No dia em que se completam 42 anos do golpe militar de 1964, o presidente Lula anuncia o nome de um exilado político para assumir o Ministério da Defesa. O baiano Waldir Pires, de 79 anos, comandará as três Forças Armadas, no lugar do vice-presidente José Alencar.
O nome de Waldir Pires foi definido ontem à noite. Lula cogitou, num primeiro momento, nomear interinamente o comandante do Exército, general Francisco
Albuquerque, para o cargo. Mas a decisão do general de atrasar um vôo comercial da TAM, na Quarta-feira de Cinzas, e o temor de críticas de setores da área de direitos humanos levaram o presidente a desistir da escolha.
No entanto, se de um lado, Lula se isenta de confrontos com humanistas, de outro, pode acabar provocando atritos entre o novo ministro e os militares.
Waldir Pires foi perseguido pela ditadura militar. Em 1963, Pires foi nomeado Consultor-Geral da República (cargo semelhante ao do Advogado Geral da União) no governo de João Goulart, cargo ocupado por ele até o dia 31 de março de 1964, data do golpe militar que derrubou Jango.
No dia seguinte ao golpe, Pires saiu de Brasília com Darcy Ribeiro, então chefe da Casa Civil, num avião que acabaria levando os dois ao exílio, no Uruguai e depois, à França. Pires faz parte da primeira lista de cassados. Ele só voltou ao Brasil em 1970. Em 1984, participou ativamente da campanha pelas Diretas Já.
O fato é que, durante anos, o ex-governador da Bahia foi um aguerrido combatente dos militares. Agora, seguindo o desejo de Lula, vai comandá-los.
"Imagino que não haverá resistências internas. A civilização se altera, muda, a conscientização popular também. O que não mudam são os valores", afirmou, nesta sexta-feira, o novo ministro da Defesa sobre o relacionamento com os militares.
Nesta sexta-feira, inclusive, o Comandante do Exército, general Francisco
Albuquerque divulgou uma nota afirmando que o golpe de 64 tinha o apoio da sociedade civil.
"Não tenho nada a contestar de quem porventura interprete os fatos dessa forma. Eu respeito a opinião de cada um", afirmou Waldir Pires. "O que temos que garantir com as Forças Armadas é a soberania".