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Congresso em Foco
23/11/2019 20:47
Eichmann, segundo ela, era um burocrata. Ele só cumpria ordens sem qualquer reflexão sobre os atos que cometia. Tanto não tinha consciência que se declarou inocente durante o julgamento: "Com o assassinato dos judeus não tive nada a ver. Nunca matei um judeu. Nunca matei um ser humano". Declaração que sustentou até a hora da sua execução: "[...] Foi exigido de mim obedecer às leis da guerra e da minha bandeira. Eu estou preparado".
À época, a pensadora escreveu: "Ele parecia acreditar que, atrás da escrivaninha, suas mãos estariam limpas". Transpondo para a realidade de hoje, seria: "Ele parecia acreditar que, atrás da tela, suas mãos estariam limpas". Tantos casos de linchamento virtual fomentados por notícias falsas são provas de que pessoas comuns acabam vendo o mal como algo normal. Ou melhor, o mal como algo banal que se pratica seja para sustentar uma ideologia ou por dever, assim como fez Adolf Eichmann, sem medir as consequências.
Esse mecanismo transforma em normal o que a história já mostrou: até onde a maldade pode levar a humanidade e os estragos que um Estado totalitário pode causar numa sociedade. Com o ressurgimento de velhas ideologias de ódio e discriminação das minorias - que a extrema-direita, sobretudo, ressuscita - a mensagem de Hannah Arendt se torna ainda mais importante.
A monstruosidade não está na pessoa, está no sistema que banaliza o mal. Assim como faz a militância virtual bolsonarista, recentemente desmascarada em reportagem da revista Crusoé.
Não se trata apenas de um grupo de pessoas que se identifica com a linha de pensamento do presidente Jair Bolsonaro, mas de todo um sistema que permite que parte dessa militância esteja instalada em cargos públicos pelo Brasil, remunerada pelo erário. O próprio Estado sustenta uma máquina de fake news, que alimenta o discurso de ódio e insufla ainda mais os ânimos entre esquerdistas e bolsonaristas.
Homens banais como Eichmann podem influenciar o resultado de eleições, acabar com reputações, destruir vidas e, em casos mais extremos, matar inocentes, como fizeram os moradores do bairro Morrinhos, no Guarujá.
*Diana Leiko é jornalista
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