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Congresso em Foco
4/12/2018 7:30
 
 
 Bolsonaro e Felipão compartilham uma personalidade truculenta e visões desatualizadas sobre o mundo, opina o mestre em Filosofia David Emanuel - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil[/caption]
 
No entanto, forças do atraso brecam tal salto, impondo um custoso imobilismo. Em uma tentativa de contornar o problema, tais forças recriam personagens e mentalidades já historicamente caducas, as trazendo para o centro da sociedade, como se fossem alternativas de mudança. E é isto que explica Bolsonaro presidente e Felipão campeão.
No futebol e na política a crise gera um rebaixamento das perspectivas e lideranças. Embora possuam diferenças particulares, o essencial do problema nos dois âmbitos está no afastamento deles em relação à vida cotidiana do povo brasileiro. Futebol e política não possuem mais contato com interesses e aspirações populares.
No caso da política, houve um profundo sequestro dos poderes institucionais por parte do grande capital, tornando o sistema impenetrável às demandas populares. Tal fato gerou descrédito do regime político e ampliou a sensação do "cada um por si".
Já no futebol, o processo de elitização e de subordinação colonial - fenômenos símios, cujo centro está na transformação do esporte em puro commodity - conduziu o outrora mais popular esporte nacional a uma situação de decadência,
O Brasil virou mero fornecedor de "pé de obra", exportando jogadores não apenas para o mercado europeu, mas também para países futebolisticamente inexpressivos, como Arábia Saudita, China, Emirados Árabes, Rússia, etc.
O resultado não poderia ser outro: transformado em simples produtor primário de jogadores e afastado do ethos popular, o futebol brasileiro definhou tecnicamente, passando a contar com jogadores de terceira categoria e refugos. A orientação do futebol nacional passou a ser exportar e não mais vencer.
A Copa do Mundo mostra sem sombra de dúvidas a deplorável situação técnica do futebol brasileiro, onde mesmo contando com jogadores nos principais times da Europa, as comissões técnicas brasileiras não conseguem impor um esquema tático à altura dos padrões europeus e capaz de dar unidade aos díspares sistemas jogados por cada atleta em seus clubes, fazendo surgir, no máximo, um amontoado de estrelas e não um time de futebol.
A mídia esportiva brasileira aponta corretamente o caráter tecnicamente inferior do futebol brasileiro, mas erram ao não descer aos níveis mais profundos, apontando o caráter estrutural do atraso técnico. Por estar também ela apegada à lógica colonial do futebol, não consegue perceber a natureza social do atraso brasileiro no esporte.
A saída, então, acaba sendo apegar-se ao passado e partir para romantismos. É justamente o romantismo dos "bons tempos" uma das fontes de que se alimentam Felipão e Bolsonaro. Afinal, se o ponto é voltar-se ao passado, nada melhor que figuras que personificam o historicamente superado em carne e osso.
O baixo nível técnico do futebol brasileiro torna-se passarela para o desfile do jurássico Felipão, mais ou menos como faz Bolsonaro no mundo da política, onde pode gabar-se de não ser corrupto, em um contexto dominado pela roubalheira generalizada. No fim, é o coroamento dos medíocres no império dos insignificantes.
Na verdade, Felipão e Bolsonaro são sintomas simétricos - em suas respectivas áreas - do impasse social brasileiro diante da sua crise: incapaz de avançar para o novo, o país prefere recuar para o velho. O atraso está justamente em perceber o nível de rebaixamento vivenciado na vida política e esportiva, mas buscar sua solução não indo à frente, mas tentando trazer de volta o que já se foi.
Para avançar, seria necessário romper com as forças do atraso, tomando uma decisão firme de modificar profundamente a realidade social brasileira, restaurando o futebol e a política para o povo brasileiro. Mas, isto, contudo, implicaria enfrentar poderosos interesses econômicos.
* Bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde atualmente cursa o doutorado. É colunista do site Naufrago da Utopia, de Celso Lungaretti.
 Bolsonaro e Felipão compartilham uma personalidade truculenta e visões desatualizadas sobre o mundo, opina o mestre em Filosofia David Emanuel - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil[/caption]
 
No entanto, forças do atraso brecam tal salto, impondo um custoso imobilismo. Em uma tentativa de contornar o problema, tais forças recriam personagens e mentalidades já historicamente caducas, as trazendo para o centro da sociedade, como se fossem alternativas de mudança. E é isto que explica Bolsonaro presidente e Felipão campeão.
No futebol e na política a crise gera um rebaixamento das perspectivas e lideranças. Embora possuam diferenças particulares, o essencial do problema nos dois âmbitos está no afastamento deles em relação à vida cotidiana do povo brasileiro. Futebol e política não possuem mais contato com interesses e aspirações populares.
No caso da política, houve um profundo sequestro dos poderes institucionais por parte do grande capital, tornando o sistema impenetrável às demandas populares. Tal fato gerou descrédito do regime político e ampliou a sensação do "cada um por si".
Já no futebol, o processo de elitização e de subordinação colonial - fenômenos símios, cujo centro está na transformação do esporte em puro commodity - conduziu o outrora mais popular esporte nacional a uma situação de decadência,
O Brasil virou mero fornecedor de "pé de obra", exportando jogadores não apenas para o mercado europeu, mas também para países futebolisticamente inexpressivos, como Arábia Saudita, China, Emirados Árabes, Rússia, etc.
O resultado não poderia ser outro: transformado em simples produtor primário de jogadores e afastado do ethos popular, o futebol brasileiro definhou tecnicamente, passando a contar com jogadores de terceira categoria e refugos. A orientação do futebol nacional passou a ser exportar e não mais vencer.
A Copa do Mundo mostra sem sombra de dúvidas a deplorável situação técnica do futebol brasileiro, onde mesmo contando com jogadores nos principais times da Europa, as comissões técnicas brasileiras não conseguem impor um esquema tático à altura dos padrões europeus e capaz de dar unidade aos díspares sistemas jogados por cada atleta em seus clubes, fazendo surgir, no máximo, um amontoado de estrelas e não um time de futebol.
A mídia esportiva brasileira aponta corretamente o caráter tecnicamente inferior do futebol brasileiro, mas erram ao não descer aos níveis mais profundos, apontando o caráter estrutural do atraso técnico. Por estar também ela apegada à lógica colonial do futebol, não consegue perceber a natureza social do atraso brasileiro no esporte.
A saída, então, acaba sendo apegar-se ao passado e partir para romantismos. É justamente o romantismo dos "bons tempos" uma das fontes de que se alimentam Felipão e Bolsonaro. Afinal, se o ponto é voltar-se ao passado, nada melhor que figuras que personificam o historicamente superado em carne e osso.
O baixo nível técnico do futebol brasileiro torna-se passarela para o desfile do jurássico Felipão, mais ou menos como faz Bolsonaro no mundo da política, onde pode gabar-se de não ser corrupto, em um contexto dominado pela roubalheira generalizada. No fim, é o coroamento dos medíocres no império dos insignificantes.
Na verdade, Felipão e Bolsonaro são sintomas simétricos - em suas respectivas áreas - do impasse social brasileiro diante da sua crise: incapaz de avançar para o novo, o país prefere recuar para o velho. O atraso está justamente em perceber o nível de rebaixamento vivenciado na vida política e esportiva, mas buscar sua solução não indo à frente, mas tentando trazer de volta o que já se foi.
Para avançar, seria necessário romper com as forças do atraso, tomando uma decisão firme de modificar profundamente a realidade social brasileira, restaurando o futebol e a política para o povo brasileiro. Mas, isto, contudo, implicaria enfrentar poderosos interesses econômicos.
* Bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde atualmente cursa o doutorado. É colunista do site Naufrago da Utopia, de Celso Lungaretti.
 
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