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Congresso em Foco
29/12/2008 | Atualizado às 16:43
Edgard Marra
Sylvio Costa
Os escritores, e colunistas do Congresso em Foco, Marcelo Mirisola e Márcia Denser formam um caso único na cena literária brasileira. Reconhecidos pela crítica como dois dos nomes mais importantes da prosa nacional contemporânea, distinguem-se pelo destemor com que expressam suas opiniões.
Deram novas provas disso ao participarem no último dia 19 de um debate, sobre os rumos da literatura contemporânea, no Espaço Brasil Telecom, em Brasília. Algumas afirmações feitas pela dupla durante o debate, mediado pelo jornalista e professor Sérgio Sá:
- O escritor português José Saramago é um chato. Assim como Clarice Lispector e Virginia Woolf.
- Se aparecessem hoje, pessoas como José Carlos de Oliveira, Paulo Mendes Campos e Nelson Rodrigues provavelmente não teriam espaço nos principais jornais do país, que fecharam as portas para os escritores brasileiros.
- A falta de originalidade e de grandes talentos marca a produção literária atual, tanto no Brasil quanto no mundo.
- O escritor brasileiro é um pangaré, que vive das migalhas que seus contatos (e não seu eventual talento) lhe garantem.
- Debilitaram-se os vínculos entre os meios universitários e os mais inventivos autores nacionais contemporâneos, e a academia recuou no tempo, priorizando o estudo de grandes nomes da literatura brasileira do passado, como Machado de Assis e Guimarães Rosa.
Pois é, a dupla não tem papas na língua e, concordemos ou não com suas opiniões, eles nos fazem pensar. Por isso, integram, para nosso orgulho (alô, mamãe!), o time de colunistas do Congresso em Foco. E, por isso, decidimos brindar vocês, leitoras e leitores, com os principais trechos do citado debate. Vai como uma espécie, digamos, de bônus de Ano Novo. Os temas tratados não dizem respeito exclusivamente ao mundo da literatura. Se você se interessa por cultura brasileira ou tem alguma pretensão de entender um pouquinho este país complexo chamado Brasil, vale a pena ouvir o que Márcia e Mirisola dizem.
O recuo da universidade
Márcia Denser – Antônio Cândido é o nosso grande mestre, é o nosso guia espiritual ainda porque não se forjou algum outro parecido, nesse meio tempo. Até porque até a geração de Antônio Cândido e a geração posterior a ele, o pessoal da universidade acompanhava a par e passo o trabalho dos escritores. Interessante que o trabalho deles acadêmico , de pesquisa, ia crescendo ao mesmo tempo em que o nosso trabalho, de ficção, ia crescendo, as apostas eram recíprocas. Hoje, a universidade recuou. Recuou para Machado, recuou para 1930, recuou para nomes consagrados como Guimarães Rosa. (...) Há um recuo da universidade, há um recuo do pensamento construído, a extinção do pensamento dos inteligentes, e isso é muito triste. Porque a literatura tem que ir, passo a passo, junto com o pensamento que se produz a respeito dela.
A atual geração de escritores
Márcia – O que eu percebo na geração do Marcelo [Mirisola], que é uma geração posterior à minha, é que o Marcelo apareceu quase que como uma estrela solitária, em meio a essa geração dos anos 90. Na minha geração, havia muitos escritores muito bons, mulheres e homens. Na geração dele, como ela é uma a geração epigonal, ela duplica aquilo que a gente já tinha feito, não inventou nada de novo. Novo foi o Mirisola.
Marcelo Mirisola – Eu li outro dia... por que não existem mais escritores, cadê os gênios, essa coisa toda e tal... quem foi que escreveu? Acho que foi no Jornal do Brasil... ele disse que no Brasil existem dois escritores, um morto e um vivo, o Machado de Assis e o Cristóvão Tezza, né?
Márcia – Que ninguém lê...
Mirisola – Você não leu também?
Márcia – Não.
Mirisola – Eu também não. Mas o livro [O filho eterno] é bom mesmo?
Sérgio – O livro é bom, mas é sintomático de uma situação. Ganhou todos os prêmios e não é lido, não está na lista dos best sellers.
Márcia – Não é lido pelos escritores, e quem consagra um escritor é outro escritor... (fala que, quando Mirisola apareceu, foi uma unanimidade, todo mundo lia e comentava)
Sérgio – E os escritores não estão se lendo, é isso? Falam uns dos outros, mas não se lêem...
Márcia – Não, por exemplo, o Milton Hatoum é uma coisa que... se fosse algo inquietante, eu...
Sérgio – E o Milton Hatoum não é inquietante?
Márcia [confirma com a cabeça e acrescenta] – E Cristóvão Tezza, para mim, não é interessante...
Sérgio – Quem são os interessantes, Márcia, além do Mirisola?
Márcia – Isso aí deixa a gente constrangida porque, sabe, eu estou esperando alguém interessante...
(...)
Sérgio – Se não há nada interessante no Brasil, no resto do mundo não há nada interessante, que atraia a atenção de vocês dois?
Márcia – Não, também não tem. Nada.
Mirisola – Você já leu Bolaño, Márcia? Eu gosto, acho um cara interessante.
Sérgio – Roberto Bolãnho, escritor chileno, morreu em 2003...
Márcia – Eu estive na Alemanha, na Espanha... e na Europa a esperança deles é que surja alguma coisa no Third World, na América Latina, nos países africanos... Não há criação de linguagem.
Sérgio – Quero entender qual é o problema da literatura de hoje...
Márcia – Veja o caso do Marcelo. O que ele faz é absolutamente novo. É uma coisa que se chama originalidade, talento, entende? Você não fica lendo “dejá li”, e é uma coisa que você não encontra facilmente em outros autores.
Sérgio – Marcelo, você também não vê nada de interessante no p
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