Após ignorar a tradição do Congresso Nacional e partir para a decisão, sem acordo, no voto secreto, o governo Lula venceu a oposição e terá em mãos as cartas para controlar os trabalhos da CPI dos Correios. Por apertados 17 votos a 15, o governo emplacou na presidência da comissão o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), e na relatoria, o aliado Osmar Serraglio (PMDB-RR).
O senador César Borges foi vetado pelo governo, por ser alinhado politicamente a Antonio Carlos Magalhães (ambos do PFL-BA). Contudo, houve, na contabilidade governista, duas traições durante a votação secreta - o governo contava com 19 dos 32 votos. "É difícil saber ao certo o motivo da traição", disse o líder petista, que foi tucano até 2001. "Acredito que em parte seja devido ao ambiente que a gente está vivendo", pondera Delcídio.
Depoimentos
Apesar de já haver 84 requerimentos para convocação de citados no escândalo do mensalão e dos Correios, o início dos trabalhos da CPI, marcado para a próxima terça-feira, começará pelo primeiro protagonista da história: Maurício Marinho, ex-chefe de Administração dos Correios flagrado numa gravação de vídeo recebendo R$ 3 mil propina.
Há também pedidos de ouvir o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) - este último deve ter seus sigilos bancário e fiscal quebrados. Mas, segundo o relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-RR), o foco das investigações deve se restringir aos casos de corrupção na estatal.
"Somos a favor a de uma CPI exclusiva para investigar o mensalão", afirmou Serraglio, ao ressaltar que, no momento, não vê motivos para chamar Dirceu para depor. "Nesta CPI, a suposta mesada será investigada caso existam indícios de que os recursos tenham saído dos Correios", ressaltou.
A oposição, que está preocupada com a restrição das investigações, prometeu ser vigilante com os trabalhos da CPI. "A sociedade vai acompanhar a comissão e quem tiver juízo vai agir conforme a opinião pública", afirma José Agripino Maia (RN), líder do PFL no Senado.
Petistas cobram saída de Delúbio e Sílvio
Petistas da cúpula do partido devem se reunir hoje, em São Paulo, para decidir o futuro do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Possivelmente ambos, citados por Roberto Jefferson como participantes do suposto esquema de pagamento de propina a deputados em troca de apoio ao governo, serão afastados dos cargos.
"Se existem dúvidas, os homens de bem se afastam, provam que nada devem e voltam mais fortes", defendeu ontem o senador Delcídio Amaral (MS), líder do PT, antes de ser eleito presidente da CPI.
A dificuldade, na avaliação da cúpula do partido, é convencê-los a se licenciarem. Em conversas reservadas, Delúbio e Sílvio têm dito que não querem deixar os cargos. Contudo, ao menos a situação de Delúbio pode ficar insustentável, já que o relator da CPI, Osmar Serraglio, admitiu ontem que poderá ser necessário quebrar os sigilos bancário e fiscal dele.
Jefferson falta à depoimento
Após um depoimento de 7 horas na terça-feira no conselho de Ética, o deputado Roberto Jefferson faltou ontem à convocação na Comissão de Sindicância da Câmara. Alegou cansaço. O deputado fluminense cumpriu o acordo na terça e enviou, por escrito, sua defesa. (Leia defesa por escrito)
O corregedor da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), disse que hoje vai começar a ouvir os parlamentares citados por Jefferson. Afirmou também que, diferentemente da condução dos trabalhos do relator da CPI, os ministros da Casa Civil, José Dirceu e de Coordenação Política, Aldo Rebelo, serão convocados a depor na comissão de sindicância.
Ex-secretária de publicitário nega ter visto malas de dinheiro
A ex-secretária do publicitário Marcos Valério, acusado por Roberto Jefferson de ser um dos operadores do esquema de mensalão, afirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal, que nunca viu "malas de dinheiro" saírem do escritório do publicitário, em Belo Horizonte.
De acordo com o delegado Ricardo Amaro, chefe de Comunicação da PF em Belo Horizonte, Fernanda Karina Ramos Somaggio, negou a maior parte das informações dadas na entrevista que concedeu à IstoÉ Dinheiro."Basicamente ela negou a entrevista", disse Amaro.
O advogado da ex-secretária Leonardo Macedo Poli confirmou a informação dada pelo delegado da PF de que não viu as malas de dinheiro. Fernanda, contudo, entrou e saiu para depor na PF sem falar com a imprensa. Ontem, o Banco do Brasil, o Banco Rural, o irmão do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, o prefeito de Belo Horizonte e José Pimentel (PT) negaram as acusações da ex-secretária de Valério de participação no suposto esquema de pagamento de propina.
Já o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga disse que recebeu um dinheiro do publicitário a título de pagamento de honorários advocatícios.
Valério no PT
Reportagem do jornal O Globo de hoje aponta mais um indício do estreito relacionamento entre o PT e o publicitário Marcos Valério. Segundo a matéria, Valério esteve este ano 12 vezes no prédio onde funciona o escritório nacional do PT em Brasília. Em ao menos cinco ocasiões Valério foi ao escritório do PT, sendo que a última visita, de acordo com o registro eletrônico do prédio, foi há duas semanas, quando a crise já tinha iniciado.
Nem a direção nacional do partido, nem o PT explicou a OGlobo os motivos da ida de Valério ao prédio, localizado no Centro Empresarial Varig. O publicitário é um dos sócios da agência SMP&B que tem, entre clientes do governo, o Correios e o Banco do Brasil - citados em escândalo.
Janene é número um do mensalão, diz sobrinho
Mais um personagem deve lançar mais suspeitas sobre o esquema do suposto pagamento de mensalão. Desta vez é um familiar de deputado. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Aristides Barion Júnior, sobrinho do líder do PP na Câmara, José Janene (PR) afirmou que seu tio é "o número um do mensalão".
Quando perguntado se ele ficou surpreso com o escândalo de mensalão, Aristides respondeu: "Surpreso, eu? Claro que não. O Zé é terrível, você não conhece ele. Quando o Zé vê que o cara é menor, ele esmaga. Se vê que não pode com o cara, tenta fazer um acordo", afirmou Aristides, 31 anos, filho de Solaima, irmã de Janene.
O sobrinho, que disse não gostar do tio, afirmou que sua rixa com ele vem do fato de que Janene lhe deve R$ 1 milhão. Foi cobrar na justiça. "Fui coordenador-geral da campanha do Zé em 1994, quando ele se elegeu pela primeira vez", conta. "Antes, em 1990, o Zé já tinha saído candidato, mas perdeu. Em 1994, pela proximidade familiar, emprestamos dinheiro para ele e até o avalizamos. Perdemos R$ 1 milhão", afirma sobrinho.
"Ele ficou rico depois que entrou para a política", diz Aristides ao Estadão. "O Zé mora em um apartamento que vale mais de 1 milhão de reais, tem fazenda, carros importados, tem avião, tem dois apartamentos na praia, mas é tudo em nome de terceiros."
O rompimento dos dois se deu depois que Janene, segundo o sobrinho, não demonstrava vontade em pagar a dívida.
Benedito deve ser expulso do PP
Um dos caciques do PP, o deputado José Janene (PR) retaliará o secretário-geral do partido, Benedito Domingos. A cúpula do PP deve expulsá-lo sumariamente na semana que vem, após Benedito ter afirmado aos jornais O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense que ouvido falar de um "zunzunzun" de pagamento de mensalão a deputados do partido na Câmara, José Janene (PR).
Janene disse que Benedito agiu por "vingança". O presidente do PP-DF e ex-vice governador do DF está em rota de colisão com a direção do partido, que deseja preteri-lo em favor do senador Valmir Amaral, recém-filiado ao partido. O líder do PP nega que pagamento de mensalão era feito no seu apartamento.