Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Edson Sardinha
4/8/2016 | Atualizado 9/8/2016 às 11:40
[fotografo]Lúcio Vaz/Congresso em Foco[/fotografo][/caption]
O pequeno empresário Élio Brito da Silva, de 36 anos, viu a jovem Júlia Liz pela primeira vez em setembro do ano passado, quando ela saía da academia Água Viva, em Agudos - município pequeno, mas bastante desenvolvido, com economia baseada na pecuária e na agricultura, na região de Bauru. Conta também com uma unidade da indústria Duratex, que fabrica produtos de madeira para a indústria de móveis. Élio tinha muitos clientes na cidade. Ficou encantado com a morena alta, de corpo bem delineado pelas roupas da academia. Parou o carro e jogou o seu jogo, na cara dura:
- Olha, acho você linda. Posso conhecer você? Onde você mora?
A menina de 18 anos encantou-se com a ousadia e com o porte do rapaz. Encontraram-se algumas vezes, até que Élio pediu para ser apresentado ao seu pai.
- Quando ele esteve aqui, veio falar comigo tremendo, mas com toda a educação do mundo - lembra o professor Carlos Rocha.
- O senhor me dá licença de conhecer a sua filha? Consultou o pretendente.
- Você percebe a diferença de idade? - questionou o pai da moça.
- Eu percebo, mas, com todo o respeito.
E passou a frequentar a casa do sogro. Formado em administração de empresas, ele tinha uma firma de construção e manutenção de sites em Lençóis Paulista, 28 quilômetros adiante - uma cidade com o dobro do tamanho de Agudos e um pouco mais rica. Com cerca de 250 clientes, tinha renda mensal em torno de R$ 15 mil. Júlia estava terminando o segundo grau e já se preparava para fazer Direito. Foram quatro meses de namoro. Élio costumava visitar a namorada aos sábados. Não tinha filhos, nem casamentos. Já estavam falando em ficar noivos.
Naquele sábado, dia 30 de janeiro, Élio chegou às oito da noite na casa da namorada. Estava num Gol preto muito usado emprestado pelo irmão. Ele tinha um Escort, mas planejava comprar um carro novo no meio do ano. Vestia calça jeans e camiseta justas. Malhava um pouco para manter a forma. Foi cantor da noite quando mais jovem. O estilo preferido era o sertanejo. Tinham combinado de assistir um filme no shopping Alameda, em Bauru, distante 20 quilômetros. Ele adorava cinema, qualquer tipo de filme. Lançamento era com ele. No dia seguinte, comentava o filme com o sogro. Assistiram o filme, comeram uma pizza e retornaram, perto da 1h20 da madrugada.
A mãe de Júlia abriu o portão e conversou um pouco com o genro. A menina entrou, mas logo lembrou que havia deixado a blusa no carro. A mãe foi buscar e viu quando o genro se afastava, em direção a Borebi, distante 15 quilômetros, pela Rodovia da Amizade. De lá, pegaria a Rodovia Marechal Rondon, uma estrada duplicada, bem sinalizada, com ótima pista - uma freeway. Mas o caminho natural, principalmente à noite, seria ir direto pela Marechal Rondon, sem fazer aquela volta. Cheia de curvas, a estrada municipal é perigosa principalmente à noite. Muitas mortes aconteceram ali nos últimos anos. A sogra ficou preocupada.
- O que o Élio tá fazendo, indo por essa estrada a 1h30 da manhã!?
Ele atravessou a pequena cidade e seguiu, passou pelo balão que segue para a SP-273 e tocou para Borebi. Quando começou a descida em direção ao rio Lençóis, havia um cavalete na pista da direita, com uma faixa amarelo e preto. Desviou pela pista da esquerda e seguiu em frente. Ganhou velocidade, passou pela carvoaria, um quilômetro e meio à frente, e chegou rapidamente à ponte. De repente, uma imagem surpreendente e assustadora. A ponte havia sumido. Pisou fundo no freio e as rodas do carro arrastaram por dez metros, inutilmente. O carro mergulhou no vazio e na escuridão da noite.
[caption id="attachment_254489" align="aligncenter" width="580" caption="Ponte sobre o rio Lençóis foi levada pela enxurrada"]
[fotografo]Divulgação/Prefeitura de Agudos[/fotografo][/caption]
A busca
Por volta das 8h30 da manhã de domingo, tocou a campainha na casa de Carlos Rocha, que já estava acordado. Eram um primo e um irmão de Élio, Francisco. Perguntaram se Júlia tinha passado a noite com ele.
- Imagina! Minha menina está dormindo desde a 1h30 da manhã. O que aconteceu?
- O Élio não apareceu em casa - explicou Chico.
Carlos pensou: "Alguma coisa aconteceu".
Chico deu uma informação ainda mais preocupante.
- Olha, tem um obstáculo lá, a ponte quebrou.
- O que, a ponte quebrou? - perguntou Carlos.
Ele pegou o carro e seguiu com os dois até a ponte. No caminho, passaram pelo cavalete com a faixa solta no chão. Já era por volta das 9h30. A ponte, que era um aterro com uma enorme tubulação, havia realmente caído em consequência das fortes chuvas de 12 de janeiro. Não suportou a vazão da água acumulada pelo rompimento de várias represas no municio. Carlos recomendou que os dois pegassem o caminho alternativo para Borebi, que passava por um mosteiro.
[fotografo]Lúcio Vaz/Congresso em Foco[/fotografo][/caption]
O pedreiro Gilson Brasil da Silva, de 49 anos, vendeu o Corolla usado, inteirou mais R$ 75 mil com a ajuda da mulher e realizou o seu sonho: comprou uma caminhonete Mitsubishi Triton com três anos de uso. Precavida, a mulher avisou:
- Vamos fazer o seguro.
- Não! Só faço dia 8, na ida pra Natal - respondeu Gilson, com seu jeitão teimoso, dia 4 de setembro de 2015, uma sexta-feira.
Mas não deu tempo. No início da noite do dia seguinte, Gilson deixou a sua casa em Angelin (PE), distante 26 quilômetros de Garanhuns, e foi abastecer o carro num posto na entrada de Canhotinho, 12 quilômetros adiante, acompanhado do amigo Wellington Silva. Ele iria para uma festa em Palmeirinha naquela noite. Na ida, passou pela ponte sobre o Rio Canhoto, conhecida como a "ponte da morte", pelo número de acidentes fatais ali ocorridos. Já havia passado ali muitas vezes.
[caption id="attachment_254152" align="aligncenter" width="580" caption="Ponte teve cinco acidentes com 10 mortes em 10 anos"]
[fotografo]Lúcio Vaz/Congresso em Foco[/fotografo][/caption]
Na volta, desceu em velocidade alta a ladeira que leva para a ponte, fazendo uma curva aberta à esquerda. Não há quebra-molas na pista. Ainda pouco acostumado com o novo carro, chegou rápido demais à ponte. Ainda se atrapalhou com o farol de um veículo que vinha no sentido contrário e com uma leve saliência na pista. Sentiu que não venceria a curva e fez algo que não deveria fazer naquelas circunstâncias: pisou no freio. Perdeu o controle da caminhonete, que bateu em cheio na cabeceira da ponte.
Com a frente destruída, o carro atravessou a ponte girando, derrubou a guarda de concreto do lado esquerdo e caiu no rio, ainda rodando, numa queda de 12 metros (foto abaixo). A caminhonete caiu em pé dentro d'água, com os airbags inflados. A água começava a encher o veículo. Quando chegaram as primeiras pessoas para socorrê-los, as portas não abriam e a água já estava alcançando o pescoço dos dois. Gilson sentiu uma dor muito forte no peito, resultado da pancada na direção, porque não usava o cinto de segurança, e apagou.
[caption id="attachment_254160" align="aligncenter" width="580" caption="O carro de Gilson atravessou a "ponte da morte" e foi parar no rio "]
[fotografo]foto: site Nova Replay[/fotografo][/caption]
Ponte sem segurança
- Você nasceu de novo. Dos que caíram ali, só você escapou. Aproveite!
Gilson diz que foi exatamente esse o seu sentimento:
- Sim. Foi um aviso muito grande que o homem lá de cima me deu. Me protegeu bem, primeiro Jesus Cristo, depois o airbag. Todo mundo devia ter. Com o menino que vinha comigo não houve nada, nem no médico foi.
E tenta explicar o que teria provocado o acidente:
- Eu freei na curva, erro meu. O carro anda muito e eu andava muito. Não bebi nada, foi carreira mesmo.
Gilson lembra de outros acidentes no local.
- Ali já morreu muita gente. Caiu até um caminhão carregado com gado.
Ele também aponta possíveis medidas para evitar mais desastres:
- Um semáforo resolvia mais que placa. Iam ver de longe e pensar duas vezes antes de passar correndo.
Ele acabou com as "carreiras" pelas estradas.
- Não quero passar mais não por isso. Não passo mais de 80. Manero mesmo, quem estiver atrás que segure. Só sabe quem passa, e eu sei, triste, triste, triste.
[fotografo]foto: site Nova Replay[/fotografo][/caption]Tags
SEGURANÇA PÚBLICA
O novo PL Antifacção: o que Derrite mudou no texto após as críticas