O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza prestou depoimento durante cerca de cinco horas na sede da Polícia Federal (PF), nessa quarta-feira, em Belo Horizonte. Valério foi interrogado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha sobre o inquérito que investiga a denúncia de caixa dois na campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998, do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB). O inquérito foi devolvido à PF na última semana pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que solicitou novas diligências.
Zampronha não quis falar com a imprensa. Apenas confirmou que o depoimento referia-se ao inquérito de 1998. Valério deixou a superintendência da PF pouco antes das 20 horas, acompanhado do advogado Marcelo Leonardo. Ele e o advogado também se negaram a dar entrevistas. "Não é nada pessoal", disse o empresário, com semblante tenso e de visual novo: em vez da careca total, ele deixou o cabelo crescer nas laterais.
Durante a crise política, Valério já admitira ter sido o operador do empréstimo com valor original de R$ 8,35 milhões ao Banco Rural, feito pela DNA Propaganda naquele mesmo ano. De acordo com o empresário, os recursos foram captados a pedido do então tesoureiro Cláudio Mourão - que tinha procuração de Azeredo - e usados para o financiamento paralelo da campanha.
O montante, segundo Valério, foi repassado, via SMP&B Comunicação (outra empresa dele), a políticos da coligação que apoiava o então governador de Minas na sua tentativa frustrada de conquistar mais um mandato. Naquela eleição, Azeredo foi derrotado por Itamar Franco (PMDB) no segundo turno.
Mourão e os políticos que supostamente foram beneficiados pelos recursos ilegais deverão ser ouvidos pela equipe de Zampronha. A PF investiga a suspeita de que estatais mineiras e empreiteiras teriam abastecido o caixa dois e, além disso, um relatório de despesas que indica que a movimentação não-contabilizada teria alcançado a cifra aproximada de R$ 100 milhões.