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REAÇÃO AO TARIFAÇO
Congresso em Foco
15/9/2025 | Atualizado às 11:15
Em artigo publicado neste domingo (14) no The New York Times, intitulado "Democracia e soberania brasileiras são inegociáveis", o presidente Lula respondeu às críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e defendeu a posição do Brasil diante do tarifaço imposto pelo governo norte-americano.
Apesar das críticas à política de Trump, Lula reafirmou a disposição de negociar e frisou que a parceria entre Brasil e EUA, construída ao longo de mais de 200 anos, não pode ser abalada por diferenças ideológicas.
"Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta", escreveu Lula. "É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos."
O artigo foi publicado pouco mais de dois meses após Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto, com uma lista de exceções. Em carta enviada a Lula para justificar a medida, o republicano classificou como "vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No texto, Lula defendeu a atuação da Corte, que condenou Bolsonaro e outros sete réus, na semana passada, pela tentativa de golpe após as eleições de 2022.
"Não se tratou de uma caça às bruxas. O julgamento foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra a ditadura militar", escreveu o presidente, ao sair em defesa do Supremo.
"A decisão foi tomada após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal Federal. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria anulado os resultados das eleições de 2022."
A seguir, os principais pontos do artigo de Lula:
1. Medida é política, não econômica
Lula afirmou que não há justificativa econômica para a tarifa de 50% imposta por Washington. Destacou que, nos últimos 15 anos, os EUA acumularam um superávit de US$ 410 bilhões nas trocas com o Brasil e que 75% das exportações norte-americanas entram no país sem tarifas. Para ele, a decisão da Casa Branca foi movida por interesses políticos.
2. Defesa da democracia e da soberania
O presidente rebateu a acusação de que Bolsonaro foi alvo de perseguição. Disse que o julgamento seguiu a Constituição de 1988 e reforçou o papel do STF na preservação do Estado de Direito. "Não houve caça às bruxas", afirmou.
3. Regulação das big techs
Lula também rejeitou as críticas de Trump de que o Brasil persegue empresas de tecnologia dos EUA. Segundo ele, todas as plataformas digitais, nacionais ou estrangeiras, cumprem as mesmas leis. Regulamentação, defendeu, não é censura, mas sim proteção contra fraudes, desinformação e discurso de ódio.
4. PIX e inclusão financeira
O presidente destacou o PIX como exemplo de inovação que ampliou o acesso de milhões de brasileiros ao sistema financeiro. Negou que a ferramenta configure prática desleal contra empresas estrangeiras e ressaltou que o mecanismo fortalece a economia nacional.
5. Amazônia e cooperação internacional
Na área ambiental, Lula lembrou que o desmatamento na Amazônia foi reduzido pela metade nos últimos dois anos e que, apenas em 2024, autoridades brasileiras apreenderam centenas de milhões de dólares ligados a crimes ambientais. Advertiu, no entanto, que o combate à crise climática exige esforço conjunto, pois a degradação da floresta teria impactos globais.
Veja a íntegra do artigo de Lula no NYT:
Leia a íntegra do artigo publicado neste domingo no jornal norte-americano New York Times
"A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis
Decidi escrever este ensaio para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos. Ao longo de décadas de negociação, primeiro como líder sindical e depois como presidente, aprendi a ouvir todos os lados e a levar em conta todos os interesses em jogo. Por isso, examinei cuidadosamente os argumentos apresentados pelo governo Trump para impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
A recuperação dos empregos americanos e a reindustrialização são motivações legítimas. Quando, no passado, os Estados Unidos levantaram a bandeira do neoliberalismo, o Brasil alertou para seus efeitos nocivos. Ver a Casa Branca finalmente reconhecer os limites do chamado Consenso de Washington, uma prescrição política de proteção social mínima, liberalização comercial irrestrita e desregulamentação generalizada, dominante desde a década de 1990, justificou a posição brasileira.
Mas recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado. O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas. O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o nosso país, nem estão sujeitos a tarifas elevadas. Nos últimos 15 anos, acumularam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral de bens e serviços. Quase 75% das exportações dos EUA para o Brasil entram isentas de impostos. Pelos nossos cálculos, a tarifa média efetiva sobre produtos americanos é de apenas 2,7%. Oito dos 10 principais itens têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão.
A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política. O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, teria dito isso no início deste mês a um grupo de líderes empresariais brasileiros que trabalhavam para abrir canais de negociação. O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro de 2023, em um esforço para subverter a vontade popular expressa nas urnas.
Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal (STF) por sua decisão histórica na quinta-feira, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito. Não se tratou de uma "caça às bruxas". A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar. A decisão foi resultado de meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do STF. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022.
O governo Trump acusou ainda o sistema judiciário brasileiro de perseguir e censurar empresas de tecnologia americanas. Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil. É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes.
Igualmente infundadas são as alegações do governo sobre práticas desleais do Brasil no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico, bem como sua suposta falha em aplicar as leis ambientais. Ao contrário de ser injusto com os operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamento digital brasileiro, conhecido como PIX, possibilitou a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia.
Nos últimos dois anos, reduzimos a taxa de desmatamento na Amazônia pela metade. Só em 2024, a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em ativos usados em crimes ambientais. Mas a Amazônia ainda estará em perigo se outros países não fizerem a sua parte na redução das emissões de gases de efeito estufa. O aumento das temperaturas globais pode transformar a floresta tropical em uma savana, interrompendo os padrões de precipitação em todo o hemisfério, incluindo o Centro-Oeste americano.
Quando os Estados Unidos viram as costas para uma relação de mais de 200 anos, como a que mantêm com o Brasil, todos perdem. Não há diferenças ideológicas que impeçam dois governos de trabalharem juntos em áreas nas quais têm objetivos comuns.
Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta. Em seu primeiro discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017, o senhor afirmou que "nações fortes e soberanas permitem que países diversos, com valores, culturas e sonhos diferentes, não apenas coexistam, mas trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo". É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos."
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