À JULIANA e por JULIANA

É com consternação que a Coalizão Nacional de Mulheres recebe a notícia do falecimento de Juliana Marins, brasileira de Niterói (RJ), de 26 anos no Parque Nacional do Monte Rinjani, Indonésia.

Não obstante as diversas falhas dos equipamentos de turismo e dos fornecedores de serviços turísticos contratados pela jovem Juliana - tal qual o guia de turismo que a abandonou na trilha -, ou os responsáveis pela segurança de todos os visitantes que visitam o Parque Nacional do Monte Rinjani que registra oito mortes nos últimos cinco anos e que não suspendeu o acesso de pessoas durante o resgate da brasileira, alguns comentários maldosos tentam atribuir a culpa pela tragédia à vítima.

Há séculos, mulheres viajam sozinhas buscando muito mais do que um deslocamento geográfico ou apenas uma aventura: buscam a si mesmas. Buscam viver a força e coragem que têm dentro de si e que diversas culturas em todo o planeta insistem em reprimir e punir. Exemplos de mulheres inspiradoras como Amélia Earhart primeira mulher a pilotar sozinha um avião em um voo transatlântico em 1932 ou como nossa destemida e encantadora conterrânea Tamara Klink que desbrava os oceanos contando apenas com seu conhecimento e determinação. As mulheres não podem ser culpadas por viver aquilo que preenche e dá sentido a suas vidas.

Pesquisas científicas sérias apontam para o crescimento do movimento de mulheres que viajam sozinhas desde a década de 90 do século XX por diversos motivos: desejo de se sentirem capazes, independentes, autônomas, ou, simplesmente não renunciar as suas vontades e desejos para acomodar os interesses de companheiros (as) de viagem, amigos (as) ou familiares (Dresler. E, 2024; Kumar et al, 2024; Hosseini et al., 2022; Bianchi, 2022).

Esses desejos femininos são capitalizados, explorados e incentivados por governos e prestadores de serviços turísticos de considerável parte do planeta, mas quando as coisas não saem como esperado, tentam culpabilizar a vítima. O mercado de mulheres que viajam sozinhas cresce no mundo todo e no ano passado 14% das viajantes estavam sozinhas de acordo com a consultoria Mabrian (2024). Já a organização não governamental Solo Female Travellers (2025) aponta para um crescimento contínuo desta tendência desde 2016. Ainda de acordo com pesquisa feita sobre "solo travel" no ano de 2024 pela Brittany Ferries /ABTA *(2025) do Reino Unido, 58% das pessoas planejavam viajar sozinhas em 2024 e destas 84% eram mulheres. O Ministério do Turismo (MINTur,2025) brasileiro também tem incentivado esse segmento em nosso país oferecendo descontos em meios de hospedagem para as mulheres viajantes solo ou facilitando o empreendedorismo feminino no setor de Turismo.

Mas quando o pior acontece, o que se percebe é a falta de comprometimento com políticas efetivas de apoio às mulheres que viajam sozinhas. As notícias que permeiam o acidente envolvendo Juliana são desencontradas, mas há relatos de que ela pediu para esperar um pouco por sentir-se cansada. O guia seguiu sem ela. Se essa informação for verídica, é notória negligência por parte do profissional que, justamente por conhecer bem a área, conhecia os riscos aos quais ela estaria exposta ficando sozinha. Soma-se a essa questão, a demora absurda para o envio de uma equipe de profissionais com competência técnica e os recursos necessários para realizar o resgate. Ao menos drones levando água, comida e agasalho poderiam ter sido enviados. A angustiante certeza que atravessa o coração de todos nós neste momento é que algo poderia ter sido feito para evitar esse desfecho trágico.

Nos solidarizamos com a família de Juliana neste momento de imensurável dor, que ainda carece de muitos desdobramentos. Desejamos força e coragem para lidar com essa situação tão difícil.

Honramos a memória de Juliana celebrando a sua coragem e destemor! Juliana faleceu enquanto realizava um sonho. Há um provérbio africano que diz "que a morte me encontre vivo". E Juliana estava vivendo a vida plenamente. Isso é digno de admiração e respeito.

Referências:

Bianchi, C. (2022). Antecedents of tourists solo travel intentions. Tourism Review, 77(3), 780795. https://doi.org/10.1108/TR-12-2020-0611

Brittany Ferries. (2025). Female Travel: statistics 2025. Disponível em https://www.condorferries.co.uk/female-travel-statistics

Dresler, E. (2024). Women journeying alone: exploring solitude across the life stages. Current Issues in Tourism, 116. https://doi.org/10.1080/13683500.2024.2362380

Hosseini, S., Macias, R. C., & Garcia, F. A. (2022). The exploration of Iranian solo female travellers experiences. International Journal of Tourism Research, 24(2), 256269. https://doi.org/10.1002/jtr.2498

Kumar, J., Rani, G., Rani, M. and Rani, V. (2024). "Exploring the determinants of solo female travel intention among millennials: a comparative study from rural and urban perspectives", Tourism Critiques, Vol. 5 No. 1, pp. 82-101. https://doi.org/10.1108/TRC-09-2023-0020

Mabrian. (2024). Solo female travellers already stand for 14% of female tourism demand. Disponível em https://mabrian.com/blog/solo-female-travellers-already-stand-for-14-of-female-tourism-demand/

Ministério do Turismo. (2025). Ministério do Turismo incentiva o turismo feminino com tarifas especiais em hotéis por todo o Brasil. Disponível em https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/mtur-incentiva-o-turismo-feminino-com-tarifas-especiais-em-hoteis-por-todo-o-brasil

Solo Female Travellers. (2025). 2025 Solo Female Travel Trends & Statistics. Disponível em https://www.solofemaletravelers.club/solo-female-travel-stats/

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