O roto falando do esfarrapado. O mal-lavado atacando o imundo. O fedido investigando o putrefato. Cada um procurando no outro erros maiores para justificar a própria imundice. A verdade é que apenas poucos, com honrosas exceções, livram-se do mar de lama que envolve a política nacional. Em princípio, o real ninho da serpente pode ser creditado ao famoso jeitinho brasileiro que, com sua pouca memória, legitima não só o mandato de cidadãos notoriamente corruptos, como também reconduz, aos poderes Legislativo e Executivo, anões e duendes da selva do submundo.
Vender voto por óculos, camiseta ou boné, em princípio, iguala-se ao ato de trocar posição ideológica e comprometimento humano por envelopes de suborno. O preceito corruptível é o mesmo e a falta de responsabilidade social é tão danosa quanto aquela que leva os cofres públicos ao definhamento.
Aos eleitores cuidadosos, restou o assombro de assistir o caminhar da política nacional, em sua luta em prol da conquista da democracia, praticando atos em causa própria. Já escolhemos loucos, topetudos e bigodudos, na busca da igualdade social e na esperança de angariarmos justiça, democracia e esperança. Colhemos escândalos novelísticos, desemprego e crise interna.
Olhamos com esperança para o casal de sociólogo e antropóloga, na expectativa de assistir o desenvolver de um governo que trabalha pela causa humanista e trata, filosoficamente, o povo com respeito e consideração. No entanto, testemunhamos o pregão do país, que foi colocado em leilão em prol de interesses internacionais.
Mudando de tática, elegemos o trabalhador para conquistar, pelo menos, a lisura que acompanhava as promessas eleitorais. Recebemos em troca a aniquilação total de toda e qualquer fé na política nacional.
O próximo passo, de responsabilidade de cada um dos eleitores deste país, é lembrar que cada voto encerra em si os desígnios de toda uma nação. O futuro a nós pertence e, mesmo sem esperanças, devemos escolher melhor os que nos representam e tutoram os bens e empresas construídas com o nosso próprio suor.
* Claudia Spessatto, natural de Uruguaiana (RS), é jornalista e artista plástica. Atua profissionalmente em Brasília, no Congresso Nacional, desde 1982. Mais informações: http://www.claudiaspessatto.pop.com.br
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