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Jefferson acusa PT de pagar mesada a deputados

28/6/2005
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Acusado de comandar um esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), decidiu cair atirando. Alvo de novas denúncias publicadas pelas revistas Veja e Época no último fim de semana, Jefferson pode ter reduzido a pó as pretensões do governo de abafar a CPI dos Correios com a entrevista divulgada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo.Nela, o deputado acusa o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de pagar uma mesada – chamada por Jefferson de “mensalão” – de R$ 30 mil a parlamentares do PP e do PL, em troca de apoio nas votações de interesse do governo no Congresso. O PTB, de acordo com o presidente do partido, recusou a oferta feita pelo petista. O “mensalão”, segundo ele, teria sido pago até janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tomado conhecimento do caso, por iniciativa do próprio petebista.“Presidente (Lula), o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira. Ele continua dando ‘mensalão’ aos deputados. ‘Que mensalão?’. Jefferson explicou. ‘O presidente chorou.’ E depois da conversa com Lula? ‘Tenho notícia de que a fonte secou. A insatisfação está brutal (na base aliada) porque a mesada acabou’, disse o deputado à Folha. A suspensão da mesada seria o principal motivo das dificuldades enfrentadas pelo governo na Câmara.“Toda a pressão que recebi neste governo, como presidente do PTB, por dinheiro, foi em função desse ‘mensalão’, que contaminou a base parlamentar. Tudo o que você está vendo aí nessa queda-de-braço é que o ‘mensalão’ tem que passar para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Essa paralisia resulta da maldição que é o ‘mensalão’”, completa o presidente do PTB.Na entrevista, Jefferson ainda afirma que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, tinha conhecimento da prática desde o início de 2004. “Fui ao ministro Zé Dirceu, ainda no início de 2004, e contei: ‘Está havendo essa história de mensalão. Alguns deputados do PTB estão me cobrando. E eu não vou pegar. Não tem jeito’. O Zé deu um soco na mesa: ‘O Delúbio está errado. Isso não pode acontecer. Eu falei para não fazer’. Eu pensei: vai acabar. Mas continuou.”Roberto Jefferson garante estar arrependido de ter retirado a assinatura do pedido de criação da CPI dos Correios. Na entrevista à Folha, o deputado afirma que as apurações da comissão parlamentar de inquérito são fundamentais para a sua imagem e a do seu partido. "Sim. Eu preciso (da CPI). Eu errei. Eu não deveria ter recuado, não deveria ter recuado."As declarações do deputado vão tornar ainda mais delicada a operação traçada pelo governo para barrar a CPI dos Correios. Elas também devem alimentar a estratégia do PFL e do PSDB de instalar uma outra CPI apenas no Senado, onde o governo não dispõe de maioria. A temperatura política em Brasília deve alcançar esta semana um dos mais altos índices dos últimos anos. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara deve analisar amanhã o parecer do relator, deputado Inaldo Leitão (PL-PB), ao recurso apresentado pelo vice-líder do governo no Congresso, João Leão (PL-BA), contra o requerimento que criou a comissão parlamentar de inquérito.O argumento do governista é de que o pedido é genérico e não se atém a fato determinado, por também fazer referência a denúncia de corrupção em outras estatais. Mesmo que consiga convencer a CCJ a declarar a inconstitucionalidade do requerimento da oposição, o governo terá de ganhar a disputa no plenário da Câmara.

“Gente de segunda”Ainda na entrevista à Folha, o presidente do PTB revela uma profunda mágoa com o PT. O deputado acusa o partido de não cumprir acordo com os aliados e de tratar o PTB como “gente de segunda (classe)”. “Eu sempre disse aos meus companheiros, e eles são testemunhas desde o início, o PT não tem coração, só tem cabeça. Ele nos usa como uma amante e tem vergonha de aparecer conosco à luz do dia. Nós somos para o PT gente de segunda, eu sempre me senti assim. A relação sempre foi a pior possível.”“A Veja falou que sou o homem-bomba. E o que você faz com a bomba? Ou desativa ou faz explodir. Estou percebendo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido”, disse Roberto Jefferson à Folha.Há um mês o deputado, que foi líder da chamada tropa-de-choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello no Congresso, não sai do noticiário nacional. De acordo com a última edição da revista Época, Jefferson usa o sorveteiro Durval da Silva Monteiro como “laranja” de seus negócios no Rio. O ex-motorista e ex-segurança do petebista é sócio de duas emissoras de rádio no litoral fluminense, que lhe teriam sido dadas pelo deputado. Durval diz que, em dez anos, nunca recebeu um tostão das emissoras.A revista Veja que chegou às bancas no último fim de semana reproduz a gravação feita com o ex-presidente do IRB, Lídio Duarte, em que ele afirma que cada indicado pelo PTB para cargos em estatais tem de contribuir com R$ 400 mil para o partido. A denúncia havia sido publicada há duas semanas, mas sem a divulgação da fonte. Em depoimento à Polícia Federal, Duarte negou que tivesse conhecimento do esquema, que teria, segundo a revista, sido o estopim de sua saída da autarquia. Após o desmentido, Veja reproduziu, em sua última edição, trechos da gravação em que Duarte acusa o presidente do PTB de cobrar dos indicados “uma prestação de contas”.

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