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A hora da cobrança

Congresso em Foco

13/7/2005 4:37

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Edson Sardinha


Derrotado dentro do partido no início do ano, quando a cúpula do PMDB decidiu apoiar o governo em troca de espaço na Esplanada dos Ministérios, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) tem falado pouco, mas, quando o faz, usa palavras duras para se referir à administração do PT e ao próprio partido. Para ele, as promessas de Lula na campanha eleitoral são um "estelionato eleitoral".

Geddel também é capaz de fazer comentários que encontrariam ressonância no PT na época em que o partido liderava a oposição ao governo Fernando Henrique, ao cobrar maior taxação sobre o capital.

O deputado baiano acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desconhecimento e de falta de comando. Já o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), e o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, ele classifica de "irresponsáveis" por esquecerem, no governo, a bandeira de reajuste do salário mínimo que defendiam quando estavam na oposição.

Congresso em Foco - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, insiste que não há condições de se corrigir a tabela do Imposto de Renda. Para o senhor, o que isso reflete?

Geddel Vieira Lima - Isso é algo gravíssimo, porque essa questão do Imposto de Renda era uma das bandeiras históricas do PT. Basta ver os discursos que eram feitos pelo hoje líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), ou pelo então deputado Ricardo Berzoini (ministro do Trabalho) e como eles lutavam pela correção da tabela no governo passado. Como hoje os dois defendem posições diferentes, só podemos dizer que eles são uns irresponsáveis.

Por quê?

Porque atuaram numa linha que não estão pondo em prática. O mais grave disso é que poucos dias atrás o presidente da República, num encontro em São Paulo, disse que teríamos boas notícias sobre o assunto. Daí podemos concluir que ou o presidente Lula não sabe o que diz ou o governo não o obedece. Cabe a nós parlamentares continuar pressionando para que o projeto vá para o plenário. Não dou por encerrada a discussão sobre o assunto.

"Ou o presidente Lula não sabe o que diz
ou o governo não o obedece"

Ao rever mais uma bandeira histórica do partido, o governo dá munição para as acusações da oposição de que poderia cometer um "estelionato eleitoral"?

Não é só neste caso. Isso se aplica a tudo o que o PT tem feito. O estelionato eleitoral está tipificado. Dá vontade de apresentar uma emenda ao Código Penal estabelecendo punição para os casos de estelionato eleitoral. Não é possível que se continue a taxar o trabalho, deixando o capital absolutamente livre. Esse sistema tributário brasileiro faz com que a classe média não suporte mais pagar tanto imposto, o que só vai aumentar os mecanismos de sonegação e elisão fiscal. O PT derrotou outro projeto de Brasil, que eu defendia em 2002, prometendo que transformaria o país em um nirvana. O grande drama que estamos vivendo é que a população começa a perceber, para infelicidade nossa, que quem talvez tivesse efetiva razão fosse a Regina Duarte.

"O grande drama que estamos vivendo é que a população começa a perceber que quem talvez tivesse efetiva razão fosse a Regina Duarte"


O ministro Palocci tem defendido a manutenção da tabela, com a criação de novas faixas para o Imposto de Renda. Essa alternativa não alivia a carga sobre o trabalhador?

Esse é um discurso demagógico sobre o aumento da base de contribuição. Quem é classe média no Brasil hoje? Quem ganha R$ 10 mil tem condição de pagar 35% de imposto de renda, num país em que a renda está absolutamente depreciada, em que se tem um salário mínimo de R$ 260? É preciso ter condições claras de discutir essa relação com o capital. Esse governo disse que viria para fazer essa discussão e não está fazendo. É uma mistificação absurda.

"(Manter a atual tabela e criar novas faixas de
imposto de renda) é um discurso demagógico
sobre o aumento da base de contribuição"


Como ele poderia fazer?

Eles usam o argumento de que a taxação dos dividendos inibiria novos investimentos e a geração de empregos através de empresas. Respondo que, aliviando o assalariado e a classe média, poderemos aumentar a demanda interna e aquecer a compra de bens de consumo duráveis, implementando o desenvolvimento industrial e a geração de empregos. O governo age de forma absolutamente incompetente, não está encontrando caminho para solucionar esse problema e fica escravo dessa conversa boba de que se subir 0,25% ou 0,50% a taxa de juros nos Estados Unidos teremos um grande problema. Se formos muito claros nesse processo, essa subida de juros interessa a um banqueiro de um lado e a um financista de outro. O povo está fora desse processo e o governo não está vendo isso. Estamos caminhando a passos largos para um afunilamento na falta de opções.


"Aliviando o assalariado e a classe média (de impostos), poderemos aumentar a demanda interna, implementando
o desenvolvimento industrial e a geração de empregos"


Por causa desse cenário descrito pelo senhor, o PMDB deveria rever sua participação no governo?

Essa é uma defesa que eu faço de maneira permanente. Infelizmente o PMDB está virando um partido que não é nada. Não é governo, não é oposição, está sem discurso e bandeira. Está ficando um partido composto de adesistas, perdendo a identidade. O PMDB precisa se reencontrar com as ruas, as universidades, a juventude, os movimentos e as minorias sociais. Precisa resgatar bandeiras antigas e empunhar novas, em vez de ficar discutindo se indica ou não o diretor de Microcrédito ou de Cooperativa do Banco do Brasil para atender a meia pataca de apaniguados. O grande problema desse governo não é rumo errado, é que ele simplesmente não tem rumo.

"(O PMDB) precisa resgatar bandeiras antigas e empunhar novas, em vez de ficar discutindo se indica ou não o diretor de Microcrédito ou de Cooperativa do Banco do Brasil para atender a meia pataca de apaniguados"

Qual a saída para o PMDB?

Defendo no limite das minhas forças que o partido busque se reencontrar com a opinião pública, se quiser ter um futuro como partido capaz de viabilizar projetos e de fulanizar as discussões em torno de nomes que possam vencer eleições majoritárias. Caso contrário, o PMDB vai se tornar um partido prateleira. Será uma prateleira de deputados e senadores para apoiar qualquer tipo de governo. Sou contra essa posição. O partido não tem como participar de um governo que ele não ajudou a eleger e que está definhando perante a opinião pública e levando o PMDB com ele.

"O partido não tem como participar de um governo que
ele não ajudou a eleger e que está definhando perante
a opinião pública e levando o PMDB com ele"


Mas seria possível romper com o governo antes das eleições de outubro?

As eleições serão o cemitério dessa aliança. O partido vai perceber que não tem como ir adiante no apoio a um governo que não tem apreço pelo PMDB, que cresceu batendo no PMDB e que está fazendo com que o meu partido perca a identidade e se afaste de um projeto legítimo de ser o estuário de expectativa da população brasileira. Estamos deixando de lançar um programa próprio de desenvolvimento, de resgate e de combate a uma série de deficiências existentes no país, principalmente em relação aos mais necessitados do poder público.


Falta ao PMDB a coragem que teve o PL de cobrar mudanças no governo?

Que coragem o PL tem? A coragem do PL é proporcional à falta de comando do governo. Só um governo como o atual pode permitir que o presidente de um partido dito da base se manifeste daquela forma. O que o PMDB tem de fazer é se afastar desse governo para apresentar suas propostas de forma clara e objetiva. Um partido da dimensão do nosso não pode se posicionar como caudatário de um governo que não ajudamos a eleger.

Essa disputa entre os senadores José Sarney e Renan Calheiros pela presidência do Senado também enfraquece o PMDB?

O governo está tão perdido que nem sabe para onde ir nessa discussão. Neste caso é muito mais uma disputa dos egos dos senadores Sarney e Calheiros. Essa discussão deveria ser tratada da seguinte forma: o que é bom para a vida republicana do país? O que considero mais importante para a vida republicana do país é que a discussão sobre os mandatos ocorresse de forma impessoal. Discutir esse tema agora é inoportuno, mas não vou colocar na conta do governo uma questão que é do Congresso.

"(A briga pela presidência do Senado) é muito mais uma disputa dos egos dos senadores Sarney e Calheiros"

Essa aproximação do PMDB com o governo pode prejudicar o desempenho eleitoral do partido nas eleições de outubro?

Temo que o partido pode deixar de crescer como deveria. O PMDB está muito próximo, mas não é governo nem oposição, e passa a imagem de um partido fisiológico, que troca cargos por um apoio que deveria ser doutrinário e programático. Prefiro trabalhar pelo fortalecimento e a retomada do caminho histórico do PMDB, que traga para o centro das discussões o que está acontecendo no Brasil profundo, na periferia das grandes cidades. Esse país está se favelizando. Um modelo desse não pode dar certo. Este é o desafio de um partido como o PMDB: discutir o Brasil e não ficar ocupando espaços em máquina pública.

"O PMDB passa a imagem de um partido fisiológico,
que troca cargos por um apoio que deveria ser
doutrinário e programático"

Entrar de forma mais profunda em discussões como o reajuste do salário mínimo, por exemplo?

O Congresso Nacional tem a obrigação de reverter isso. Quando me cobram alternativas de fontes para financiamento do salário mínimo, insisto que bastaria ao presidente da República começar a economizar, por exemplo, na compra do avião. Agora mesmo, nesta ida a China, que ele qualifica como a grande viagem até aqui, ele não vai em avião presidencial. Se ele parar com essa história de ficar voando daqui para lá, talvez ele possa resgatar um de seus compromissos históricos, que é de dobrar o valor de compra do salário mínimo em seus quatro anos de governo. Essa história é tão grave que a fotografia em que os então deputados Antonio Palocci, Agnelo Queiroz e José Dirceu aparecem fazendo um gesto de que o salário proposto pelo governo passado era uma coisa irrisória deveria ser divulgada por todo o país para confirmar o que digo.


Que desdobramentos essa revisão de conceitos da parte da cúpula petista vai ter?

Esse episódio do PT vai trazer um componente positivo. O eleitorado vai deixar de votar nas grávidas do Duda Mendonça e começar a votar no político que tem a capacidade de mostrar que suas propostas estão respaldadas em orçamento, dizendo de onde vem o dinheiro e que saiba que quando se disputa um cargo majoritário irá enfrentar dificuldades de amplo conhecimento. A grande preocupação que tenho é que o governo que diz que herdou uma falaciosa herança maldita possa transmitir para o seu sucessor uma ressaca maldita, o que vai ser muito grave.

"A grande preocupação que tenho é que o governo que
diz que herdou uma falaciosa herança maldita possa transmitir para o seu sucessor uma ressaca maldita"

O que leva o senhor a descrever um cenário tão sombrio?

A falta de projeto, de perspectiva, de uma política clara industrial, de estímulo ao comércio, de exportação que vá além do esforço feito pelo governo passado, como a modernização da agricultura brasileira, de políticas públicas para a juventude e de caráter social. Esse governo não sinaliza que tenha um projeto bom ou ruim. Já estou num ponto que nem sei mais como criticar o governo, tamanha a fragilidade dele.

A relação do Executivo com o Congresso mudou neste último ano e meio?

Mantém-se nas bases que eles sempre condenaram. Nunca vi um fisiologismo tão desavergonhado como este implantado pelo PT no governo.

"Nunca vi um fisiologismo tão desavergonhado
como este implantado pelo PT no governo"

Como, por exemplo?

Na ocupação de cargos técnicos que historicamente vinham sendo preservados, em posições de carreira. Um exemplo disso é a Embrapa. O que estão fazendo com essa empresa é um crime de lesa-pátria, desmontando uma instituição que tem dado contribuição efetiva em pesquisas, no avanço de tecnologias e no sucesso do agrobusiness brasileiro, mudando completamente a filosofia do órgão e ideologizando um setor que não tem como ser ideologizado.

O PMDB também não tem responsabilidade por esses problemas de governo apontados pelo senhor?

O PMDB não tem nada a ver com o governo. O partido tem de se reestruturar e se impor para que possa merecer o respeito da população brasileira. O governo pode qualificar mais seus quadros, colocar ministros competentes e o presidente tem que deixar os arroubos juvenis. O PT precisa tomar consciência de que não tem projeto, reconhecer que fez uma oposição irresponsável e que não compreendeu aqueles que, com patriotismo, serviram ao Brasil. Dias atrás vi o presidente falar do naufrágio do Titanic. Minha preocupação é que o Titanic pelo menos tinha comandante.

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