Contrariando as previsões feitas ontem pelos analistas econômicos, o anúncio da saída de Antonio Palocci da Fazenda provocou hoje reações negativas no mercado financeiro. Nesta manhã, o dólar comercial teve alta de mais de 2% e o risco-país, que mede a percepção do investidor estrangeiro, tinha às 10h elevação de 5%.
Tais oscilações são atribuídas ao comportamento contraditório do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevistas que ele deu hoje pela manhã ao programa Bom Dia, Brasil, da TV Globo, e à Agência Estado e à Rádio Eldorado, do grupo Estado.
Empenhado em evitar especulações em relação a mudanças nos rumos da economia nacional e na equipe econômica, Mantega assumiu a defesa até mesmo da política monetária que no passado recente ele criticava. Disse que "a política monetária é a mais acertada que já se fez no país". Ao mesmo tempo, deixou tácito que pode haver mudanças na direção do Banco Central (BC) e que mantém suas restrições aos atuais patamares dos juros.
Questionado sobre a autonomia da instituição e eventuais alterações na sua diretoria, o novo ministro, que será empossado às 15h de hoje, afirmou: "A autonomia do BC é decidida pelo presidente da República e a equipe fica enquanto Lula julgar necessário", declarou à Agência Estado e à Rádio Eldorado. "Isso não impede que se dialogue e se troque idéias sobre os juros", acrescentou.
Mantega disse que a redução dos juros vai continuar e que o Brasil deve crescer neste ano mais de 4%. Sobre a defesa de uma taxa de juros de longo prazo de 7% ao ano, afirmou: "Mudei de função, mas não de idéia". A taxa, hoje fixada em 9%, será revista amanhã em reunião do Conselho Monetário Nacional.
Ele informou que escolherá nas próximas 24 horas o substituto de Murilo Portugal, que deixou ontem o cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Outro que está saindo é o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que assumirá uma vice-presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As duas mudanças também trouxeram apreensões no mercado financeiro.
No Bom Dia, Brasil, Guido Mantega manteve o mesmo comportamento oscilante: ora defendendo a política econômica, ora ensaiando críticas a alguns dos seus aspectos fundamentais. Disse que sempre trabalhou "em sintonia" com Palocci. Mas demonstrou desconforto com o câmbio e os juros.
"Com a redução das taxas de juros", disse ele, "nós vamos ter uma melhora, porque taxas de juros muito elevadas atraem também capital especulativo, capital que vem se apropriar dessa diferenciação, dessa arbitragem entre as taxas que o real remunera e que o dólar remunera. Então, nós estamos caminhando para um patamar melhor. As taxas de juros caindo, as importações aumentando".
De qualquer maneira, ressaltou que a intenção de reduzir os juros não levará o governo a "afrouxar" no combate à inflação: "Isso é sagrado. Porque a inflação prejudica fundamentalmente o trabalhador, que tem o seu poder de compra corroído. E uma das virtudes que nós temos na economia hoje, sem inflação, é que o salário real do trabalhador está subindo, o poder de compra está subindo".