Os integrantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara e lideranças da oposição rechaçaram a divulgação da lista de supostos beneficiários de recursos doados pela empresa Furnas. "Em primeiro lugar, precisamos ver quem fez esta lista. Eu não acredito nela. É mais um golpe para tentar desestabilizar o Conselho", avaliou o presidente do órgão, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).
Ontem, o deputado cassado Roberto Jefferson declarou à Polícia Federal que recebeu R$ 75 mil de caixa dois por meio de Furnas. Ele é um dos cerca de 150 políticos que constam de uma lista de supostos beneficiários de repasses irregulares da estatal para a campanha de 2002. A relação inclui o nome de cinco membros do Conselho de Ética e de lideranças tucanas e pefelistas, como os presidenciáveis José Serra e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, e o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
Uma cópia do documento foi entregue à PF pelo lobista Nilton Monteiro, responsável por revelar a existência do caixa dois do PSDB de Minas Gerais. Constam da lista o nome de governadores, senadores, deputados federais e estaduais de diversos estados e partidos que receberam recursos, nas eleições de 2002, por meio de um caixa dois gerenciado a partir de Furnas, que chegaria a R$ 40 milhões.
"É uma lista apócrifa que não se pode admitir a divulgação. É um delírio de um louco", disse o deputado Nelson Trad (PMDB-MS).
Firma reconhecida
O deputado Jairo Carneiro (PFL-BA) acusou a Procuradoria de Câmara de negligência porque ainda não tomou providências contra quem fez e quem divulgou a lista. "Meu nome consta desta lista. Roberto Jefferson é hoje um cidadão desmoralizado, condenado porque cometeu crime. Ele não merece fé, nem crédito público", afirmou, indignado.
A cópia da contabilidade entregue à PF tem autenticação em cartório e firma reconhecida da assinatura de Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, que consta da quinta folha, logo após o registro de local e data no qual o documento teria sido elaborado: "Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2002".
O deputado Orlando Fantazzini (PSOL-RJ) também disse não acreditar que a lista seja verdadeira. Já o deputado Julio Delgado (PSB-MG) afirmou que teve conhecimento da lista há mais de 20 dias e resolveu ignorar o fato.
"Meu nome também consta dessa lista. Foi elaborada por pessoas que chafurdaram na lama e querem envolver pessoas de bem. A lista já teve sua autenticidade contestada oficialmente e representa uma das falsificações mais absurdas", enfatizou Delgado.
PT é suspeito
O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia, insinuou, mesmo admitindo não ter provas, que a oposição acredita que o PT e o governo Lula são os responsáveis pela divulgação da lista.
"Essa lista é um episódio de guerra. É natural que o partido em desespero resolva contra-atacar com as armas que tem", afirmou Aleluia. "Este é um episódio de batalha política que se instala num governo comprovadamente corrupto", acrescentou.
Aleluia tentou desqualificar a lista. Lembrou que até o momento a Polícia Federal não recebeu os documentos originais e que o suposto autor do documento, Dimas Toledo, nega a autenticidade do documento.
O líder do governo na Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse não dar importância para a lista e declarou que o partido e o governo nada têm a ver com a relação.
"Não vamos repetir a oposição que acusou, falou muito e não provou. Por isso que reitero: antes de saber o que tem exatamente nessa lista e a sua veracidade, eu acho que jamais vou incorrer num erro de fazer acusação", afirmou o governista.