Reportagem da edição de hoje do jornal Folha de S. Paulo mostra que a proposta da Sadia para comprar a concorrente Perdigão, por R$ 3,72 bilhões, preocupou o setor varejista, que teme perder o poder de barganha para negociar preços
"Uma coisa é certa: toda concentração é nociva ao mercado", disse o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Carlos de Oliveira. Sobre a compra da Perdigão, Oliveira afirmou que alguns pontos 'preocupam'. Pode haver concentração em itens como presunto (as empresas detêm 64,5% do mercado), pratos prontos (91%) e tortas salgadas (92,4%). Por causa desse predomínio das marcas, a aquisição precisaria de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
"Nós nos colocamos à disposição dos órgãos reguladores para acatar as restrições necessárias", disse o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Walter Fontana Filho.
Antonio Carlos Borges, diretor da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, disse que o negócio não geraria um monopólio. 'É um oligopólio', disse, apontando para a importância que pequenos concorrentes passam a assumir em mercados locais.
'No Brasil, esse fenômeno da concentração está muito acentuado, o que não é desejável', disse Borges, com a ressalva de que no caso específico Sadia-Perdigão não haveria risco para o varejo, devido a acordos vigentes entre comerciantes e produtores. 'É preciso ver qual é a intenção por trás, o objetivo estratégico da empresa.'
Exemplos
De acordo com o repórter Ernane Guimarães Neto, que assina a reportagem da Folha, a depender da estratégia da Sadia, os preços ao consumidor podem tomar uma ou outra forma. Apesar de em alguns setores Sadia e Perdigão competirem diretamente, a Sadia tem linhas de produtos com faixas de preço mais elevadas.
Oliveira, da Abras, relembra duas aquisições da Nestlé que tiveram tratamentos diferentes: quando comprou a Garoto, manteve os produtos da controlada competindo com seus produtos originais. No caso da marca de biscoitos Tostines, a multinacional suíça optou por incorporá-los ao nome Nestlé.
"Se ficassem sozinhas" no mercado, Sadia e Perdigão seriam "tentadas" a aumentar as margens de lucro, pondera Luiz Fernando Biasetto, da consultoria Gouvêa de Souza.
Concorrentes
Mas Biasetto aponta duas concorrentes fortes: as multinacionais Cargill, que em 2004 assumiu o controle da Seara, e a Tyson Foods, que --especula-se-- estaria preparando a entrada no mercado brasileiro.
Biasetto discorda da crítica à concentração no mercado: 'É preciso ter companhias com musculatura suficiente para o mercado interno e o externo'.
Além disso, a concorrência já instalada aposta em abocanhar mercado com as mudanças. 'Nem sempre a união de duas empresas resulta em uma participação de mercado que seja a soma de ambas. É uma conta em que 1+1 nem sempre é igual a 2', disse Mario Ceratti Benedetti, diretor da Ceratti.