O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza rebateu ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, a acusação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que seria um dos operadores do suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares aliados. Valério também contestou a declaração do líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), de que participaria das discussões sobre distribuição de cargos no governo federal. Os dois deputados, segundo ele, mentem.
"Isso é mentira. Tratei com ele (Borba) de assuntos políticos. Falamos da campanha política do PMDB. Até porque, daqui a pouco serei um ministro sem pasta", disse. Apontado por Jefferson como o portador da mala em que teriam sido transportados os R$ 4 milhões supostamente doados pelo PT ao PTB, o publicitário apresentou vários papéis para mostrar que não poderia ter se encontrado com o deputado na data assinalada pelo petebista.
"Fisicamente, o deputado Roberto Jefferson só teria chance de estar comigo no dia 7 de julho, quando estive em Brasília, numa data diferente da que ele alega ter recebido o dinheiro. Assim, está provado que não me encontrei com ele", afirmou. Segundo Jefferson, Valério seria um dos responsáveis pela distribuição, entre os parlamentares, de dinheiro desviado de empresas estatais para o pagamento do mensalão.
Durante as 14 horas de depoimento, Valério não convenceu nem os governistas nem a oposição sobre a razão e o destino dos R$ 21 milhões sacados por suas empresas nos últimos dois anos. De acordo com ele, o dinheiro teria sido usado no pagamento de fornecedores e em investimentos. "Os investimentos serão revelados no foro adequado. Me reservo ao direito de não revelar esses investimentos", afirmou.
Apesar de destacar sua amizade com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o publicitário negou ter sido beneficiado nas licitações realizadas durante o governo Lula. Segundo ele, apenas 20% dos R$ 400 milhões faturados anualmente por suas principais empresas - a SMP&B Comunicação e a DNA Publicidade - vêm dos cofres públicos. A oposição ressaltou que os grandes contratos das agências dele com o governo foram ampliados por prorrogações ou aditamentos na gestão petista. De acordo com a Receita Federal, o patrimônio de Valério passou de R$ 6,7 milhões para R$ 14 milhões entre 2003 e 2004.
O publicitário minimizou os encontros que teve com o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. De acordo com a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, que vai depor hoje à CPI, Valério se beneficiaria de relações escusas com dirigentes petistas. O publicitário não soube responder se um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou para uma de suas empresas. "Eu não posso dizer que sim ou não. Não tenho conhecimento disso. Não sei nem mesmo o nome do filho do presidente", disse.
O empresário atacou a ex-funcionária, sugerindo que ela teria recebido dinheiro para dar entrevista à revista Istoé Dinheiro, e a imprensa. Segundo ele, os jornais tiveram acesso de forma "ilícita" ao relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre a movimentação financeira feita por suas empresas.
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