Frente religiosa poderá incluir católicos

Soraia Costa

O mau desempenho nas urnas tanto dos evangélicos denunciados pela CPI dos Sanguessugas quanto dos que nada tinham a ver com o caso mostram que a bancada evangélica terá uma importante missão na próxima legislatura: limpar, perante a sociedade, a imagem dos políticos que a compõem.

"Mais de 40% dos membros da bancada evangélica estavam envolvidos no escândalo dos sanguessugas e isso repercutiu negativamente e prejudicou o grupo como um todo. Mesmo os que não foram citados pela CPI foram atingidos por tabela", analisa o sociólogo Ricardo Mariano, estudioso do tema. "Desde os anões do orçamento já havia um histórico de participação de evangélicos em esquemas de corrupção, mas esse foi com certeza o maior e o estrago foi considerável", diz o estudioso.

Para evitar novos episódios, as igrejas estão se mobilizando para selecionar melhor seus representantes. Algumas, como a Assembléia de Deus, já contam inclusive com conselhos políticos para avaliar a atuação dos parlamentares.

"A bancada não é homogênea. Há deputados evangélicos em todos os partidos e muitos não participam da frente parlamentar. Mas quando se tratam de casos com relação à moralidade sexual e aos valores cristãos, eles se unem", explica Ricardo Mariano. Para o professor, os problemas envolvendo membros da bancada não acontecem na defesa pelos interesses da igreja, mas sim nas ações ligadas aos partidos ou às bases eleitorais de cada parlamentar.

O deputado Takayama (PMDB-PR), um dos reeleitos da bancada evangélica, acredita que pouco mudará na atuação dos evangélicos a partir do ano que vem, mas que vários parlamentares reeleitos já demonstraram o interesse de abandonar a Frente Parlamentar Evangélica.
 
"Houve um ataque da mídia tentando vincular a questão dos sanguessugas com a bancada evangélica e isso foi bastante traumático e se refletiu nas eleições. Quem conhece os bastidores sabe que muitos dos nomes envolvidos entraram de gaiatos na situação",  argumenta o deputado, explicando por que vários parlamentares querem desvincular seus nomes da frente. Seja como for, garante ele, "a bancada continuará atuando na defesa da moralidade".

União com católicos

Uma das propostas que serão apresentadas na próxima legislatura é a de transformação da Frente Parlamentar Evangélica em Frente Parlamentar Cristã, que passaria a incluir também os católicos. A ampliação também serviria como estratégia para enfrentar preconceitos que os evangélicos dizem enfrentar.

"Os valores cristãos são os mesmos tanto para católicos quanto para evangélicos", argumenta o recém-eleito bispo Robson Rodovalho (PFL-DF), fundador da igreja Sara Nossa Terra.

O bispo tem sido apontado como um dos prováveis líderes para a nova bancada e promete ser "atuante no sentido de mudar a imagem da bancada e priorizar a melhoria de vida dos pobres e dos mais necessitados" (leia mais).

Mesmo antes de conquistar a vaga parlamentar, Rodovalho já participava das discussões legislativas nos conselhos da Câmara, como destacou o deputado Takayama. Na opinião do parlamentar reeleito, as propostas de Rodovalho serão bem aceitas pela frente. "O interesse dos evangélicos não é seccionar, mas sim defender os interesses comuns dos dois grupos. O bispo Rodovalho é uma liderança e acredito que será um grande reforço para a frente", diz Takayama.