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4/7/2022 | Atualizado às 14:54

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Professora Helena Theodoro na apresentação do Boi Garantido, Festival de Parintins - 2022.  Foto: Widger Frota.

Professora Helena Theodoro na apresentação do Boi Garantido, Festival de Parintins - 2022. Foto: Widger Frota.
Existem momentos em nossas vidas que se tornam inesquecíveis. Para mim, visitar a ilha de Parintins em junho de 2022 se tornou um deles. Foram dias memoráveis na ilha, onde participei na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) da III Jornada Pan-Amazônica de Folkcomunicacão e do Boi Garantido. Conhecer o Prof. Marcos Moura da Ilha de Parintins, ligado ao Instituto Ajuri e ao Boi Garantido aconteceu com uma proposta educacional para quilombos e populações ribeirinhas. Foram cadernos didáticos e vídeos sobre a história dos quilombos e tribos da Amazônia.  Numa parceria muito feliz, o CEAP -Centro de Articulação de Populações Marginalizadas aqui do Rio de janeiro e o Instituto Cultural Ajuri efetivaram a Escola Afro-Amazônica tendo como proponente o Instituto de Desenvolvimento Artístico, Educacional e Cultural Manaus com o apoio do Governo do Estado do Amazonas. O Prof. Marcos me indicou para um encontro na UFAM sobre Jornalismo e manifestações culturais. Foram três dias que possibilitaram a apresentação de sete mesas de professores ligados à comunicação de manifestações populares do Amazonas, Pará, Acre, Bolívia, Colômbia e Venezuela. Discutimos jornalismo em tempos de crise, multi territorialidade e governança dos povos da Amazônia, educação para a cidadania, vozes da Amazônia como resistência e decolonidade. Tivemos várias apresentações culturais do Instituto Ajuri e do Boi Garantido, já que o diretor do curso de jornalismo, Dr. Allan Rodrigues e o diretor do Instituto Ajuri, Prof. Marcos Moura, nele atuam. Analisamos muito a necessidade de diálogo da Universidade com os saberes ancestrais das comunidades pretas e indígenas, além da revisão da história que invisibiliza e distorce os fatos, num autoritarismo exacerbado que reprime as manifestações artísticas populares e que semeia a ideia de que o povo é incapaz de compreender uma decisão complexa, o desqualificando sempre, além de não mostrar a violência que sempre ocorre com esses grupos. No último dia da III jornada acadêmica saímos da UFAM e fomos levados para assistir o ensaio técnico dos Bois  no Bumbódromo de Parintins! A cidade fervilhava de gente de todos os cantos da Amazônia e do país. Muita emoção com pessoas vestidas de Vermelho e branco ou azul e branco. Havia muita movimentação nas ruas e muitas figuras conhecidas da televisão e dos desfiles da Marquês de Sapucaí, como Milton Cunha, Fábio Fabato, Luís Gustavo, equipe do SRZD, Jerônimo da Portela e muitos outros. A lenda do Boi Bumbá, tão presente em todo o país aponta diretamente para o universo mítico da cultura afro-brasileira. Para a fé e liberdade de ser. Nele temos como personagens centrais Pai Francisco e Mãe Catirina, um casal de negros trabalhadores de uma fazenda. Quando Mãe Catirina fica grávida ela tem desejo de comer a língua do boi de estimação do amo. Para saciar o desejo de sua esposa grávida Pai Francisco mata o boi, mas combina sua ressureição com um pajé amigo. Percebendo a morte do boi, o senhor procura Pai Francisco, que chega com o pajé que faz seus rituais e ressuscita o boi para a alegria de todos. O Boi neste auto representa a resistência de descendentes de africanos e de povos originários para a preservação de sua identidade e de seus sonhos, que se revelam no Bumba meu Boi do Maranhão, nos Bois de Parintins, nos Bois de Mamão, enfim em todos os lugares em que se encontrem o povo preto e indígena. Em Parintins temos os bois Garantido e Caprichoso, que dividem a cidade em território Vermelho e território azul. Meu contato com o Boi Garantido vem de muitos anos por conta de sua participação na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, que também usa o Vermelho e branco do orixá Xangô como representação. O Garantido é conhecido como o boi do amor e da fé. Seu boi é branco com um coração Vermelho bordado entre os chifres e também se relaciona a Xangô. Os bois ficaram dois anos sem seu festival por conta da pandemia, sendo que suas alegorias são famosas e seu pessoal atua fazendo muita movimentação em alegorias de escolas de samba do Rio de janeiro e de São Paulo. Neste ano de 2022 o Garantido trouxe como enredo Amazônia do Povo Vermelho. Os bois se apresentam durante três dias, tendo uma imensa participação da plateia que também é avaliada pelos jurados.  Cada dia mostra um aspecto do enredo apresentado, com história, fantasias e alegorias diferentes. Fui convidada a participar do segundo dia, já que no primeiro tiveram como tema Povo Vermelho como Brasa, tratando de suas matrizes indígenas e caboclas, mostrando a luta de resistência do povo Vermelho para não ser visto como obstáculo ao progresso, por ser exatamente o contrário, já que buscam manter a Amazônia protegida. Na segunda noite buscaram trazer a Cabanagem tratando do direito à demarcação de terras,a equidade entre todos os gêneros e etnias, lembrando negros e negras que brincaram de boi em Parintins, fazendo do "bomba" um meio de luta e uma forma de resistência, enfatizando um Brasil indígena , onde vidas negras importam. Mostraram a Cabanagem trazendo uma toada de Gabriel Moraes/Joel Almeida/Naferson Cruz e Rubem Alves com versos como este: Batuques ressoam na luta E libertam o povo da dor Cantos insuflam esperança Que soa num tempo opressor (...) Canto, bato no peito O meu folguedo é garantido É liberdade, é igualdade Amazônia do povo de alma Vermelha Vai pra rua o povo cantar!  A convite do Dr. Allan Rodrigues participei na Revista do Boi Garantido e estive presente nesta segunda noite do Garantido, onde fiquei muito emocionada com a homenagem que me prestaram após falarem da Rainha Nzinga de Angola e das lendárias Xandora e Ticê da tribo tupi-guarani. Representei as mães pretas que o Brasil criou.  Foi um momento muito lindo ser homenageada pelo Boi Garantido como mulher negra ativista e acadêmica, ao lado de uma representante da tradição indígena no Amazonas. Este país foi construído a muitas mãos e etnias. [caption id="attachment_545846" align="alignleft" width="377"] Rio Amazonas e Parintins - sobre esperançar e recriar utopias. Foto: Helena Theodoro, arquivo pessoal.[/caption] No terceiro dia o Boi Garantido trouxe a Utopia Vermelha, acreditando que se pode mudar o mundo com paixão, arte e criatividade, situando que Lindolfo Monteverde , humilde pescador da Baixa São José trouxe  em 1913 a brincadeira do boi para Parintins, que tomou conta da cidade , sendo comparado a Paulo Freire, por conta da transformação do verbo esperar em "esperançar", já que foram atrás das utopias, juntando-se com outros para fazer diferente, resistindo à invisibilidade social, apoiada em suas tradições e afirmando suas identidades. A Utopia Vermelha busca reafirmar o compromisso do fundador do Boi garantido de resistir culturalmente em favor da valorização da diversidade cultural, justiça social e respeito ao meio ambiente. O Garantido não foi o vencedor deste festival de 2022, mas todos comemoram no curral, como chamam a quadra do Garantido, animados pelo Prof. Marcos Moura, seu filho Orlan que foi o Pai Francisco, com o Pajé Paketá e demais membros do Boi, acompanhados pela Batucada do Garantido, louvando a vida e sua capacidade cantar, dançar, produzir alegorias gigantescas e maravilhosas, que resistem, encantam e ilustram suas histórias. Nesses dias vivi um encontro profundo com o povo brasileiro e com minhas ancestralidades, agradecendo a Marcos Moura do Instituto Ajuri que me acolheu em sua residência, que produz um trabalho educacional e musical, já que compõe toadas para o Garantido e que me possibilitou participar da III Jornada da UFAM, de vivenciar o Boi Garantido, além de receber o título de Sócia Benemérita do Instituto Cultural Ajuri, me tornando assim, mais um membro da família Garantido. O boi bumbá representa nossa alma guerreira que resiste, canta sambas e toadas, além de iluminar o território da família Garantido e de todos aqueles que acreditam nos seus e em suas histórias em todo o território brasileiro. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]
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