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Comportamento
18/11/2025 16:00
Nunca produzimos tanto - e nunca nos sentimos tão esgotados. Vivemos em uma engrenagem que transforma cada minuto em meta, cada gesto em desempenho, cada pausa em culpa. É o retrato perfeito da "sociedade do cansaço", conceito de Byung-Chul Han que descreve com precisão o espírito do nosso tempo.
Somos convocados diariamente a ser gestores de nós mesmos: administradores do relógio, fiscais da produtividade, vigilantes das próprias falhas. Ao contrário das antigas sociedades disciplinares, em que o "dever" vinha de fora, hoje o imperativo vem de dentro.
E, quando falhamos, não responsabilizamos o sistema - responsabilizamos a nós mesmos.
Essa é a lógica da autoexploração: um processo silencioso, quase imperceptível, no qual o algoz e a vítima habitam o mesmo corpo.
No meio dessa avalanche de tarefas, estímulos e expectativas, vamos nos distanciando de tudo que nos humaniza: o silêncio, a pausa, o ócio criativo, o simples direito de existir sem produzir.
Desaprendemos a descansar - e, com isso, desaprendemos a sentir.
A sociedade do desempenho promete autonomia, mas entrega ansiedade. Promete liberdade, mas entrega culpa. Promete sucesso, mas cobra esgotamento.
Romper com esse ciclo não é um gesto de preguiça - é um ato de coragem. Coragem de dizer: "não dou conta", "não sou infinito", "não preciso provar nada hoje". Coragem de se permitir parar.
A pausa, longe de ser fracasso, é um gesto político. É resistência contra uma cultura que idolatra a produtividade e invisibiliza o humano. É no intervalo que a criatividade floresce, que a sensibilidade retorna, que o corpo e a alma conseguem respirar.
Precisamos recuperar o direito ao tempo: tempo que não serve a nenhum propósito utilitário - e, talvez por isso mesmo, sirva para tudo que realmente importa.
Porque, apesar de tentarem nos convencer do contrário, não somos máquinas. Como disse o ditado, "não apresse o rio, ele corre sozinho". Somos jardins. E jardins não florescem na pressa. Para florir, dependem do adubo, da estação, do calor, da chuva, de vários elementos...
Talvez seja hora de desacelerar - não para viver menos, mas para viver melhor. Não para produzir pouco, mas para produzir sentido. Não para abandonar o mundo, mas para reencontrar a nós mesmos.
Quando paramos, o mundo não desmorona. Ele apenas muda de ritmo. E, nesse novo compasso, podemos enfim redescobrir aquilo que fomos perdendo pelo caminho: nossa humanidade.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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