Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
11/9/2007 | Atualizado 12/9/2007 às 0:24
Ricardo Young*
Hoje, o Senado brasileiro decide o destino de um de seus pares mais proeminentes e atuantes, acusado de quebra de decoro parlamentar. Se for seguido à risca o regimento interno da Casa, o presidente da sessão, senador Tião Viana, vai ordenar a saída de qualquer pessoa estranha das tribunas, galerias e outros espaços do plenário. Nem mesmo os funcionários poderão permanecer. Em seguida, haverá o início a sessão reservada. Ninguém terá acesso aos discursos de defesa e de acusação.
Nós, os cidadãos, só poderemos saber o resultado da votação secreta que vai aceitar a recomendação do Conselho de Ética e cassar o mandato do senador ou que irá absolvê-lo de qualquer acusação.
Não vamos entrar no mérito das acusações – o Conselho de Ética do Senado já julgou, por 11 a quatro, que elas são procedentes. Os advogados de defesa e de acusação vão fazer o trabalho de convencimento dos pares do presidente do Senado. O que gostaríamos de discutir aqui é a forma como se dará essa decisão – em sessão reservada e votação sigilosa. A sociedade exige que a mais alta instância do Legislativo dê exemplo e torne suas decisões transparentes, pois a transparência é garantia de credibilidade, de justiça e de democracia.
O movimento da responsabilidade social empresarial (RSE) no Brasil vem realizando um esforço hercúleo para promover os valores da transparência e da boa governança entre as empresas, como forma de garantir relações confiáveis com seus públicos de interesse com o mercado em geral e com os governos. É por meio da construção de diálogos confiáveis, em que cada parte apresenta suas propostas sem medo de retaliações e sem “cartas na manga”, que se pode injetar credibilidade nos negócios e contribuir para uma sociedade mais equânime.
A transparência é “condição” para uma empresa socialmente responsável relacionar-se com as partes interessadas e estruturar seu planejamento estratégico. Ao pautar seus relacionamentos pelo diálogo franco, a empresa reconhece que não é uma ilha, que precisa levar em consideração uma série de interesses e demandas difusas e que o bom relacionamento depende da confiança. E confiança é conquistada passo a passo, num processo baseado em critérios éticos conhecidos e acordados por todos os envolvidos (em termos gerais, o que pode e o que não pode ser feito).
Negócios construídos com critérios éticos e de forma transparente (todos conhecem as regras e as conseqüências de seu uso indevido) são duradouros, construtivos e transformadores. É importante ressaltar que esse componente ético e transparente não se refere à moral, mas a regras claras e conhecidas de todos.
Esses conceitos até aqui expressos não foram inventados pelo movimento da RSE. Eles fazem parte da essência da democracia. Seus valores fundamentais possibilitam a formação do arcabouço indispensável para que países em desenvolvimento construam sociedades livres, diversas, com instituições fortes, desenvolvimento sustentável e justiça social. Não se falaria em direitos humanos, igualdade perante a lei e liberdade de escolha dos governantes, entre outros, sem as noções de “ética”, “transparência”, “credibilidade” e “confiança”.
A própria sociedade brasileira, com suas fragilidades e imensas potencialidades, vem dando seguidos exemplos de boa cidadania e respeito às regras democráticas. No entanto, parece que seus representantes têm insistido em manter-se aquém dos avanços e reiteradas vezes não só se esquecem do que prometeram nas campanhas eleitorais como não estão preocupados com as conseqüências de seus atos para o conjunto social.
O senador Álvaro Dias ressaltou, em seu discurso na última segunda-feira (10), no Senado, que o voto secreto enseja “a encenação da falsidade” e promove “a permanente tentação à traição”. Problemas que já poderiam ter sido superados se o senador e os demais parlamentares das duas Casas tivessem seguido com a votação do projeto de fim do voto secreto no Congresso, aprovado em primeiro turno pela Câmara há um ano. Na época, corriam as absolvições de mensaleiros e sanguessugas, bastante beneficiadas pelo sigilo do escrutínio dos parlamentares.
Passado o clima de animosidade, o projeto já aprovado foi “esquecido”. Por isso, soa estranho e até casuístico que agora haja movimentações para acabar com a sessão reservada. Onde estavam todos esses parlamentares durante o ano que se passou entre a aprovação em primeiro turno do fim do sigilo nas votações e seu posterior “esquecimento”? Soluções de última hora parecem o que são: manobras desesperadas de quem tenta salvar a própria pele dos respingos de mais este escândalo. Hipocrisia, nada além disso.
Voto secreto em sessão aberta diminui a tentação à traição, aumenta a transparência e a credibilidade das instituições e gera confiança no eleitor. Transparência, credibilidade e confiança são os combustíveis para a nação soberana que o Brasil e os brasileiros almejam construir.
*Ricardo Young, 50 anos, empresário, graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, é presidente do Instituto Ethos, do UniEthos e do Conselho Deliberativo do Yázigi Internexus. Foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), da Presidência da República, até dezembro de 2006.
Temas
DEFESA DO CONSUMIDOR
Lula sanciona lei que cria novos direitos para clientes de bancos
RESOLUÇÃO DERRUBADA
Veja como cada deputado votou no projeto sobre aborto em crianças
PROTEÇÃO À INFÂNCIA
Governo critica projeto que suspende norma sobre aborto legal infantil