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Trabalho
12/11/2025 | Atualizado às 11:33
O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), realizou a segunda edição da pesquisa "Mobilidade urbana e logística de entregas: um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos". O estudo revela que o setor de transporte de passageiros e entregas continua em expansão, mas enfrenta desafios complexos em relação à remuneração líquida e à segurança social dos trabalhadores.
O estudo, que analisa dados coletados em 2022 e 2024, aponta um crescimento significativo no número de trabalhadores: o montante de motoristas de aplicativo registrou um aumento de 35%, enquanto o de entregadores motociclistas cresceu 18% entre o final de 2022 e o final de 2024.
Os registros administrativos analisados indicam que houve um aumento real na remuneração bruta por hora em corrida. Para os motoristas, os ganhos por hora em corrida tiveram uma elevação de 5,4%, e para os entregadores, o aumento foi de 5% entre os dois períodos analisados (2021/2022 e 2023/2024, considerando valores atualizados pelo IPCA). Vale reforçar que os ganhos financeiros estão entre as principais vantagens identificadas pelos trabalhadores, ao lado da flexibilidade e autonomia. Cerca de 74% dos motoristas e mais de 70% dos entregadores citam a possibilidade de escolher seus dias e horários de trabalho como o principal benefício, e a ausência de um chefe é mencionada por cerca de 40%.
Contudo, este crescimento salarial deve ser observado à luz dos custos operacionais crescentes. Para os motoristas, o custo médio para manter o veículo aumentou 5% entre 2022 e 2024, sendo o valor de manutenção o maior problema, com uma alta de 27% no período. Os entregadores registraram um aumento médio menor, de 0,53%, nos gastos de manutenção da motocicleta. Este aumento das despesas corrói a margem líquida de ganhos, impactando a percepção de melhora financeira dos trabalhadores, em especial, dos motoristas.
O estudo também demonstrou que o trabalho por aplicativo se estabeleceu fortemente como fonte de renda complementar. Os dados mostram que 42% dos motoristas e 46% dos entregadores exercem a atividade com os apps junto com outros trabalhos. Entre os motoristas, essa característica se reforçou, sinalizando uma menor dependência, por parte destes trabalhadores, do setor como única alternativa ao desemprego. Essa, possivelmente, é parte da explicação para que a jornada de trabalho dessas pessoas seja marcada pela variabilidade: mais de 40% dos motoristas e entregadores afirmam que seus dias e horas de trabalho semanais variaram bastante nos três meses anteriores à pesquisa.
Apesar da flexibilidade e dos ganhos, o cotidiano de trabalho é marcado também por situações de riscos de segurança e desafios logísticos. Nos três meses que antecederam o estudo, 15% dos motoristas e 22% dos entregadores se envolveram em sinistros de trânsito. Assaltos foram relatados por 6% dos motoristas e 7% dos entregadores. Logística também é um problema frequente, com 48% dos motoristas e 56% dos entregadores tendo dificuldade em encontrar endereços.
Por fim, o trabalho se aprofundou em um estudo temático sobre aposentadoria e expectativas de futuro. Neste caso, identificou a complexa relação dos trabalhadores com a previdência social. Embora a maioria (53% dos motoristas e 57% dos entregadores) contribua para o INSS, uma parcela substancial o faz por meio de outros trabalhos. Entre aqueles que atuam exclusivamente com os aplicativos, a maioria não contribui para a previdência, caindo para cerca de 35% de contribuintes em ambos os grupos. Cabe reforçar que a idade é um fator-chave: motoristas e entregadores com mais de 30 anos (e especialmente aqueles com mais de 45 anos) contribuem em maior proporção do que os mais jovens. Existe ainda uma dificuldade de compreensão entre os motoristas e entregadores sobre o que é a contribuição à previdência e como ela pode ser significativa para além da aposentadoria. Mesmo entre as pessoas que contribuíam para o INSS, nenhum acionou a previdência quando esteve afastado do trabalho por conta de um sinistro.
Em relação à perspectiva de futuro, apesar de a maioria (mais de 60%) desejar continuar trabalhando nas plataformas no presente, o trabalho é visto como inviável a longo prazo por uma fração relevante dos entrevistados que fizeram parte da etapa qualitativa da pesquisa, devido ao desgaste físico e aos riscos. A estabilidade futura é projetada em planos alternativos, como abrir um negócio próprio ou prestar concursos públicos. Cabe reforçar que, para os entregadores, a estabilidade é frequentemente associada à segurança no trânsito no presente, e não a um planejamento de um futuro distante.
As demandas dos trabalhadores refletem essa incerteza. Não há consenso sobre a existência e formato de contribuição à previdência a partir das plataformas, e suas demandas incluem ainda a busca por ganhos melhores, bônus, capacitações e seguros mais acessíveis. O panorama geral reitera que, embora o trabalho por plataformas seja uma alternativa atraente e com remuneração competitiva, a falta de segurança social garantida e a pressão dos custos operacionais impõem desafios importantes para a sustentabilidade da atividade no longo prazo.
Assim, as discussões sobre a regulamentação das profissões intermediadas por plataformas de serviço se tornam essenciais para que essas demandas sejam atendidas e situações de vulnerabilidade sejam extintas ou evitadas. Neste sentido, o diálogo entre trabalhadores, empresas e governo, pautado em dados metodologicamente robustos e consistentes, deve conduzir a busca por soluções concretas e razoáveis a todos os envolvidos.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].