Considerada peça-chave nas investigações do suposto esquema do mensalão, a gerente-administrativa da agência de publicidade SMP&B, Simone Vasconcelos, entregou à Polícia Federal uma lista com 31 nomes de pessoas supostamente autorizadas pelo PT a sacarem um total de R$ 55,8 milhões das contas do empresário Marcos Valério Fernandes.
Ao menos 11 deputados figuram na relação entre os destinatários do dinheiro sacado. Alguns, diretamente, outros, por meio de assessores. A lista complica ainda mais a situação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que teria sido beneficiário de R$ 200 mil. Até então, a CPI dos Correios havia constatado o repasse de R$ 50 mil das contas de Valério para a jornalista Márcia Regina Milanesi Cunha, mulher de João Paulo.
A lista envolve ainda, entre outros, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino (ex-presidente do PT), o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, e o ex-presidente do partido José Carlos Martinez, morto em 2003. No dia 8 de julho, a Polícia Federal prendeu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um assessor de Guimarães, José Adalberto Vieira, a quem é atribuído um saque de R$ 250 mil. Adalberto transportava R$ 200 mil em uma valise e US$ 100 mil na cueca. Na relação também aparece o nome de Márcio Lacerda, secretário-executivo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes.
Simone Vasconcelos não confirmou, no entanto, que tenha liberado dinheiro para Roberto Marques, assessor informal do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o mentor do mensalão. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, R$ 15,5 milhões teriam sido repassados, entre fevereiro e novembro de 2003, a pessoas ligadas ao publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O repasse também teria sido feito aos diretórios do PT no Distrito Federal, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina.
Veja a relação dos parlamentares citados por Simone e os valores que cada um deles teria sacado, direta ou indiretamente, por assessores ou familiares:
- João Paulo Cunha (PT-SP): R$ 200 mil;
- Paulo Rocha (PT-PA): R$ 920 mil;
- João Magno (PT-MG): R$ 350 mil;
- Vadão Gomes (PP-SP): R$ 3,7 milhões;
- Josias Gomes (PT-BA): R$ 100 mil;
- Romeu Queiroz (PTB-MG): R$ 350 mil;
- Professor Luizinho (PT-SP): R$ 20 mil;
- José Borba (PMDB-PR): R$ 2,1 milhões;
- José Janene (PP-PR): R$ 4,1 milhões;
- Carlos Rodrigues (PL-RJ): R$ 400 mil, e
- Valdemar Costa Neto (PL-SP): R$ 10,8 milhões.
Valério promete revelações
O depoimento de Simone à Polícia Federal seguiu a linha de defesa de Marcos Valério. O argumento do empresário é de que o PT assumia dívidas, recebia recursos por intermédio de suas agências e repassava o empréstimo para partidos aliados. Ela volta a depor amanhã, desta vez à CPI dos Correios.
Por meio de seus advogados, o publicitário protocolou ontem ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, um documento no qual se dispõe a colaborar com a investigação sobre o "mensalão", em troca de benefício futuro da redução da pena assim que for aberto o processo criminal. Ele também encaminhou a lista apresentada por Simone à PF ao procurador-geral na qual discrimina as pessoas que teriam recebido dinheiro de saques feitos em suas contas bancárias, com nome completo, data e valor da retirada. A expectativa é de Valério, que promete fazer novas revelações, volte a depor hoje na Procuradoria-Geral da República.