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Marcus Pestana
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Crise política
6/12/2025 8:00
No século XX, tínhamos convicções e princípios sólidos - seja qual fosse a matriz de pensamento de nossa preferência - sobre o horizonte estratégico a perseguir. Não ficou pedra sobre pedra. "Tudo que é sólido desmancha no ar". Socialistas viram sua utopia esfarelar junto com a poeira do Muro de Berlim. Liberais depararam-se com a falta de Estado gerando, em 2008, a maior crise global do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929. Socialdemocratas assistiram o Welfare State encontrar seus limites fiscais.
Restou, a nos alentar, a ideia central da democracia como valor universal. A democracia, com seus traços falhos e defeitos genéticos herdados da matriz humana, ainda assim, com seus freios e contrapesos, com as suas sínteses e consensos progressivos originados do livre jogo político e social, iria construir o mundo melhor possível.
No entanto, a partir da segunda década do século XXI, emergiu o que alguns chamam de populismo autoritário iliberal. Figuras um tanto distantes do perfil de líderes típicos da democracia liberal clássica assumem o poder. A cena começa a ser dominada por personalidades exóticas e fora dos paradigmas tradicionais como Trump, Putin, Orbán, Lukashenko, Netanyahu, Milei. Para quem imaginou um século marcado pela "Pax democrática", onde teríamos a combinação de democracia política e economia de mercado calibrada por uma boa dose de políticas sociais, nada mais frustrante.
Iniciei a leitura de "A Hora dos Predadores" do ítalo-suíço Giuliano da Empoli, autor do clássico "Os Engenheiros do Caos". Em seu novo livro nos alerta sobre as fragilidades da democracia contemporânea; a inércia de líderes democráticos, sobretudo europeus; a hegemonia crescente dos oligarcas das Giants Big Techs e de autocratas carismáticos; a naturalização das guerras e a manipulação como ferramenta da conquista do poder a qualquer custo. A Inteligência Artificial, os ciberataques, o manuseio de dados e a guerra de narrativas, alimentando o autoritarismo e minando a democracia, o diálogo, a cooperação, a diplomacia.
Assisti à primeira temporada de "MUSSOLINI: o filho do século", que retrata o surgimento e a ascensão do fascismo na Itália. É uma ilustração exemplar de como o autoritarismo surge nas brechas deixadas pelo cansaço da sociedade com a falta de capacidade de respostas da democracia para os seus problemas concretos e de entendimento cooperativo entre lideranças democráticas e instituições.
Corta a cena. Brasil, 2025. Governo e Senado mantêm impasse em torno da nomeação do novo ministro do STF. O STF esboça gerar jurisprudência, em abstrato, para regular processos de impeachment de ministros de nossa Suprema Corte, invadindo prerrogativas do Congresso Nacional. Grandes escândalos como o do Banco Master, das fraudes no INSS, da refinaria REFIT e da ALERJ/CV, envolvendo líderes políticos, realimentam a decepção dos eleitores com o sistema. Desidratação das regras fiscais fragiliza as âncoras para o avanço da economia. A um ano das eleições de 2026, o cenário é nebuloso e indefinido. Pesquisas retratam uma sociedade fragmentada e dividida ao meio.
Diante de tudo isso, nem as boas notícias vindas do IBGE sobre a evolução da renda e a diminuição da pobreza, da miséria e da desigualdade nas últimas décadas, conseguem afastar os fantasmas que ameaçam nossa democracia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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