Sônia Mossri |
Em entrevista ao Congresso em Foco, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), esforçou-se para mostrar uma sintonia fina com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, justamente o maior defensor, no Palácio do Planalto, da recondução do senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado João Paulo (PT-SP) para um novo período de dois anos à frente das duas casas do Congresso. O ex-líder do governo Collor na Câmara fez questão de defender a idéia, proposta por Dirceu, de construir um pacto social. Para Renan Calheiros, essa é a alternativa para unir diversos segmentos da sociedade em torno de uma estratégia de crescimento econômico e geração de empregos. "Eu acho que o pacto defendido pelo ministro José Dirceu não confronta com a política econômica do governo. Portanto, não haverá risco", disse Renan, em mais esforço para mostrar que está afinado com os interesses do Palácio do Planalto. Congresso em Foco – O senhor tem dito que o Palácio do Planalto não interfere na reeleição, mas o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, tem se movimentado nos bastidores em favor da emenda da reeleição. Renan Calheiros – O PMDB cobrou isenção do Planalto e o presidente (presidente Luiz Inácio Lula da Silva) demonstrou essa isenção. Claro, no governo, você encontra ministros com posições conflitantes, mas é democrático. É natural. "O presidente (Lula) demonstrou isenção. Claro, no governo, você encontra ministroscom posições conflitantes" É natural o Palácio entrar, discretamente, nessa disputa? O presidente Lula mostrou isenção na intervenção que fez com os presidentes de partidos, na colocação do porta-voz e do ministro Aldo Rebelo (Articulação Política). Isso foi suficiente para que nós tivéssemos um disputa sem influência de um outro poder. Por isso, também a reeleição não vai passar. Por que o senhor insiste em disputar a Presidência do Senado? Qual a importância disso? (Rindo) A bancada do PMDB no Senado conquistou o direito de indicar o presidente nas urnas. Esse direito não é do Sarney. Não é do Renan. Esse direito é da bancada. O PMDB não abrirá mão disso. Eu serei candidato em qualquer cenário. Só não serei candidato se houver na bancada alguém com mais condição de levar o PMDB à vitória do que eu. "Só não serei candidato se houver na bancada alguémcom mais condição de levar o PMDB à vitória do que eu" Na sua análise, qual a diferença entre o Renan na presidência em vez do Sarney? Nesse período de governo, já deu para perceber que vocês dois têm posições bem diferentes. O presidente Sarney é tido como mais afinado com o governo do que o senhor. O presidente Sarney reúne todos os atributos necessários para ser presidente. Já demonstrou isso em outras oportunidades, inclusive na Presidência da República. Não é essa questão. O que se quer é a oxigenação política, é a renovação de quadros e o cumprimento da regra constitucional. Senador, eu vou insistir no fato de que o presidente Sarney tem uma postura considerada mais amistosa em relação ao governo do que o senhor. O PMDB apoiou o governo porque entende que o seu papel é estratégico, insubstituível na sustentação congressual. Fizemos isso durante todo o ano passado, mesmo sem participar do governo. Eu, como líder, expressei, em todos os momentos, essa posição. Não foi diferente da posição do presidente Sarney. "Eu, como líder, expressei, em todos os momentos, essa posição (aliada do governo). Não foi diferenteda posição do Sarney" Os senadores dizem que somente Sarney conseguiu boas nomeações, que o PMDB não obteve ministérios de peso e que vocês não têm uma participação mais efetiva no governo Lula. Você não pode reduzir a participação de um grande partido no governo à nomeação de cargos. O que o PMDB quer é ser mais útil. É participar da formulação, das decisões, emprestar o maior número de quadros possíveis. Nós queremos é colaborar com o Brasil mais do que participar do governo. "O que o PMDB quer é ser mais útil. É participar da formulação, das decisões, emprestar o maiornúmero de quadros possíveis" Como presidente do Senado, o senhor teria mais condições de buscar esses objetivos? Não, não é isso que nós cogitamos. O PMDB quer continuar com a presidência do Senado porque o PMDB quer continuar sendo estratégico na governabilidade e na sustentação, na defesa do interesse nacional. Eu não sou versado nessa matéria de cargos. Não é a minha especialidade. Muitos comentam que não é uma boa coisa brigar com Renan Calheiros, lembrando que Fernando Collor de Mello caiu em desgraça após a sua saída do governo dele. Muitos comentam que o “estrago” que o senhor faria no governo Lula caso perdesse a Presidência do Senado seria muito grande. O que acha disso? Em qualquer hipótese, eu vou continuar cumprindo o meu papel perante o Brasil. Eu vou ajudar na sustentação. A ninguém interessa a desestabilização do governo. Já vimos esse filme e seria muito ruim para o Brasil.Como o senhor avalia a política econômica do presidente Lula, que ganha nota dez do mercado externo e não dá resultados internamente? Essa coisa do pacto defendida pelo ministro José Dirceu é necessária.O pacto é necessário para nós queimarmos etapas na retomada do crescimento. O que seria esse pacto? Nós poderíamos fazer um pacto em torno de medidas que seriam implementadas para dar efetividade ao crescimento econômico, gerar empregos. Eu acho que o pacto defendido pelo ministro José Dirceu não confronta com a política econômica do governo. Portanto, não haverá risco. Não é um pouco engraçado se falar em pacto perto das eleições municipais e justamente quando o governo perde popularidade? Eu acho que dá para fazer um pacto envolvendo a sociedade, os partidos políticos, os movimentos sociais, empresários e trabalhadores. É importante para o Brasil para implementarmos medidas em todas as áreas que ajudassem na retomada do crescimento. |
A favor do pacto
13/7/2005
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