O PMDB conseguiu, pelas mãos do senador
Renan Calheiros (PMDB-AL), assumir a Presidência da República. Pelo menos por cerca de 10 horas. Ontem, o presidente do Senado, o terceiro na hierarquia de sucessão do governo, subiu a rampa do Planalto para ocupar a cadeira do presidente Lula, que foi à Argentina discutir a nacionalização das reservas de gás e petróleo bolivianos.
Renan aproveitou as poucas horas como presidente em exercício para reunir-se com os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino Maia (PFL-RN), líderes da oposição, no gabinete Lula. Uma cena rara, já que desde a posse do petista, em 2003, apenas integrantes da base aliada tinham passe livre para andar pelo palácio. "Vamos logo, apressa aí antes que o Lula volte", brincou o tucano com o colega pefelista, ao se dirigir ao elevador presidencial.
A iniciativa de Renan, aliado de primeira mão do governo, foi vista como provocação por alguns parlamentares. Isso porque o senador teria se sentido preterido ao saber que o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, procurou o presidente do PMDB, Michel Temer, para propor uma aliança com o PT nas eleições de outubro. Outros entendem que foi um gesto de política de boa vizinhança.
No fim de seu primeiro dia como interino no Planalto, Renan participou da posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Marco Aurélio de Mello. O senador disse que se sentiu à vontade no posto. E, pelo que deixou transparecer, não será fácil a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, se tornar a primeira mulher a assumir a presidência da República no país. "Vou assumir a presidência sempre que houver oportunidade", afirmou.
A posse de Ellen, a quarta na linha da sucessão presidencial, era dada como certa, já que o vice José Alencar e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), também estavam fora do país ontem. A expectativa era de que Renan também se ausentasse para evitar se tornar inelegível para as eleições de outubro. Mas o presidente do Congresso conversou, na quarta-feira, pessoalmente com Lula e anunciou que não disputará nenhum cargo eletivo este ano. O mandato dele vai até 2010. Com isso, Renan também pôs um fim nas especulações de que estaria trabalhando para ser vice na chapa à reeleição de Lula.