Na véspera da data marcada para a entrega do relatório da CPI dos Sanguessugas, o presidente da comissão, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), e o relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), não conseguem se entender. Enquanto Biscaia propõe que o documento peça a abertura de processos de cassação contra pelo menos 75 dos 90 parlamentares suspeitos, Lando não está convicto das evidências de quebra de decoro em alguns casos. Sob pressão intensa dos acusados, Lando pode enxugar a lista.
"Para mim, o relatório está pronto. Não há dúvidas", disse Biscaia segundo reportagem de O Globo desta quarta-feira.
Relator não está convencido da culpa de Magno Malta
Na matéria de Alan Gripp e Maria Lima, o relator da CPI não está convencido, por exemplo, da quebra de decoro do senador
Magno Malta (PL-ES). Embora Malta tenha reconhecido ter usado por mais de um ano um carro que o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin, disse ter dado a ele de presente, Lando está em dúvidas sobre as provas. Malta alega que o carro lhe foi emprestado pelo deputado Lino Rossi (PP-MT) e que não sabia da origem do automóvel.
Lando tem recebido uma romaria de parlamentares acusados, suplicando para não figurar no relatório. Ontem, enquanto integrantes da CPI esclareciam dúvidas com Vedoin, Lando ouvia em seu gabinete os argumentos de Teté Bezerra (PMDB-MT), Adelor Vieira (PMDB-SC),
Gilberto Nascimento (PMDB-SP) e Philemon Rodrigues (PTB-PB).
A maior pressão sobre o relator, no entanto, vem do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB). Colega de partido de Lando, Suassuna, acusado de receber R$ 200 mil de propina da máfia por um assessor, é responsável por sua indicação para ser o relator da CPI. Apesar de passar quase todo o dia no Congresso, Lando não atendeu aos pedidos de entrevista do jornal.
Os dois novos depoimentos de Vedoin também provocaram um racha na CPI. Biscaia reclamou: "Ficar inquirindo várias vezes só favorece as defesas", afirmou o presidente da CPI.
O relatório final, que será lido amanhã, já está praticamente pronto. Tem cerca de 1.300 páginas. Para que haja tempo hábil para a impressão de 120 cópias será preciso concluí-lo até o meio-dia de hoje. Caso não haja pedido de vista, ele será votado amanhã.
Responsável pela organização das dezenas de arquivos que reuniram as informações contra cada parlamentar acusado, o sub-relator, deputado
Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse estar convicto da existência de provas que configuram a quebra de decoro da "maioria esmagadora" dos suspeitos. Ele, no entanto, disse que a lista está nas mãos de Amir Lando.
"Só o relator leu as defesas de todos os acusado. O juízo é pessoal", disse Sampaio.