Publicidade
Expandir publicidade
Quando olhamos de maneira atenta as verdadeiras histórias da humanidade (as que publicam desde há quase meio século os centros científicos) comprovamos que poucas vezes uma causa justa pôde ser vencida por um país sozinho.
De fato, um país é um território limitado por uma linha convencional, cujos habitantes são regidos por instituições que, em quase 90% dos casos, representam (ainda nos dias de hoje) os interesses das classes que geraram e mantiveram os processos de opressão: militarismo, patriarcado, superstição, racismo, misoginia, chauvinismo, ignorância, submissão, e assim por diante.
O internacionalismo é o reconhecimento de que todos os seres humanos temos uma mesma base biológica e que fomos capazes de avançar ao longo do processo de evolução (como também aconteceu com outras espécies, mas não com todas) por causa da solidariedade e do afeto com outros seres de nosso espécie e até com membros de outras.
> Vídeo: Bolsonaro recebe Guaidó e prega “democracia e eleições limpas” na Venezuela
Se há uma parte da humanidade (que talvez nem passe do 10% do total) factualmente inimiga da maioria que procura a felicidade e o entendimento, não é porque essa parte tenha algum “dom” especial, mas porque, com base no poder econômico, nos mitos e nas armas, conseguiu conquistar o poder político e jurídico e manter seus rebanhos humanos sob um clima de terror, conflito e punição.
Sem a unidade internacional dos povos (não digo os governos), talvez o nazismo não tivesse sido derrotado, como o prova o papel fundamental que tiveram, na Segunda Guerra, os marquisards, os partigiani, os rebeldes holandeses e escandinavos, e a população civil dos povos eslavos, bem como os judeus que se rebelaram mesmo sem esperança de salvação. Não foram De Gaulle, Stalin e Churchill que salvaram o mundo, embora tenham participado.
É importante que Nicolás Maduro tenha reconhecido isso. Os movimentos progressistas da América Latina conhecem o exemplo das Brigadas Internacionais da Espanha, formadas por voluntários civis, que, entre 1936 e 1939 enfrentaram o fascismo mais brutal da história. As forças democráticas foram derrotadas, mas a luta contra o fascismo não é um torneio para premiar o vencedor. É uma luta pela dignidade, que, vitoriosa ou não, serve como exemplo a outros povos para enfrentar essas mesmas forças cada vez que aparecem, como aconteceu com o nazismo.
Que a defesa por exércitos profissionais não é suficiente pode ser provado facilmente a partir de um exemplo singelo. O fascismo italiano foi derrotado militarmente em 1945, mas ele se recuperou nos anos 50, e a partir daí desenvolveu seu máximo de violência (por exemplo, os chamados stragi), que ultrapassou muito ao da época de Mussolini.
A luta antifascista popular, progressista e civil, abriu o caminho a um progresso que, embora seja muito menor do que a humanidade precisa, é maior do que poderia ter imaginado o mais fantasioso escritor. A partir de 1945, caiu a maioria das monarquias; criou-se a ONU; começou o combate contra o racismo; houve uma grande campanha, ainda em marcha, contra a pena de morte; foram quebrados muitos vínculos coloniais, e cresceu no mundo a repulsa moral contra o belicismo e o armamentismo. Se a América Latina está hoje em desvantagem, é porque nossa opressão imperialista e colonial foi muito violenta para ser superada em 500 anos.
Outro exemplo próximo é o de Cuba. Após a derrubada da ditadura pró-americana, a ilha recebeu brigadas de colaboradores do mundo todo, incluindo figuras célebres da Europa e dos próprios EUA, das quais talvez a mais prestigiosa tenha sido o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. O principal esforço da luta foi feito pelos próprios cubanos, mas a possibilidade de resistir foi aumentada pela colaboração de voluntários de todas as partes do planeta. Hoje Cuba talvez não tivesse tantos médicos se não fosse pelos voluntários estrangeiros que ajudaram a criar as escolas de medicina na ilha.