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Congresso em Foco
26/11/2006 | Atualizado 28/11/2006 às 7:13
Ricardo Taffner
Apesar de ter evocado o discurso do "governo de coalizão" todas as vezes em que mexeu no ministério, o presidente Lula foi generoso com os companheiros petistas ao longo de todo o primeiro mandato. Dos 63 ministros nomeados pelo presidente, 30 exerceram suas funções filiados ao Partido dos Trabalhadores. Juntos, os demais partidos da base aliada tiveram de se contentar com 18 nomes. Outros 15 ministros assumiram o cargo sem filiação partidária.
Depois do PT, o PMDB foi o partido que mais ocupou espaço no primeiro escalão ao emplacar cinco peemedebistas: dois no Ministério das Comunicações, dois na Previdência Social e um na Saúde.
O PSB - que fez três ministros na Ciência e Tecnologia e herdou a Integração Nacional com a filiação de Ciro Gomes, até então no PPS - aparece logo à frente do PCdoB e do PL, que tiveram três de seus quadros no comando de ministérios, de acordo com levantamento feito pelo Congresso em Foco (veja a distribuição dos cargos).
Algumas legendas com menor participação, como PV, PTB, PDT, PPS e PRB, também comandaram uma pasta cada. As cotas dos partidos mudaram durante a primeira gestão de Lula devido à migração de alguns ministros para outras legendas.
Com o posicionamento do PPS como oposição, Ciro Gomes deixou a sigla para se filiar ao PSB, em maio de 2005. O vice-presidente e então ministro da Defesa, José Alencar, também enfrentou problemas no PL e decidiu fundar o PRB, em agosto de 2005.
Enquanto conversa com representantes de uma dezena de partidos e adia o anúncio do novo ministério, Lula promete, enfim, pôr em prática o discurso do "governo de coalizão" no segundo mandato.
"O governo será composto de uma forma diferente. Quero construir alianças com partidos políticos, o que importa são as políticas públicas que o governo vai colocar em prática", disse o presidente no último dia 8. "O PT vai ter a participação no governo que tem o tamanho do PT", anunciou. Espera-se, assim, que o presidente diminua a hegemonia que legenda protagonizou até agora.
Entre técnicos e aliados
Na primeira formação do governo, 20 pastas foram destinadas a nomes ligados ao PT. Nem todos eram filiados ao partido, caso do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Cinco órgãos foram ocupados com perfis considerados técnicos. Enquanto isso, PSB, PV, PCdoB, PL, PTB, PPS e PDT - os dois últimos, hoje na oposição - ganharam apenas um cargo cada um. A configuração do grupo montado por Lula surpreendeu especuladores e analistas políticos ao deixar de lado antigos companheiros, como o senador Aloizio Mercadante (SP) e o então presidente do PT, José Genoino (veja a relação completa dos ministros de Lula).
Muitos viram no primeiro ministério, incluindo a ausência de Mercadante e Genoino, forte influência do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que teria a intenção, segundo essa interpretação, de não ver ofuscado seu poder sobre o PT paulista.
Na primeira reforma, em janeiro de 2004, Lula cedeu dois ministérios aos peemedebistas para conquistar o apoio do partido dos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). O PCdoB, na mesma ocasião, também ganhou mais uma função, na Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, emplacando Aldo Rebelo no núcleo decisório do governo. Outra alteração: o ex-aliado PDT foi retirado da base de apoio, perdendo representatividade na Esplanada dos Ministérios.
Mudanças na crise
Em julho de 2005, sob o fogo cruzado da crise do mensalão e com a saída de José Dirceu da Casa Civil, o presidente colocou em ação o segundo rearranjo ministerial, manobra que o levou a mexer em dez pastas. Tentando se aproximar do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP), Lula aceitou a indicação de Márcio Fortes para o Ministério das Cidades. Contemplou ainda o PMDB com os ministérios da Saúde, entregue ao deputado mineiro Saraiva Felipe, e de Minas e Energia, destinado a Silas Rondeau, afilhado político de Sarney.
Posteriormente, Lula se viu obrigado a mexer onde menos queria: no comando da economia. A denúncia de que o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estaria por trás da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, aliada a uma série de acusações contra o mais poderoso dos homens do presidente, forçou Lula a deslocar Guido Mantega do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a principal pasta da área econômica.
A última movimentação significativa de Lula serviu para liberar nove ministros para disputar as eleições de 2006. Ao final do primeiro mandato, o presidente da República mantém 18 pastas nas mãos de pessoas ligadas ao PT, três sob indicação do PMDB e duas do PSB. O PCdoB, o PL, o PTB e o PP terminam a atual gestão com uma pasta cada. Mesmo não integrando a base governista, o PV tem no ministério um de seus mais ilustres filiados - Gilberto Gil.
Os intocáveis
Dos 34 ministros nomeados por Lula em 2003, apenas nove se mantêm no cargo até agora. Álvaro Ribeiro da Costa (Advocacia Geral da União, AGU, sem partido), Gilberto Gil (Cultura, PV), Luiz Fernando Furlan (Indústria e Comércio Exterior, sem partido), Márcio Thomaz Bastos (Justiça, próximo ao PT), Marina Silva (Meio Ambiente, senadora licenciada do PT-AC), Celso Amorim (Relações Exteriores, sem partido), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presiência da República, PT) e Walfrido Mares Guia (Turismo, PTB) não foram, em nenhum momento, afetados pelas mexidas do presidente. O mesmo se deu com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, brindado com o status de ministro por Lula, via medida provisória, para ter direito ao foro privilegiado na Justiça.
Por sua vez, Tarso Genro, considerado o "coringa" de Lula, foi quem mais ocupou cargos diferentes. Em 2003, assumiu o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e um ano depois foi para o Ministério da Educação para substituir Cristovam Buarque - que foi demitido por telefone pelo presidente. No auge da crise política do ano passado, foi escalado para assumir a presidência nacional do PT. Por fim, Tarso tornou-se ministro de Relações Institucionais assim que Jaques Wagner se desligou do cargo para disputar, com sucesso, o governo da Bahia.
Dono do maior orçamento, o Ministério da Previdência Social foi também o que assistiu à maior rotatividade de ministros. Nem mesmo com a previsão orçamentária de R$ 190,3 bilhões para 2007, ele perdeu a condição de um dos mais espinhosos devido ao alto déficit anual e à dificuldade gerencial.
Depois de se tornar impopular ao enviar milhares de aposentados idosos às filas, o estreante Ricardo Berzoini deixou o comando do ministério para abrir caminho para o PMDB. Os senadores peemedebistas Amir Lando e Romero Jucá também passaram pelo órgão. Mas a responsabilidade de concluir a gestão, no primeiro governo Lula, ficou com o técnico Nelson Machado (sem partido), que está no comando do ministério desde julho do ano passado.
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