Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Amazônia
27/11/2025 | Atualizado às 14:11
Ver-o-Açaí e Amazônia na Cuia são lugares onde se come muito bem - e, mais do que isso, são exemplos didáticos da economia da floresta em pé. Você acredita?
Deve haver outros restaurantes tão bons quanto, mas esses eu conheci porque fui jantar em um e almoçar no outro. Neles, o que é servido vem do rio e da floresta, coletado por mãos ribeirinhas. No cardápio, uma sinfonia de iguarias cujos nomes, às vezes, precisam de tradutor - nada que o Google não resolva. São duas casas que, pelos meus cálculos, empregam entre duzentas e trezentas pessoas nascidas nos arredores: gente raiz, que te recebe de bom humor e, quase sempre, com um sorriso nos olhos.
No Ver-o-Açaí, o tradicional bolinho de bacalhau sai de cena e entra o bolinho de maniçoba - crocante, saboroso, amazônico até o caroço. O Amazônia na Cuia resolveu radicalizar: aposentou a porcelana. Da entrada à sobremesa, tudo é servido na cuia, reafirmando que a floresta não é paisagem, é cultura, trabalho e renda.
Em nossas andanças pelos meandros da COP 30, além da extensa cadeia bioprodutiva do Ver-o-Açaí e do Amazônia na Cuia, visitei um projeto em que tive que me beliscar para acreditar. Trata-se do parque industrial da empresa KAATECH, na grande Belém.
Conversei com Reinaldo, o empresário que lidera o projeto, que falou com brilho nos olhos sobre seus produtos. Começou pelo AçaiBot, um robô desenvolvido para fazer a colheita do açaí. Em seguida, apresentou o teleférico, um sistema de trilhos que entra floresta adentro, sem causar impacto, para transportar, em basquetas, o açaí colhido pelo AçaiBot. Depois, mostrou a fábrica onde essas basquetas são produzidas.
Por último, revelou a joia da coroa: o açaí em pó que, dissolvido em água, reproduz consistência, aroma e sabor da polpa natural. Eu provei. Achei muito semelhante ao açaí que consumo em casa, pelo menos duas vezes ao dia. E tem mais: a extração da polpa é feita a frio, sem alterar seus componentes químicos, como as antocianinas, substâncias antioxidantes vendidas a preço de ouro no mercado global.
Sem dúvida, trata-se de uma inovação tecnológica de impacto positivo e decisivo na cadeia de valor do açaí. Além de gerar milhares de empregos, essa tecnologia impulsiona a busca por mais conhecimento e mais pesquisa para chegar à produção de suplementos alimentares de altíssimo valor agregado, tendo o açaí como protagonista.
É disso que estamos falando quando dizemos "economia da floresta em pé".
Do fruto na palmeira ao prato - ou à cuia - do consumidor, tudo forma um ciclo integral:
Quando a cadeia de valor fica nas mãos das comunidades locais - do extrativista ao trabalhador da cozinha, do técnico de laboratório ao garçom -, o açaí deixa de ser apenas matéria-prima barata exportada a granel e se transforma em conhecimento, tecnologia, emprego, renda e dignidade.
Essa é a Amazônia que vimos brilhar na COP 30: uma Amazônia em que a floresta insiste em continuar de pé, onde seu povo segue em pé, e sua riqueza deixa de sair apenas em navios para circular também na vida de quem nasceu e vive aqui.
Essa é a economia da floresta em pé que queremos para toda a Amazônia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Tags
Temas