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Algumas coisas que sinto por Oswald de Andrade

Congresso em Foco

29/5/2006 | Atualizado 30/5/2006 às 0:00

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Márcia Denser

Certa vez, numa matéria que escreveu para o JB, o escritor Nelsinho de Oliveira definiu Hilda Hilst, a mim e Marcelo Mirisola como a avó, a mãe e o filho da mãe, uma linhagem literária que primaria pela arrogância, irreverência e deboche, trinca à qual eu acrescentaria Oswald de Andrade como avô-muso de nós três, paulistanos, sobretudo porque Oswald é um paulistano de quatro costados (e paulistano é o única criatura deste planeta que não fica louvando a própria terra, algo unânime em todas as partes do mundo, de Belo Horizonte a Pago-Pago).

Não que sua literatura nos tenha influenciado. Aposto que, como eu, Hilda deve tê-lo lido ligeiramente, sorrido e passado adiante. E Mirisola também. Não se trata exatamente de influência ou incorporação. Claro: se ele ou Mário (de Andrade) não tivessem existido, nossa história literária seria outra. Contudo, a relação é antes de identidade, sintonia e, naturalmente, território.

É muito engraçado comparar as versões - ou leituras - que tiveram dele, digamos, o sociólogo Sérgio Miceli (Intelectuais à Brasileira), Antonio Cândido, Haroldo de Campos e Sérgio Porto, o velho e bom Stanislaw Ponte Preta. Sem contar o poeta Affonso Romano de Sant'Anna. Em "O seqüestro de Mário de Andrade por Mallarmé Campos", na verdade, ele esculhamba Haroldo de Campos via Oswald: "Haroldo não consegue pensar em Mário desvencilhado de Oswald. O fato de ter posto a foto dos dois autores em duas páginas frontiças, cara a cara, marca seu dilema. Sua tese é sobre Mário, mas não consegue pensar sobre ele a não ser em presença de Oswald, tentando aprisionar Macunaíma entre João Miramar e Serafim Ponte Grande, procurando a dimensão oswaldiana latente"**.  Pois é, latente onde?

Oswald foi uma das obsessões intelectuais de Haroldo, tanto quanto Pound e Mallarmé. O que, aliás, não significa grande coisa, até porque os demais concretistas do núcleo duro (Décio Pignatari e Augusto de Campos) são, foram e serão eternamente obcecados por um certo cânone - fora do qual, segundo eles, não existe vida inteligente. De Antonio Cândido, um dos "chato boys", Oswald foi contemporâneo, amigo e eventual desafeto. Mas ambos se respeitavam, sobretudo porque eram muito diferentes, competindo em raias outras.

Para Sérgio Miceli, intelectual já da minha geração, autor de Oswald Andrade: dândi e líder estético, ele foi objeto de estudo. E bem distante. Senão, vejamos: "O casal formado pelo poeta Oswald de Andrade e pela pintora Tarsila do Amaral é a encarnação mais perfeita do estilo de vida dos círculos modernistas, obcecados ao mesmo tempo pelo brilho social e pela pretensão da supremacia intelectual. Pertenciam a famílias abastadas da oligarquia, vivendo às custas das rendas provenientes da especulação imobiliária e dos lucros da exportação de café. Faziam sucessivas viagens à Europa, freqüentavam teatros de vanguarda, balés russos, noitadas nos círculos diplomáticos, conferências na Sorbonne, corridas de cavalos e automóveis, lutas de boxe, aprendiam a dançar o charleston, adquiriam quadros de Léger, objetos art déco, sapatos Perugia, camisas Sulka, "pijamas de apartamento", perfumes Rosine, móveis Martine, vestidos de Poiret, tinham audiências com o papa etc."***  Sérgio, sociologicamente implacável e realista, dando a linha de terra, desromantizando Oswald.

E agora? Quem ainda sintoniza com esse "transgressor"?

Eu, naturalmente. O fato de o sujeito ser filhinho de papai ou do "matriarcado de Pindorama", "um homem sem profissão e sob as ordens de mamãe"(algo que ele ainda botou em título de livro, cruzes! Vai ser burguês assim no inferno!), não invalida sua genialidade, não é mesmo?

O Manifesto Antropofágico já o teria justificado por toda eternidade. Assim como sua absoluta independência de espírito, que tanto contrasta com os tempos atuais, em que a covardia e o conformismo caracterizam espírito de época.

E agora algumas pérolas da arrogante (e lacônica) sinceridade oswaldiana, brilhante qualidade a que ninguém se atreve mais:

Quais os livros essenciais da humanidade?
Nem a Bíblia, nem o Alcorão.

O que acha da sua poesia? Seus romances? Suas idéias?
Não posso dizer por que você não publicaria.

Onde gostaria de morar?
Em Paris.

Melhores e piores romancistas brasileiros?
Os piores: o búfalo do Nordeste, José Lins do Rego, e o bem-te-vi do Sul, Érico Veríssimo. Mas pior poeta há um só, Augusto Frederico Schmidt.

Qual o maior sociólogo brasileiro?
Eu.

Você se acha um homem justo?
Perfeitamente.

Quais os mais requintados imbecis do Brasil?
Pedro Calmon, Pedro Bloch e Nelson Rodrigues.

Que acha do Plínio Salgado?
Uma vaca.

Getúlio é homem inteligente?
É.

Qual o maior defeito da política brasileira?
Existir.

Por que o Brasil perde os campeonatos de futebol?
Por causa do José Lins do Rego.

Que escritores jovens você deportaria do Brasil?
Mandava o poeta Luana voltar para Luanda, Lêdo Ivo para a Oceania, de onde veio, e José Condé ficava porque não é jovem nem escritor.

Que ministros poria no governo?
Josué de Castro, Gilberto Freyre e Cassiano Ricardo.

Qual seria sua atitude se Getúlio desse um golpe?
Aderir.
(trechos de entrevista dada em 1954 a Sérgio Porto, reproduzida no site www.tanto.com.br).

** In O Que Fazer de Ezra Pound?, pág. 20, Rio, Imago, 2003.
*** In Intelectuais à Brasileira, pg. 96/97. São Paulo, Cia das Letras, 2001.

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