder Executivo Federal – 33% a mais que na administração de Michel Temer. As notícias normalmente vêm com conotação negativa. Os comentários, com medo.
Por si só, a presença militar no governo é ruim?
Certamente há razões para se questionar a atual distribuição de cargos e o cenário que se constrói na Esplanada dos Ministérios. Dito isso, há muito de preconceito e desdém no que é dito com relação às Forças Armadas, um elevado grau de desconhecimento sobre a maior e uma das mais importantes organizações do país.
Muito pouco se fala, por exemplo, sobre a formação acadêmica ampla e multidisciplinar construída ao longo da carreira de um oficial. A carga horária do Curso de Formação dos oficiais do Exército Brasileiro (EB), para ilustrar, supera a de qualquer outro curso superior. O currículo da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) concilia disciplinas do Ensino Militar Bélico com outras disciplinas de Ensino Superior como Direito, Engenharia Civil, Economia e Finanças, Filosofia e Psicologia.
Para ser habilitado a exercer funções até às do posto de coronel, o militar realiza um curso de aperfeiçoamento, nível mestrado. Cinco anos depois, poderá prestar concurso para os cursos de Comando e Estado-Maior, nível doutorado. Apenas se aprovado, ele estará apto à promoção ao generalato.
Além disso, número expressivo de oficiais realiza também cursos de especialização, mestrado e doutorado em instituições civis. As três Forças têm parcerias com instituições de renome no país, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para além da formação “convencional”, a vivência nacional é incentivada e, de certa forma, facilitada pelo plano de carreira dos oficiais. Normalmente o militar é transferido a cada dois ou três anos. Trata-se de uma oportunidade bastante singular de conhecer com razoável profundidade a realidade das diversas regiões do país.
Também têm a oportunidade, ao longo da carreira, de exercitar funções de gestão de equipes multidisciplinares, não só com militares de outras forças, como com representantes de diversos setores governamentais e da sociedade civil. Aprende e exercita o comando ao longo de toda sua vida profissional, desde as pequenas frações até as grandes e complexas organizações de milhares de pessoas dispersas pelo país. São experiências e habilidades desenvolvidas que não raro são aproveitadas em posições no setor privado.