A divulgação de duas pesquisas eleitorais que mostram um cenário desfavorável para o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin em relação ao presidente Lula escancarou a crise entre PFL e PSDB. As cúpulas dos dois partidos trocaram críticas públicas ontem e decidiram transferir o ato de lançamento oficial da aliança, previsto para segunda-feira em Pernambuco, para quarta-feira, em Brasília.
O senador José Jorge (PFL-PE), vice de Alckmin, foi encarregado de propor ao tucano a criação de um conselho político antes da oficialização da aliança. Alckmin aceitou, contrariando o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).
Tasso trocou ataques com Rodrigo Maia (RJ), líder do PFL na Câmara, e foi acusado de "trair o PSDB" pelo prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), pai de Rodrigo.
Pela proposta do PFL, comporão o conselho os presidentes dos dois partidos, os líderes partidários na Câmara e no Senado e os dois coordenadores principais, os senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Heráclito Fortes (PFL-PI).
Em seu informe eletrônico, Cesar Maia disparou contra Tasso, chamando-o de traidor e sugeriu que a candidatura tucana corre risco por causa da aliança histórica do presidente do PSDB com o ex-ministro Ciro Gomes, cotado para vice de Lula.
"A candidatura de Ciro Gomes a vice de Lula preocupa o PSDB e o PFL! Em 2002 o PSDB pediu Comissão de Ética para o senador Tasso Jereissati. Ontem - com o Ciro - como hoje - com o irmão do Ciro (
Cid Gomes, candidato do PSB ao governo do Ceará) - o senador-presidente trai o PSDB nacional no Ceará", escreveu Cesar.
À tarde o clima esquentou depois que Rodrigo Maia, na mesma linha do pai, disse que o problema da campanha de Alckmin era de coordenação, numa crítica direta ao presidente do PSDB. "É uma crítica ao comportamento do Tasso em relação a nós. Não tem nada a ver com o candidato Geraldo Alckmin. Tudo o que se pede ao candidato, ele faz, o problema é o seu entorno", disse o líder do PFL.
O tucano cearense não gostou das declarações dos Maias e partiu para a ironia: "O meu garoto falou e meu paipai repercutiu? Se meu paipai não confirmar, não vale o que meu garoto disser. Só vale se meu paipai confirmar".
Em seguida, informou que iria se reunir com o presidente do PFL para pedir a ele que controle seu partido. Disse que está na hora de se saber quem são, de fato, os aliados de Alckmin. "Não dá mais para setores do PFL ficarem batendo no candidato e no PSDB. Não dá mais para ficar batendo no Fernando Henrique, no governador Aécio Neves. Agora é hora de saber se é aliado ou se não é? Chegou a hora de dar um basta e parar com essas brincadeiras."
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), devolveu a cobrança: "Se todo mundo falasse menos, não haveria problema. Mas é preciso organizar a campanha". Disse estar convencido de que o problema da campanha hoje é a falta de organização. "É preciso ter uma pessoa para dar a última palavra. E esta pessoa é o candidato." E desautorizou o presidente do PSDB a fazer críticas ao seu partido. "O Tasso Jereissati não está autorizado a fazer crítica ao PFL, restrinja-se ao PSDB", rebateu.
Até o ex-líder do PSDB na Câmara Alberto Goldman (SP) tratou de botar mais fogo no ninho tucano ao publicar, em sua página na internet, críticas a Tasso, a Fernando Henrique e ao governador Aécio Neves. Elogios só para o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e para Alckmin. "Um desabafo para quem, como eu, ficou esta semana em São Paulo e Brasília. Fernando Henrique, em Nova York, falando demais. Aécio Neves em Nova York com sua tradicional pinta de boa-vida. Tasso em Nova York fazendo pronunciamentos inconvenientes", disse Goldman.