O
apelo do presidente Lula para o fim das disputas internas dentro do PT foi rebatido pelo grupo que defende a rediscussão do programa e das bandeiras históricas do partido durante o encontro do Diretório Nacional, em Salvador. Para a governadora do Pará, Ana Júlia (PT), o presidente foi infeliz em seu discurso porque reprovou o debate e as divergências.
“Não deixo de ser uma militante lulista, mas acho que não foi o mais adequado para o momento. Desestabilizar o debate interno não é a melhor proposta no momento que o PT se prepara para um terceiro congresso. Nosso maior patrimônio é a capacidade de bater e construir a unidade”, disse a governadora.
Um grupo ligado ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, divulgou nesta tarde um documento, intitulado "Mensagem ao partido", em que critica a postura do partido durante a crise que atingiu o primeiro mandato do governo (
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Uma das signatárias do documento, Ana Júlia criticou abertamente o predomínio do Campo Majoritário nas decisões da legenda. “Esse debate amplo, onde não se constitua um novo Campo Majoritário, nós não queremos outro Campo Majoritário. Nós queremos que o Partido dos Trabalhadores esteja a altura do desafio de colocar para o país uma nova agenda e um novo modelo de desenvolvimento”, afirmou.
Em entrevista ao portal G-1, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) também criticou a declaração do presidente de que é preciso que “os companheiros sejam mais companheiros” e deixem de “atirar no próprio pé”. Para Cardozo, a unidade pedida pelo presidente não pode limitar o partido.
“O presidente Lula defendeu que temos que estar unidos, mas em que termos? Não pode ser na base de que um decide e os outros obedecem'', disse o deputado. “A unidade se faz na discussão das divergências, com respeito às minorias”, observou o deputado, outro signatário do documento.
Principal articulador do texto, Tarso Genro procurou minimizar o efeito das declarações de Lula. Petistas do Campo Majoritário entenderam que o apelo do presidente foi endereçado a Tarso. “O presidente não precisa me mandar recado, ele me orienta na hora que ele quiser'', reagiu o gaúcho aos questionamentos dos jornalistas.
Segundo o ministro, Lula quis estimular o debate, e não o contrário. “Acho que a fala do presidente estimula o debate, centrando o futuro do partido num objetivo estratégico. Essa visão que ele colocou, e que é muito clara para nós todos, de que ele não vai arbitrar as contendas do partido é essencial.”
“O presidente deixou claro o recado de que o PT tem a responsabilidade de ajudar a governar o país e advertiu para o risco de a disputa interna comprometer nosso papel maior”, disse o presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Uma comissão de tese vai debater o manifesto, que será discutido profundamente durante o 3º Congresso Nacional do PT, em julho, em Brasília.