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Imagem ilustrativa [fotografo] Pixabay [/fotografo]
Coletivo Vote Nelas *
“Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”. Essa é uma emblemática frase de Simone de Beauvoir, filósofa feminista que fez história discorrendo sobre relações sociais, gênero e mulheres.
A frase foi escrita há mais de 70 anos e se coloca concreta diante de nossos olhos na política brasileira em 2020. Nesta semana, diante da maior pandemia global em um século, junto de uma grave crise política e econômica, assistimos à escolha de um novo ministro da Saúde. O último que esteve no cargo não permaneceu nem mesmo por um mês. Um dos cotados para assumir é Ítalo Marsili, médico e youtuber, que recentemente associou a crise democrática com o direito das mulheres ao voto.
Simone de Beauvoir definitivamente tem muito a nos ensinar. O atual governo vem desde sua campanha se estruturando sob narrativas agressivas, sexistas, machistas e misóginas. Vale ressaltar a ausência de mulheres em cargos de liderança no governo federal, que também é um reflexo da realidade de toda a política brasileira. Só 11% das cidades são lideradas por mulheres. Entre os estados brasileiros, apenas um é governado por uma mulher. No Poder Legislativo, 15% de deputadas federais e quase um quarto das câmaras municipais compostas exclusivamente por homens, embora as mulheres representem 52% da população brasileira.
Ao contrário do que pensa Marsili, o Instituto V-Dem, ligado ao Departamento de Ciência Política da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, a representação de gênero é uma principais variáveis que contribuem para o desenvolvimento de uma democracia estruturada e fortalecida.
Outra contribuição relevante para essa pauta foi a pesquisa Jornada da Candidata, lançada em fevereiro deste ano pelo coletivo Vote Nelas. Uma pesquisa qualitativa com mais de 70 horas de entrevistas com mulheres candidatas, eleitas e não eleitas de todas as regiões do Brasil. A pesquisa tinha o objetivo de entender e sistematizar como é a trajetória das mulheres que se lançaram na política.
O resultado foi muito consistente, o contexto do país é o estopim para as mulheres entrarem para a política, uma espécie de chamado interno que motiva e inspira as mulheres a serem candidatas e fazerem parte da mudança que acreditam.
Outro ponto de destaque é a forma como a candidata é recebida pelos partidos políticos, a pesquisa mostra que é comum essas mulheres serem infantilizadas nesse processo, e assim, suas candidaturas tratadas como sendo de baixa competitividade, consequentemente recebendo menos apoio do partido. E nesse assunto a pesquisa é muito clara, “sem dinheiro não há campanha”. O apoio financeiro dos partidos para as campanhas femininas é crucial para que elas sejam eleitas.