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Ao situar seu Corpo Terreiro o autor nos permite mergulhar no mundo do candomblé, terreirizando o mundo. Leia neste artigo.

Helena Theodoro

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2/6/2022 | Atualizado às 13:44

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PADE (Projeto em Africanidade na Dança Educação) - Foto Wagner Cria 
Avamunha - ritmo acelerado que marca o início e término das cerimônias.

PADE (Projeto em Africanidade na Dança Educação) - Foto Wagner Cria Avamunha - ritmo acelerado que marca o início e término das cerimônias.
Meu corpo terreiro é o título do livro que o Professor de Dança Xandy  Carvalho, responsável pelo Projeto em  Africanidade na Dança Educação - PADE/UFRJ , realizado após dez anos de pesquisa em danças afroreferenciadas.  Este, também, foi o título de sua dissertação  de Mestrado na Escola de Educação Física e Desportos  onde  tive a honra e o prazer de participar da Banca Examinadora. A UFRJ  se enriquece profundamente com esta  publicação que se apresenta como uma performance dançada na memória pela pedagogia do encontro, sendo suporte da existência, mostrando corporeidade como um atravessamento cultural que  veste, cultural e socialmente o corpo. Xandy  nos fala que o corpo do cotidiano não é o corpo em que nascemos, já que muda, mas preserva informações na memória das diferentes formas de se apresentar.  Os significantes vão aparecendo na medida em que o contexto o solicita.  Sabemos que os dançarinos em geral têm o domínio desse corpo. Quando se trata, no entanto, de dança de tradição afro-brasileira, esse corpo é entendido como fonte de pensamento, sendo o corpo que contém Exú, o mensageiro , que é a palavra de ontem e de amanhã. Como afirma Muniz Sodré ,em seu livro O terreiro e a cidade, o mundo ocidental  trata do tempo e do espaço de forma diferente do pensamento negro. Para a tradição nagô o espaço é fundamental, a territorialidade  forja uma forma de vida, de viver e de pensar. Assim sendo, o autor levou sua dança para seu território de origem, para o terreiro, onde o corpo é controlado pelo espírito, onde o pensamento atravessa o corpo, chegando a outros elementos e outros corpos. Na visão nagô  aparece a lógica do lugar, que se liga ao corpo, ao espaço  e a alegria. Cria, assim, a cultura do outro, pensada também fora da cabeça, por conta de objetos  como búzios,tambores, frutos ou por meio de outros  corpos. No mundo ocidental o corpo não é nada e é controlado pelo espirito. Trata do tempo e do espaço como tempo do progresso, da modernidade, do trem, do avião, da internet. No entanto, para os negros o espaço é fundamental porque valoriza o poder de fazer, de construir, A potência está aí, na dinâmica do fazer no espaço, que caracteriza uma cultura. Para  a comunidade de terreiro o pensamento atravessa o corpo e o toque do tambor  se constitui num núcleo civilizatório que atravessa todo o Brasil e o Caribe. É a valorização do corpo  presente, da formação de gente que precisa de gente para aprender. Você precisa da corporeidade do outro que dá margem a um pensamento que não é só da cabeça, tornando o corpo indispensável para tal. [caption id="attachment_543225" align="aligncenter" width="1024"]Xandy Carvalho dançando com Iansa. Foto Wagner Cria Xandy Carvalho dançando com Iansa. Foto: Wagner Cria[/caption] Xandy  Carvalho nos transporta  ao espaço do terreiro, mostrando como é possível o diálogo entre o terreiro e a cidade, entre a Universidade  e os Saberes Ancestrais. Ao levar seus alunos para um contato direto com o espaço do terreiro e com os saberes da mãe de santo sobre o simbolismo de suas danças e das memórias que nele se encontram, muda nossa maneira de lidar com o conhecimento. Ao situar seu Corpo Terreiro o autor nos permite mergulhar no mundo do candomblé, terreirizando o mundo por meio de um corpo documental que se torna um mapa a ser seguido. Faz assim  uma ponte entre a Universidade e a Comunidade Terreiro, recebendo do solo sagrado a sabedoria dos mais velhos , o vigor dos mais novos e a paciência mais o entendimento daqueles que não podem mais contar no tempo, mas que dançam sob as palhas do Senhor do Meio Dia - Omolu, na festa de Olubajé. Para todos que lidam com os saberes universais, este livro nos ajuda a mergulhar em novos saberes e a olhar com outros olhos a sabedoria presente na oralidade que nos transmite conhecimento inédito em seus orikis  e em seus tambores,  mostrando como os saberes do terreiro são formas de sentir, ser e estar no mundo que permitem ao corpo se ampliar e ganhar novos espaços na Universidade e na sociedade em que vivemos. Este trabalho nos leva a sentir como o pensamento atravessa o corpo através de categorias que formam o terreiro: espaço, corporeidade, educação iniciática, energia de vida. Nos mostra uma cultura de valorização do filho, do outro, de gente. Não tem a cultura do pecado , nem se pauta numa dívida de paraíso. O bom é aqui e agora, numa lógica que se funda na alegria, na valorização do corpo presente e pulsante. Nossa gratidão imensa por essa publicação que nos mostra uma dança que nasce de dentro para fora, ao som do tambor, levando outros corpos a dançar , possibilitando a todos o grande banquete da vida, os movimentando e permitindo o pensar com outros corpos , sempre  em profunda harmonia com o ontem e o amanhã. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].  
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