O ex-superintendente Administrativo da Toshiba José Antônio Csapo Talavera afirmou em depoimento à Polícia Federal que a multinacional japonesa teria usado um caixa dois para pagar propina a políticos e diretores de Furnas Centrais Elétricas. De acordo com Talavera, a Toshiba participava de um cartel de empresas envolvidas em fraudes de licitações promovidas por Furnas.
Em um dos casos, o lobista Pedro Terra teria cobrado US$ 5 milhões para garantir a Toshiba o contrato de construção de duas usinas termelétricas de Furnas em Campos e em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-superintendente contou que o "clube" era composto ainda pelas multinacionais WEG, Alston do Brasil, ABB (Asea Brown Boveri) e a GE (General Electric), além do consórcio Gevisa, composto pela GE, pela Villares e pelo Banco Safra.
Nos últimos dois anos, Furnas manteve negócios no valor de R$ 8,6 milhões com a Toshiba, que fabrica componentes para o setor elétrico. Segundo Talavera, a estatal é a maior cliente da multinacional no país.
O ex-superintendente contou ainda que foi contratado pela Toshiba em 1998 para apurar desvios nas unidades da empresa. No início de 2001, ao rastrear saques em dinheiro na fábrica de Minas Gerais, teria tomado conhecimento do caixa dois da Toshiba.
"Leonídio (Soares, então diretor da fábrica em Minas) confessou que costumava repassar recursos para empregados da estatal (Furnas), mediante o desconto de cheques na boca do caixa, amparados por notas fiscais frias", disse Talavera, em trecho do depoimento reproduzido pela Folha de S. Paulo.
Terra teria oferecido contratos para a construção de cinco ou seis usinas termelétricas para Furnas - obras do programa do governo federal destinadas a evitar uma nova ameaça de apagão no país. "Os valores que seriam pagos por Furnas já teriam embutidos percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos", disse Talavera. O depoimento já foi encaminhado à CPI dos Correios, que apura a denúncia de existência de um esquema de corrupção na estatal para abastecer o caixa dois de diversos partidos políticos.
Procurada pela Folha, a Toshiba do Brasil informou que só vai se manifestar sobre o assunto depois de tomar conhecimento da íntegra do relato do ex-superintendente da empresa à PF.