O presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso omitiram informações e distorceram dados ao comparar suas gestões no último fim de semana. Numa inversão de papéis e discursos, um culpou o outro por problemas como juros elevados, déficit da Previdência, redução de investimentos e limitado crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Lula, que assumiu sua candidatura à reeleição no sábado, chegou a desencavar os juros do Banco Central de abril de 1995, sem explicar por que a taxa, em seu governo, continua a mais alta do planeta, observa o repórter Gustavo Patu, da Folha de S. Paulo. No dia seguinte, FHC acusou Lula de permitir a valorização excessiva do real em relação ao dólar, sem mencionar que adotou a mesma política em seu primeiro mandato e levou o país a acumular déficits recordes nas transações com o exterior.
Apesar de encabeçarem a disputa pelo poder central nos últimos 12 anos, petistas e tucanos ainda não formularam diretrizes palpáveis para o próximo governo -ou não as revelam por cálculo eleitoral. De acordo com a reportagem, a hipótese não é descabida, já que, pelo diagnóstico da ortodoxia liberal que conduziu os governos FHC e Lula, o tratamento para as mazelas apontadas implica medidas polêmicas e impopulares.
A supervalorização cambial é conseqüência dos juros altos, que atraem capital especulativo ao país e provocam um excesso de oferta de dólares, prejudicial às exportações. E os juros altos, segundo a cartilha ortodoxa, são fabricados por um Estado que precisa reduzir gastos sociais.
Tanto Lula como o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, falam na redução de gastos, mas sempre sob eufemismos. "Dedicarei meu segundo governo, também, para resolver uma questão difícil e delicada: a qualidade do gasto público", disse o petista, repetindo, com outras palavras, a tese do "choque de gestão" do tucano.
Duas estratégias já são claras na campanha petista: reivindicar o mérito pela melhora dos indicadores econômicos e sociais, que analistas atribuem principalmente ao cenário internacional favorável, e insistir na comparação com FHC.
Nos palanques, contexto e precisão são deixados de lado. O petista disse ter assumido o governo com um risco-país de "quase 2.000 pontos". Eram 1.446 pontos. Já o tucano afirmou que em seu governo a economia cresceu à mesma média anual de 2,6% dos primeiros três anos de Lula. Sua taxa, porém, foi de 2,3%.