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Congresso em Foco
15/9/2005 | Atualizado 20/9/2005 às 8:51
Diego Moraes |
A divulgação de um cheque no valor de R$ 7,5 mil endossado a uma secretária do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), roubou a coroa do auto-proclamado "rei do baixo clero". Severino acusou o golpe, não presidiu a sessão que cassou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e pode renunciar ao mandato a qualquer momento. Em seu lugar, comandou os trabalhos o primeiro vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Conforme havia prometido, o empresário Sebastião Augusto Buani entregou à Polícia Federal cópia de um cheque nominal do Bradesco, assinado em 30 de julho de 2002 e sacado pela secretária do deputado, Gabriela Kênia Martins. A revelação tornou insustentável a permanência de Severino à frente da Casa. Além dos partidos de oposição, que já haviam encaminhado representação contra ele ao Conselho de Ética, líderes da base aliada se juntaram ontem ao grupo que defende a cassação do pernambucano. Somadas, as bancadas do PT, do PMDB, do PFL, do PSDB, do PV, do PPS e do PDT têm 340 votos - 83 a mais do que os 257 necessários para a cassação. O quorum contra Severino tende a ser ainda maior, com a adesão de partidos como o PCdoB e o PL, que também compõem o bloco governista. A aparição do cheque, saudado como "prova material do mensalinho", elevou o tom das críticas da oposição e fez a base aliada abandonar o discurso de não endossar as acusações sem provas. Agora, todos estão contra o pepista. "O cheque era a prova que não faltava", afirmou o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA). "Era preciso uma prova consistente. E essa prova veio com o cheque", disse o líder do PMDB, Michel Temer (SP), que orientou o partido a pedir a cassação de Severino. O gesto de Temer foi repetido pelo líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), que justificou a mudança de opinião. "A aparição de uma prova material altera a situação. Na minha opinião, ele deve renunciar", afirmou. Na terça-feira, o partido não assinou a representação contra Severino entregue pela oposição ao Conselho de Ética sob o argumento de que não havia provas contra o pernambucano. "A era Severino acabou", reforçou o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). Nem com Jesus Cristo Apesar disso, o presidente da Câmara reiterou sua posição de que não deixa a Casa em hipótese alguma. "Não renuncio de jeito nenhum", teria dito Severino, segundo relato de Caldas. O deputado alagoano esteve na casa de Severino ontem, que convocou seu "comitê de crise" para definir uma estratégia para salvar o mandato. Além do quarto-secretário da Mesa Diretora da Casa e do advogado José Eduardo Alckmin, o presidente da Câmara recebeu o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que o aconselhou a desistir do mandato. Dinheiro para filho morto Mas, segundo Buani, o cheque apresentado ontem foi assinado para quitar uma das parcelas de R$ 10 mil referentes ao chamado mensalinho, quantia paga mensalmente a Severino Cavalcanti (quando era primeiro-secretário da Casa) para que o restaurante do empresário, o Fiorella, continuasse em funcionamento no 10º andar do anexo 4 da Câmara. O empresário afirmou que o valor do cheque estava abaixo do que era pago normalmente, pois era mês de recesso parlamentar e o movimento do restaurante estava fraco. "Eu disse para o Severino que era todo o dinheiro que eu tinha e pagaria o resto parcelado", relatou. Buani contou que, até que os R$ 10 mil fossem pagos integralmente, o então primeiro-secretário almoçava diariamente no restaurante e sempre aproveitava a oportunidade para pressioná-lo. "Todo dia ele dava uma cutucada: 'cadê o meu dinheiro? Eu tenho meus compromissos', dizia." Até anteontem, o empresário sustentava que o pagamento de mesada a Severino teria começado em 2003. Mas, ao resgatar a cópia do cheque no banco, disse que ficou surpreso: "A história do mensalinho começou antes do que eu me lembrava". Sobrou pra secretária No depoimento, a secretária sustentou a versão de que o dinheiro foi usado para financiar a campanha de Severino Junior. Foi a segunda vez que a secretária falou à PF. No primeiro interrogatório, ela negou que tivesse recebido qualquer quantia de Buani. A Justiça deve indiciar Kênia por falso testemunho. O filho de Severino Cavalcanti morreu vítima de acidente de carro um mês após a assinatura do cheque. Na prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a coordenação da campanha de Severino Junior declarou ter gastado R$ 1 mil. Detalhe: com recursos saídos do próprio bolso do candidato. Ultimato para Severino |
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