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Congresso em Foco
11/7/2011 | Atualizado 13/7/2011 às 11:33
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O homem que manipula serpentes e cutuca felinos com tanta intimidade foi definido pelo ex-embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Clifford Sobel, como "um dos mais confiáveis líderes do Brasil". A inconfidência revelada pelo site WikiLeaks brotou de um animado café da manhã na embaixada em janeiro de 2008, pinçada num dos 1.947 telegramas enviados a Washington entre 1989 e 2010. Tanto entusiasmo pode garantir ao diplomata americano um lugar de honra na lista de Jobim daqueles tolinhos que trocaram a modéstia pelo atrevimento.
O mesmo Nelson Jobim reagiu, sem nenhuma diplomacia, à decisão de dezembro passado da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, condenando o Brasil pela falta de investigação sobre os desaparecidos na Guerrilha do Araguaia e cobrando a punição aos torturadores, em franco desacordo com a indulgente Lei da Anistia aprovada em 1979 no Governo Figueiredo, o último da ditadura. "É uma decisão meramente política, sem nenhum efeito jurídico", bufou Jobim, ignorando os desdobramentos internacionais que podem agravar o prontuário do Brasil, levando o país ao banco dos réus no Tribunal Internacional de Justiça, órgão da ONU com sede em Haia. Nem o mais idiota aprendiz do Direito ousaria repetir Jobim, que alcançou a presidência do Supremo Tribunal Federal brasileiro, egrégio recinto onde o preceito legal (Art. 101 da Constituição) só faculta a presença de juristas de notável saber jurídico, embora nem sempre modestos.
Apesar do lustro, na condição de vice-presidente do STF, Jobim passou pelo constrangimento de ver eminências como Dalmo Dallari e Fábio Konder Comparato pedirem em 2005 o seu impeachment pela confissão de uma fraude: a inserção de artigos não votados na Constituinte de 1988. Quando se completaram 15 anos da nova Carta, Jobim - um dos redatores do texto final da Constituição - alegou que as modificações não passaram pelos dois turnos do plenário da Constituinte, mas se submeteram a uma votação final de turno único. "Equivalia a um terceiro turno e, portanto, legítima. Tudo foi transparente", disse Jobim em 2003, depois de manter o segredo por uma década e meia. "Foi um pacto firmado com Ulysses Guimarães", justificou. Como o presidente da Constituinte morreu num acidente aéreo onze anos antes, em 1992, o 'pacto de silêncio' nunca pôde ser confirmado.
Dois professores da Universidade de Brasília (UnB) - Adriano Benayon, doutor em Economia, e Pedro Antônio Dourado de Rezende, matemático e professor da Ciência da Computação - fizeram em agosto de 2006 um esmerado estudo de 52 páginas sobre o vôo solo de Jobim, que ganhou um título eloquente: "Anatomia de uma fraude à Constituição". Segundo os autores, a inserção feita no Art. 166 beneficiaria diretamente os credores da dívida externa. As mudanças foram feitas na etapa final da Constituinte, quando a assembléia fazia apenas acertos no texto, admitindo somente emendas para melhorar a redação ou suprimir dispositivos. Benayon e Rezende avaliaram o requerimento feito para fundir os artigos 171, 172 e 173.
A alínea B do Art. 172 (atual 166) previa não ser mais necessário indicar fontes de receita nas emendas vinculadas ao pagamento do 'serviço da dívida'. Em vez da firma dos líderes de todos os partidos, anotam os autores, ali estão apenas as assinaturas de Jobim e do falecido líder do PTB, deputado Gastone Righi (SP).
A mudança determinou a liberação do pagamento de juros e amortizações da dívida, ou seja, a quitação passou a ser feita com recursos de qualquer setor. O valor pago pelo serviço da dívida pública foi gerado principalmente pela fixação de altas taxas de juros. Conclusão do estudo sobre a fraude: "O mecanismo das altas taxas reais de juros, combinado com a capitalização destes, gera o crescimento automático das despesas com o serviço da dívida, além de causar a elevação de seu saldo". Os professores da UnB dizem que o aumento das despesas resultou no enfraquecimento da economia brasileira e submeteu o país ao controle de grandes grupos financeiros.
O jornalista Sebastião Nery, que nunca foi idiota, leu tudo isso e lembrou que durante anos, ainda como deputado federal, Jobim foi sócio de um famoso escritório de advocacia em Brasília, ao lado de Eliseu Padilha, futuro deputado pelo PMDB gaúcho e futuro ministro de FHC.
Um dos clientes do escritório, lembra Nery, era um dos maiores bancos dos Estados Unidos - o Citibank -, que chegou a ser o maior credor da dívida externa brasileira.
Algo ainda mais grave ocorreu agora neste país cada vez mais idiota diante de tanto absurdo. Na quarta-feira passada (6), o jornal Correio Braziliense noticiou que sumiram os documentos funcionais do tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima, alvo de uma ação civil pública na 4ª Vara Cível de São Paulo. Ele e mais três oficiais são acusados pela morte em 1971 na OBAN (Operação Bandeirante, centro da repressão no II Exército) de seis presos políticos e pela tortura em 20 guerrilheiros - uma delas uma jovem de 22 anos da VAR-Palmares, codinome "Estela", chamada Dilma Rousseff.
Pois o Ministério da Defesa do ministro Jobim acaba de informar ao Ministério Público Federal que os documentos que poderiam atestar o envolvimento do oficial Lopes Lima na tortura à guerrilheira Dilma - hoje comandante-suprema das Forças Armadas - simplesmente sumiram. A União deu uma cândida explicação à Justiça: "Vários dos possíveis documentos referentes aos acontecimentos mencionados, bem como os eventuais termos de destruição, foram destruídos [sic]".
Ou seja: a destruição foi autorizada (por quem?), e os documentos que atestavam esta estranha liberalidade acabaram também curiosamente destruídos (por quê?)...
Ministro Jobim, qual idiota - por mais despudorado que seja - acreditará nesta tolice?
Por quem e por quê seríamos tão idiotas, ministro Jobim?
Os papéis desapareceram, como ainda estão oficialmente desaparecidos 144 dissidentes políticos da "revolução democrática" de 1964. Na sua defesa, o tenente-coronel Lopes Lima saca do mesmo cinismo de Jobim para desdenhar da condenação da OEA: "Qualquer que seja a decisão da Convenção Americana de Direitos Humanos sobre a matéria, sua relevância será nenhuma", diz o réu da OBAN. Dilma Rousseff insiste que foi duramente torturada na OBAN pela equipe de Lopes Limas, acusação que ele nega.
O garboso ministro da Defesa já deve ter percebido que a atual ocupante da cadeira presidencial não chega devagar, não fica quieta, não é modesta e muito menos idiota.
Espera-se que Nelson Jobim tenha, no mínimo, a humildade para perceber também que 190 milhões de pessoas não são idiotas.
O povo brasileiro exige respeito, ministro Jobim!
*Jornalista e nem sempre idiotaImposto sobre Apostas
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