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Congresso em Foco
3/2/2007 | Atualizado 4/2/2007 às 8:34
A eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara e de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir o Senado "não aponta para nada, apenas para um Legislativo submisso e manipulável", disse o sociólogo Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT ao jornal O Estado S.Paulo.
Na contramão de outros analistas, para os quais o governo sai fortalecido do episódio, Oliviera entende que " o presidente Lula, o PT e o governo estão totalmente perdidos". "O veterano sociólogo - que nos anos 80 ajudou a fundar o PT e depois se afastou dele - desafia a opinião dominante ao sustentar que Lula está mais fraco, não mais forte", diz a reportagem.
Leia a íntegra da entrevista:
Para onde aponta a escolha de Arlindo Chinaglia na Câmara e de Renan Calheiros no Senado?
Não aponta para nada. Aponta para um Legislativo submisso e manipulável. Não quer dizer absolutamente nada. Esse Renan é lastimável. O que este senhor mudou de posição em sua vida não é brincadeira. Chinaglia, por sua vez, é um deputado apagado, jamais foi uma liderança no PT. Quem o conhece sabe disso. O que ele fez de relevante em seus mandatos?
O PT mostrou força ao lançar Chinaglia contra a vontade inicial do presidente Lula e vencer?
O que isso mostra é que Lula, o PT e o governo estão totalmente perdidos. Tanto Lula quanto o PT perderam a noção do que é adversário. Um teórico de direita, o Carl Schmitt, dizia que política é amigo ou inimigo. Se não há essa oposição, não se vai a lugar nenhum. Na verdade, o episódio todo mostra que a política partidária é irrelevante no Brasil. As coligações não querem dizer absolutamente nada. A política que passa pelos partidos perdeu totalmente a importância, a ponto de o principal partido da oposição, o PSDB, ter definido o apoio ao candidato do PT, depois voltar atrás e por fim mandar de novo votar nele. Essas eleições são o sinal dessa irrelevância.
A seu ver, temos um quadro de crise dos partidos?
Não. Uma crise é boa porque aponta para alguma coisa. Quando não é o caso, não há absolutamente nada de novo.
Mas, numericamente, o governo dispõe de maioria e poderá explorá-la para seus projetos. Portanto, está forte.
Minha avaliação é de que o governo está mais fraco. Ele teve que reunir o maior número possível de partidos. Se você sai com uma eleição no segundo turno, como anteontem, e precisa fazer esses acordos, é sinal de que está muito fraco. No Congresso o que conta é arrumar verba para o chafariz na pracinha, em troca de apoio. Uma montanha de 58,2 milhões de votos deveria querer dizer alguma coisa.
Isso quer dizer que o presidente está desperdiçando o seu poder?
Lula parece o peixe de Hemingway (Ernest Hemingway, escritor americano, autor de O Velho e o Mar). Tal como o pescador Santiago, ele pegou um peixe enorme, maior que o barco dele. Os tubarões comeram o peixe e, quando ele chegou à praia, só havia sobrado o esqueleto. O presidente não sabe para onde vai, não sabe que ministério escolher, não tem idéia do que fazer, não tem projeto. Para que ganhou? Se é para aumentar o Bolsa-Família, isso será feito, com certeza, pois foi assim que ele se elevou. Mas e o resto?
O que ele deveria fazer mais?
Já deveria vir ruminando que ministério iria fazer. Mas não. Ganhou a eleição e seis meses depois não sabe que ministério nomear. Todos os ministros, passado um mês da posse, têm ar de interinos, salvo o da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Não é concebível uma coisa dessa.
O PT tem forças agora, com o controle da presidência da Câmara, para brigar por mais espaço no governo?
O PT não vai disputar com o governo. A meu modo de ver, essas movimentações todas são para 2010. Como Lula não tem sucessor - aliás, não é do estilo dele fazer sucessor. Quem o sucedeu no Sindicato dos Metalúrgicos? Alguns líderes surgiram por força própria, como o Vicentinho. As movimentações do PT, a meu ver, são para ocupar espaço. É o PT de São Paulo se arranjando para mandar de novo no partido, não no governo. É a rearticulação do antigo Campo Majoritário.
O que interessa ao ex-ministro José Dirceu, que luta pela anistia.
Sim. Por trás disso, tem algumas almas... Uma alma política como o Zé Dirceu não suportará ficar muito mais tempo fora da política. Você fica um ano fora. Dez, não. Provavelmente ele voltará, não terá muita dificuldade.
Como o sr. vê a relação de Lula com os partidos?
É uma relação de disponibilidade. Isso é da tradição brasileira. Qualquer presidente faz o que quer com os partidos. Getúlio Vargas fazia o que queria com eles e até nomeava ministros da inimiga UDN, como João Cleofas, usineiro pernambucano, para a Agricultura. A Presidência da República tem uma força no Brasil que não encontra paralelo em país nenhum dos mundo, salvo nas nações totalitárias.
O sr. inclui PFL e PSDB nessa lista de disponibilidade?
O PFL, surpreendentemente, é um partido que tem mais marca do que os outros. Sua história pregressa é horrível. O partido foi formado com os restos de satélites de todos os governos militares. O PSDB, que parecia ser um partido republicano, não agüentou a segunda eleição presidencial. Esfacelou-se. Lula não nomeia ministros do PSDB porque, por enquanto, não há necessidade. A liderança maior do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não teve força para emplacar seu candidato à Presidência, que era o hoje governador de São Paulo, José Serra. Nesta eleição para a Câmara, ele foi um zero à esquerda. Ainda deu um jeito para sair o Gustavo Fruet, mas não deu em nada.
Por que o País chegou a esse quadro de deterioração política?
A divisão que marcou mesmo o Brasil foi a divisão ditadura e antiditadura. Depois que isso desapareceu, surgiu o PT, no único período em que se deu consistência à vida partidária no Brasil. Quando o PT derivou para o que é hoje, acabou tudo. Não havia nada para colocar no lugar. O PSDB é exatamente o quê? Ninguém sabe. Vai terminar como um partido de caciques regionais. Vai se pefeelizar com Aécio Neves em Minas e Serra em São Paulo, porque o peso destas bancadas é grande.
A legislatura que terminou foi marcada por muitos escândalos. O que o sr. espera da nova?
Não vai continuar como a anterior, a taxa média de escândalos vai baixar. Como os políticos foram muitos vigiados e a imprensa foi muito em cima, os deputados serão mais cuidadosos.
Por que a sociedade não forma quadros mais atentos e vigilantes, para fiscalizar?
Nós não temos a imagem de relevância de certas instituições, como o Legislativo, que é irrelevante para o homem comum. Somos um país urbano, com grandes concentrações, e poderíamos ter uma opinião pública formada. Um provérbio medieval dizia que o ar das cidades torna os homens livres. Hoje, eu diria, cria escravos. As cidades brasileiras são vastos acampamentos de miseráveis. Não formam nada. A vida se passa, em um varejo miserável, na briga por sobrevivência. Qualquer gesto fora da luta cotidiana é um altruísmo fora do comum. Somos uma sociedade miserável, que não tem sustentação societal.
E o que essa situação provoca na vida cotidiana?
Um autoritarismo privado, em que sobrevive o pequeno autoritarismo, de se falar que deve prender, matar pessoas, mas não fazer nada em coletivo. Para criar o autoritarismo, é preciso mobilizar e não somos mobilizáveis. O que até é bom porque, do outro lado, os brasileiros não são mobilizáveis para aventuras autoritárias. O conflito político é resolvido no Brasil da seguinte forma: ele se privatiza e vai para o rés do chão.
Qual o horizonte da esquerda?
É muito ruim, curto e triste. O mito Lula anula qualquer possibilidade de esquerda. Criou-se um processo no Brasil segundo o qual tudo caminha para a resolução. A pobreza se tornou algo administrável, com o Bolsa-Família e o ProUni. Criou-se o consenso do conformismo. Isso é a pior coisa que pode acontecer numa sociedade tão desigual quanto a nossa. Essa será a pior herança do Lula, maior do que qualquer outra coisa. É o que chamei de hegemonia às avessas. Os ricos consentiram que a política seja assunto de pobres, desde que não toque nos seus interesses mais fundamentais. Os pobres, representados por Lula, governam para os ricos. Cria-se uma situação em que todo mundo está satisfeito.
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