Pré-candidata do Psol à sucessão do presidente Lula, a senadora Heloísa Helena (AL) pretende ser uma alternativa tanto ao PSDB quanto ao PT. Em entrevista aos jornalistas Mário Simas Filho e Rodrigo Rangel, publicada neste final de semana pela revista IstoÉ, ela considera falsa a polarização entre os dois partidos.
Apresentando-se como alternativa ao "receituário de irresponsabilidade fiscal, social e administrativa representado pelos antigos e pelos novos inquilinos do Palácio do Planalto", ela afirma sobre o PT e o PSDB: "É o mesmo projeto de governo, apenas dividido em dois palanques".
Ela defende o fim do voto secreto no Congresso, biombo no qual têm se escondido os parlamentares que já garantiram a absolvição de oito deputados federais que receberam recursos repassados irregularmente pelo empresário Marcos Valério, e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de todos os agentes públicos. Outra de suas propostas é a elevação do salário mínimo para R$ 1,6 mil.
Seguem os principais trechos da entrevista da senadora à revista:
"A história da esquerda brasileira ou a defesa da ética na política nem nasceu com o PT nem se encerra com o Psol. (...) Nós apenas criamos, por obrigação histórica, um abrigo para a esquerda socialista e democrática que não se vende para se lambuzar no banquete do poder e não se rende para ser aceita no convescote do capital. Acreditamos que há espaço, no nosso querido Brasil, para disputar mentes e corações com um projeto de justiça social distanciado do pensamento único neoliberal e amoral".
"É fato que setores importantes da sociedade trabalham de forma sofisticada e desprezível para legitimar a falsa polarização PT e PSDB. Mas a eleição não é só PT versus PSDB. (...) Nossa decisão é não fingir estarrecimento diante da farsa técnica e da fraude política representada pelo mesmo projeto de governo, apenas dividido em dois palanques".
"Precisamos apresentar uma alternativa concreta para o Brasil, cumprindo a doce tarefa de desmascarar a verborragia do receituário de irresponsabilidade fiscal, social e administrativa, representada pelos antigos e pelos novos inquilinos do Palácio do Planalto".
"Não estaremos na eleição limitados a tratar dos aspectos putrefatos do parasitismo da máquina pública, impondo ao eleitorado um estado de náusea infinita. Nós, do Psol, estaremos apresentando as nossas alternativas para a democratização da riqueza, das políticas públicas, da terra e do espaço urbano, da informação e da cultura".
"Quanto ao salário mínimo citado (R$ 1,6 mil), esse montante está estabelecido na nossa Constituição, muito falada pelos legalistas de plantão e muito rasgada quando os interesses dos poderosos estão sob risco. (...) Compreendemos os problemas relacionados aos custos público, privado e domiciliar do aumento, mas existem mecanismos de compensação possíveis. Só não aceitamos a cantilena enfadonha e mentirosa do défict da seguridade social".
"Reconhecemos o papel que o PT cumpriu quando era o maior partido de esquerda da América Latina. Hoje, infelizmente, é o instrumento da propaganda triunfalista do neoliberalismo e aplicador inconseqüente da mesma metodologia de balcão de negócios sujos que nós condenávamos com ferocidade quando aplicada pelos nossos adversários políticos".
"Nenhum de nós sabe quais os senadores e deputados beneficiados com o esquema do mensalão. A promiscuidade do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional implodiu a CPI do Mensalão e não houve quebra dos sigilos dos beneficiários iniciais da operação fraudulenta. Não foram identificadas todas as excelências delinqüentes. Nós defendemos, para minimizar o risco de impunidade, o fim do voto secreto e a extinção dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de todos os agentes públicos, inclusive até cinco anos depois de deixar o cargo ou mandato".
"A definição sobre a candidatura presidencial dar-se-á apenas em maio no Congresso do Psol. Sei do pavor dos meus amigos e familiares, pois sabem que existem adversários políticos capazes de matar, roubar, caluniar e liquidar qualquer um que ameace seus projetos de poder. Mas, como nunca fui carreirista e oportunista para escolher caminhos a serem trilhados apenas pela ausência de obstáculos, se houver necessidade do meu nome, irei com muita alegria e combatividade".
"É como eu digo sempre: se eu ganhar a eleição presidencial, será maravilhoso para a maioria do povo brasileiro. E se perder, voltarei para dar aula na universidade federal da minha querida Alagoas e vou ser recebida com beijos, flores e bolo de chocolate!"