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As armas de Alckmin para a campanha eleitoral

19/3/2006
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Antônio Augusto de Queiroz*

 Com a desistência de José Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi confirmado candidato do PSDB à sucessão do presidente Lula. Os estrategistas do presidente Lula receberam a notícia com certo alívio porque consideram o candidato tucano insosso e sem carisma. Esse diagnóstico, entretanto, não autoriza o prognóstico de uma campanha fácil. Se, de um lado, os analistas palacianos têm razão quanto à ausência de carisma do candidato tucano, de outro, o jeitão de homem simples e, principalmente, o baixo índice de rejeição de Geraldo Alckmin abrem uma perspectiva de crescimento que Serra, que era tido como arrogante e já estava no topo nas pesquisas de intenção de votos, não teria.  No plano pessoal, para suprir a ausência de carisma, da qual tem plena consciência, Alckmin buscou compensações. Teve aulas com especialistas e professores com duplo objetivo: entender e dominar os problemas econômicos e sociais do país; e expor seus pontos de vista e propostas de forma técnico-didática, contrapondo o estilo “emocional” do presidente Lula.  Além desses dois aspectos, o governador pretende explorar sua fama de bom administrador, de pessoa apegada à família e de homem simples e humilde. Esses atributos pessoais, segundo sua visão, seriam suficientes para conquistar a simpatia do povo e reduzir ou mesmo neutralizar o grande carisma do presidente Lula.  Na esfera partidária, o PSDB já identificou o que considera vulnerável no PT e no governo, como o não cumprimento de algumas promessas, e adotou três motes de campanha: coerência política, competência administrativa e honestidade. No quesito coerência política, a idéia dos tucanos é explorar sem rodeios: as alianças contraditórias do PT e do governo; a implementação de uma agenda oposta à defendida em campanha, como no caso da política econômica; o não-cumprimento de algumas promessas; e, principalmente, as disputas no interior do governo. O aspecto de suposta incompetência do PT no governo, razão do mote “competência administrativa” dos tucanos, será explorado à exaustão, sempre antecedido de análise de conjuntura nacional e internacional e também de informações sobre a situação econômica, financeira e social do Brasil.  Como álibi para se contraporem à melhoria de alguns índices econômicos e sociais, vão dizer que as prioridades dos governos de FHC foram a estabilidade econômica e a montagem de uma rede de proteção social, um legado que o atual presidente vem mantendo ou ampliando. Para contestar os índices de crescimento e emprego do governo Lula, os tucanos vão invocar o fato de que durante os governos de FHC aconteceram quatro crises externas com reflexo no Brasil – da Ásia, da Rússia, do México e da Argentina – e que, sem nenhuma crise externa, o crescimento econômico brasileiro abaixo da média mundial seria demonstração de incompetência do governo petista. Em relação aos programas sociais, vão alegar que o investimento em programas sociais, com o aumento da carga tributária para mais de 38% do PIB, seria uma decorrência natural. Entretanto, além de denunciarem a chamada “gastança”, o aumento das despesas permanentes, inclusive com pessoal, e afirmarem que o governo Lula gasta mal, irão dizer que os programas sociais da administração petista são mera continuação dos programas do governo anterior, apenas com a mudança de nome. Ainda no quesito eficiência, a idéia dos tucanos é preparar e enviar ao Congresso, no dia seguinte à posse, um conjunto de reformas, entre as quais: a política, nova mudança na Previdência Social, e a reforma trabalhista e sindical. Por fim, a questão da honestidade. Além de expor todos os erros e desvios do PT e de gente do governo, os idealizadores da campanha tucana vão explorar a “ficha limpa” do candidato, contra quem imaginam inexistir qualquer atitude, comportamento ou fato que o comprometa ética ou moralmente. Portanto, a disputa presidencial – a julgar pelos atributos pessoais e a disposição do candidato, pelo arsenal de propostas e acusações, pelo apoio empresarial e da mídia, e, principalmente, pela estrutura de campanha – não será tão fácil quanto os analistas palacianos imaginam. O candidato tucano, apelidado de picolé de chuchu, pode surpreender. *Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

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