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Para além de cartões e tostões

Congresso em Foco

8/2/2008 0:00

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Celso Lungaretti*

O escândalo da vez é o dos cartões corporativos, que funcionavam como um cheque em branco concedido pelo governo federal a 11.510 privilegiados, para adquirirem o que bem entendessem à custa do Erário.

A dinheirama desviada dos cofres públicos para bolsos privados é, decerto, irrisória, se comparada com as negociatas que vieram à tona no caso do mensalão. A máquina de fazer dinheiro do Zé Dirceu era alimentada por grandes grupos empresariais, que, como contrapartida pelos favorecimentos governamentais escusos, forneciam ao PT o argumento sonante para a compra de apoio parlamentar e outras iniciativas visando à sua eternização no poder.

Isso estava tão distante do universo mental dos brasileiros pobres (a maioria) que, apesar da gravidade dos delitos constatados, não houve clamor popular exigindo punições e o principal responsável pelo funcionamento de tal organização criminosa não só escapou do impeachment como acabou sendo reeleito sem maiores dificuldades, enquanto outros óbvios culpados eram (re)conduzidos ao Congresso.

Agora, no entanto, a malversação do dinheiro público evidencia-se até para os moradores dos grotões, daí a presteza com que se sacrificou o primeiro bode expiatório, numa tentativa de se preservar o restante do rebanho caprino. Tudo indica, entretanto, que a guilhotina funcionará novamente, até que seja saciada a sede de sangue dos pagadores de impostos.

De resto, há uma pergunta que não quer calar: bastará cortarmos cabeças para que sejam extirpadas as grandes mazelas nacionais? Um sistema que funcionasse a contento, sem a venalidade dos políticos atuais, tiraria o Brasil da desonrosa posição de 70º colocado no ranking de desenvolvimento humano da ONU, atrás de Tonga e da Costa Rica?

Tudo indica que não. O custo do Estado crapuloso, perdulário e ineficiente é apenas agravante, não causa, de nossa geração insuficiente de riquezas e da terrível desigualdade na distribuição de renda (um escândalo muito maior do que os episódios de corrupção!).

Temos hoje um tal entrelaçamento dos negócios, sob o capitalismo globalizado, que as decisões fundamentais não estão mais nas mãos dos governos. Ou estes se sujeitam a imposições transnacionais e mantêm seus países como elos da grande corrente ou os verão excluídos do fluxo do comércio, das novas tecnologias e dos capitais, o que equivale a uma condenação à penúria. Daí a persistência da mesmíssima política econômica sob Itamar, FHC e Lula, apesar das diferenças ideológicas existentes entre os três.

Então, se o poder político decide apenas o acessório, não é de estranhar que se tenha transformado numa novela “contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”, como diria Shakespeare.

A espetacularização marcha ao lado da irrelevância. Os sucessivos escândalos entretêm e fornecem catarse às platéias, mantendo seus olhos convenientemente longe dos palcos em que seu destino é decidido e incapazes de compreender o funcionamento da engrenagem perversa que tritura as esperanças do povo brasileiro.

Não se lê nos jornais e revistas, por exemplo, que o faturamento de um único grande banco ultrapassa todo o montante de dinheiro desviado nesses episódios que causam tanta indignação; e que bancos são a quintessência da inutilidade e do parasitismo, a agiotagem que não ousa dizer seu nome, em nada contribuindo para o bem comum.

A mídia, que tem enorme responsabilidade na bovinização da opinião pública, omite também que a própria lógica do capitalismo induz os seres humanos à ganância e à busca do privilégio, daí a dificuldade em incutir nos homens públicos o respeito pelo dinheiro público, bem como as constantes transgressões a essa norma em todo o planeta.

Enquanto tivermos nossa atenção ocupada por Severinos, Renans, Beneditas, Matildes e que tais, não estaremos refletindo sobre como aproveitarmos melhor o potencial produtivo que hoje permitiria proporcionar-se a cada cidadão do planeta uma existência verdadeiramente digna.

Competiria à esquerda recolocar os projetos alternativos de sociedade no centro das discussões, pois só aos defensores do status quo interessa o aviltamento da política, reduzida a um interminável revolver de lama.

Mas, para tanto, a esquerda precisa ser a primeira a dar exemplo de conduta impecável, não praticando nem compactuando com a ganância e a busca do privilégio.

Em 1968, falava-se que os empenhados em construir um mundo novo teriam de, paralelamente, ir construindo a si próprios como homens novos, sob pena de contaminarem a sociedade sonhada com os vícios herdados da sociedade execrada. É algo em que se pensar.

*Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista em São Paulo, com longa atuação em redações e na área de comunicação corporativa, e escritor. Escreveu Náufrago da utopia (Geração Editorial, 2005). Mais dele em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/.

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