Um dia antes de se afastar dos trabalhos na operação Satiagraha, o delegado responsável pelo caso enviou ofício à Justiça Federal no qual relata as dificuldades enfrentadas durante as investigações. Em documento de 13 páginas, ele relata a falta de pessoal, além de tentativa de obstrução por parte do grupo investigado, bem como por membros da própria Polícia Federal.
Durante os preparativos da operação, em 7 de julho, Queiroz relata que recebeu uma série de ligações em tom agressivo do diretor da Polícia Federal, Paulo de Tarso Teixeira. Ele e o Superintendente da PF em São Paulo, Leandro Daiello, queriam cópia da decisão judicial que autorizou as prisões, bem como as buscas e apreensões. Protógenes negou o pedido por se tratar de uma investigação sigilosa.
No dia seguinte, segundo relatado no documento, Paulo Teixeira telefonou para o delegado durante o trajeto para a prisão de Celso Pitta e, muito exaltado, disse a ele: “Você é um mentiroso, você mentiu pra mim... você não me avisou porra [sic] nenhuma”. Teixeira se referia ao fato de não ter sito informado que a operação ocorreria naquela data.
Para relatar as tentativas de obstrução dos trabalhos, Protógenes cita ainda Avner Shamesh, investigado na operação, com fortes indícios de que planejava monitorar clandestinamente os passos do juiz Fausto Martin de Sanctis, que posteriormente concederia decisões judiciais em favor dos trabalhos. Avner é ex-oficial do exército israelense e especializado em segurança eletrônica e acusado de violar a intimidade de pessoas consideradas inimigas de Daniel Dantas.
O delegado diz também que após reportagem sobre a investigação no jornal Folha de São Paulo, em março, ele e sua equipe foram transferidos para uma sala no setor Sudeste, “carente de sistema de rede de informática e com velocidade inferior, o que prejudicou sobremaneira, retardando a coleta de dados de informações da interceptação telemática”.
No documento entregue à Justiça Federal, Protógenes relata uma série de tentativas de perseguição a membros da equipe em Brasília. Carros com placas frias teriam seguido os passos de pessoas que participavam das investigações. Ele diz que “um dos membros da equipe conseguiu identificar duas pessoas envolvidas nesse acompanhamento, pois um deles se trata de servidor da Polícia Federal, lotado na Diretoria de Inteligência.
Vazamento das investigações
O documento chega a acusar a jornalista da Folha Andréa Michael de fazer parte da organização criminosa porque publicou uma reportagem sobre o caso. O texto afirma que, em 17 de março de 2008, conforme interceptação telefônica, “Michael, travestida de correspondente do jornal Folha de São Paulo na cidade de Brasília, ofereceu seus serviços diretamente ao grupo de D. Dantas”.
De acordo com Protógenes Queiroz, a jornalista ficou encarregada de publicar a matéria no dia 26 de março do mesmo ano, o que prejudicou os trabalhos feitos até então.
“A partir de então, houve uma investida pesada no Departamento da Polícia Federal e no judiciário em todas as instâncias, a fim de descobrir o conteúdo da presente investigação”, diz o ofício encaminhado por Queiroz.
O delegado que comandou as investigações conclui o documento chamando o grupo liderado por Dantas de “abutre do dinheiro, que alimenta as ganâncias diárias daqueles que vivem no pântano da corrupção e malversação de recursos públicos”.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Superintendência da PF em São Paulo, que afirmou que não se pronunciaria sobre o caso. O diretor da PF, Paulo Teixeira, também não retornou os recados deixados em seu telefone. Andréa Michael não foi localizada. (Paulo Franco, DE SÃO PAULO)
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