O candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, em sabatina promovida hoje (26) pelo jornal O Estado de S. Paulo, negou que exista uma contradição entre o discurso de fazer um ajuste fiscal no país e defender o reajuste de 16% aos aposentados e o piso nacional dos professores.
De acordo com ele, o ex-governador de São Paulo Mário Covas afirmava que não fazia o ajuste por "economês, mas exatamente para investir em educação, saúde, saneamento, para melhorar a vida das pessoas".
"Pretendo fazer a economia crescer mais depressa e segurar os gastos correntes para abrir espaço para investir em educação, melhorar a vida do povo e reduzir imposto", declarou.
Alckmin aproveitou a ocasião para criticar o descaso do governo com a educação básica. "Tem maioria para absolver mensaleiro, mas não tem para aprovar o Fundeb. Eu vou priorizar a educação básica. É óbvio que em estados menores você tem que ajudar para garantir no mínimo um piso de salário para o professor. Você complementa. O estado mais rico paga muito mais, mas você garante esse mínimo", ressaltou.
Sobre o aumento dos aposentados, o tucano censurou o governo por não ter concedido os 16%, o que totalizaria um gasto de R$ 8 bilhões. "Mas teve R$ 9 bilhões para dar para um fundo de pensão de uma empresa estatal", criticou.
Ainda dentro do tema economia, Alckmin endureceu o discurso contra o patamar atual da taxa Selic e de câmbio. "Não é possível o Brasil, um dos países mais injustos do mundo, querer fazer ajuste em cima do pobre. Ninguém vai na taxa Selic. Cada 1% são R$ 9 bilhões. Essa diferença dos juros do Brasil com os juros internacionais é uma das causas de elevar o câmbio. Onde foi parar, desindustrializando o país e fazendo a maior crise na agricultura nos últimos 40 anos", disse.
O tucano declarou ser possível uma política fiscal "mais firme", com política monetária com taxa de juros mais baixa, fazer o câmbio competitivo sem a necessidade de torná-lo fixo, e com isso "fazer o Brasil crescer".
Alckmin ainda afirmou que o preço dos alimentos vai aumentar após as eleições. "Estão enganando o povo. É óbvio que vai aumentar o preço da comida. Se você reduz a área plantada, tecnologia e produtividade, está aí o resultado. Óbvio que isso aí não tem efeito imediato, mas vai ter conseqüências graves após as eleições. A conta pós-eleitoral é pesada", ressaltou.
Ministérios
Ao ser questionado sobre a possibilidade de acabar com alguns ministérios, como a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (que tem status de ministério), Alckmin respondeu que "essa questão de ministério deve ser avaliada lá na frente". "O importante são as políticas públicas", disse.
De acordo com ele, o Brasil precisa voltar a ser um país de oportunidades. "Vou trabalhar para que, a partir de domingo, pois confio no resultado das urnas, possamos ter um governo com valores e princípios. Não tem mágica, mas trabalho, eficiência e equipe", declarou.
"Precisamos recuperar o conceito de política. Política não é uma coisa feia, não é um clube de má fama, não é ficha policial. Política é arte e ciência ao encontro do bem comum. Precisa gostar, ter dom, preparação, conhecimento, trabalho e esforço", completou.
Aborto, homossexualidade e drogas
Em pergunta enviada pelo vocalista do grupo Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, Alckmin foi questionado sobre os temas aborto, homossexualidade e drogas.
Sobre o aborto, o tucano enfatizou: "Sou contra, sou favorável ao planejamento familiar". Segundo Alckmin, em um provável governo, combaterá a gravidez indesejada com educação sexual, trabalho nas escolas e distribuição de métodos contraceptivos.
Quanto à homossexualidade, Alckmin declarou apenas que é favorável à união civil homossexual. "É um contrato, não vejo problema", disse.
Por fim, no tema drogas, o tucano ressaltou que a prioridade é combater o tráfico, com policiais atuando nas fronteiras do Brasil. "As drogas vêm de fora do país. Os policiais estaduais estão perdendo o forte escalão da droga, pegam moleque que distribui droga no bairro, isso não adianta. O Brasil não fabrica droga, as drogas vêm de fora. O que precisamos é de polícia de fronteira, inteligência policial, Polícia Federal e Forças Armadas", afirmou.
Em relação à dependência química, o candidato exemplificou relacionando o problema a uma pessoa que amputou a perna e continua com dor no pé, "a dor fantasma", que precisa ser controlada com morfina.
"Ela acaba ficando dependente, atrás da morfina, que leva as pessoas ao desespero, o mesmo acontece com as drogas. O que tem que ser feito? Oferecer trabalho por meio do SUS, com parcerias com empresas, especialistas, e o que o próprio governo tiver a oferecer. Seja álcool, sejam outras drogas, a idéia é ajudar e combater", declarou.